LEONARDO VIECELI
FOLHAPRESS
Após a trégua no feriado de Proclamação da República na quarta-feira (15), o consumo instantâneo de energia voltou a subir no Brasil nesta quinta (16), retomando o patamar acima de 100 mil MW (megawatts) no horário de pico. A demanda em alta reflete a onda de calor que atinge o país.
Às 15h03 desta quinta, o consumo instantâneo alcançou 101.297 MW, de acordo com dados atualizados no site do ONS (Operador Nacional do Sistema Elétrico).
A marca se aproximou do recorde de 101.475 MW registrado na tarde de terça (14), véspera do feriado. A primeira vez que a demanda ultrapassou o patamar histórico de 100 mil MW ocorreu na segunda (13).
As altas temperaturas provocam uso adicional de geração de energia em usinas térmicas para o atendimento da demanda em horários de pico.
Como essa é uma fonte mais cara, o acionamento pode gerar repasse para as tarifas de luz nos próximos meses, de acordo com especialistas.
Eles, contudo, avaliam que a quantidade de energia produzida no Brasil está em patamar confortável devido aos níveis atuais dos reservatórios de hidrelétricas e ao desempenho de fontes renováveis como solar e eólica.
“Em relação à quantidade de energia produzida, a gente não tem problema à vista. O que chama atenção é o uso simultâneo”, afirma o consultor Paulo Cunha, da FGV Energia.
“Como tem algumas horas do dia com maior temperatura, há um consumo maior para refrigeração. Isso, sim, traz um estresse adicional para o sistema”, acrescenta.
O ONS prevê a necessidade de geração térmica adicional para atendimento da demanda em momentos de pico em novembro e dezembro.
“A economicidade é sempre o principal critério a ser seguido no acionamento das usinas. O acionamento está se dando para atendimento à ponta de carga respeitando as características técnicas dos equipamentos”, afirmou o ONS.
Na quarta, o consumo de energia havia diminuído para menos de 100 mil MW sob impacto do feriado de Proclamação da República. Tradicionalmente, feriados paralisam empresas e levam pessoas para espaços abertos, o que reduz a demanda por eletricidade.
Como mostrou a Folha de S.Paulo, já é possível perceber impactos pontuais do calor intenso na inflação. Segundo analistas, altas temperaturas nos próximos meses, com a chegada do verão em dezembro, aumentam os riscos para os preços.
Os efeitos da crise do clima podem pressionar itens como alimentos, além da energia elétrica. Até agora, o calor já atingiu a inflação do ar-condicionado.
Em outubro, os preços do aparelho subiram 6,09%, conforme o IPCA (Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo), calculado pelo IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística). Foi a maior alta em três anos, desde outubro de 2020 (10,54%).
De acordo com o IBGE, a carestia pode ser associada à demanda maior em razão do calor e à seca histórica no Amazonas, que dificultou a produção no estado.