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Olhar externo que valoriza o Amazonas

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De uma forte amizade entre um baiano e um italiano nasceu o amor pelo guaraná do Amazonas. Assim é a história do agricultor italiano Luca D’Ambros, 42 anos, e de um dos mais tradicionais produtores de guaraná de Maués, o já falecido José Francisco Marques, conhecido popularmente como “Baiano”.  Vindo da cidade de Milão, na Itália, aos 26 anos em 2002, atualmente D’Ambros é vice-presidente da CoperMaués (Cooperativa Agropecuária dos Produtores de Maués) e é um dos muitos estrangeiros que chegam e que aqui acabam se fixando, constituindo família e trabalhando na valorização das coisas do nosso Estado.

Isso acontece, segundo o  antropólogo da Ufam (Universidade Federal do Amazonas), Gilton Mendes dos Santos, porque os estrangeiros e migrantes acabam por descobrir a riqueza e a realidade sociocultural, ambiental e econômica que o Amazonas têm oferecer. “Justo pelo distanciamento que eles têm, são capazes de ver coisas que, nós amazonenses, não conseguimos ver, uma vez que somos familiarizados ao cotidiano que se configura como ‘natural’ aos nossos olhos”, opina.

Com este olhar diferenciado,  D’Ambros se tornou um dos maiores produtores de guaraná em pó da cidade de Maués. “Aprendi toda a técnica com o meu amigo, desde a plantação, colheita da semente até a venda ao mercado, o que carrego nas mãos e no coração”.  Com a morte do Baiano, Luca adquiriu a propriedade do mestre e continuou as atividades no cultivo, produção e beneficiamento do pó de guaraná para a região e, quiçá, para o mundo.

O italiano conheceu a riqueza de Maués quando veio trabalhar por três anos como voluntário em um projeto realizado pelo Instituto Missionário Pime (Pontifício Instituto das Missões). “Naquela missão trabalhei com as freiras para ajudar os meninos indígenas que eram internos lá. Com o fim do projeto, retornei ao meu país, mas sempre com aquela vontade de voltar, porque já havia em mim um potencial econômico de crescer aqui”, lembra.

Ele conta que ao retornar, primeiro tentou trabalhar no ramo da marcenaria, o que não deu certo. “Foi nessa época que conheci o Baiano e me apaixonei pelo plantio do guaraná. Com ele aprendi muitas coisas sobre o fruto, passando a gerar renda na valorização e na comercialização ao fabricar e revender o guaraná em pó para as empresas de concentrados e pequenos comerciantes”, explica.

O agricultor conta que o primeiro passo foi vender o grão da semente para atravessadores que revendiam para empresas. O negócio cresceu e D’Ambros viu a necessidade de criar um site para facilitar a comercialização. “Hoje produzo e vendo o guaraná em pó nas variações ‘Clássico’ e ‘Selecionado’ por meio do www.guaranademaués.com”, comenta. O guaraná em pó é comercializado a R$ 18,90 o Clássico e R$ 24,90 o Selecionado.  

Além do guaraná em pó, o agricultor ressalta que a cooperativa também trabalha com a plantação e a colheita de frutas e verduras que são compradas por órgãos públicos de educação com a finalidade do uso na merenda escolar. “Através do FPS (Fundo de Promoção Social) do governo do Estado acabamos de montar uma usina para beneficiar o guaraná e vendê-lo com um valor agregado bem melhor do que a da semente em grão”, explica.

A coisa vem dando tão certo que recentemente Luca participou de um salão internacional, o Sirha 2018, principal evento de gastronomia e hotelaria no mundo que este ano foi realizado em São Paulo. “Na feira apresentamos o nosso guaraná que foi bastante elogiado por vários chefs de cozinha que ficaram admirados com o aroma. No evento distribuímos mil copos de refresco do guaraná com limão ou abacaxi”, conta o empreendedor.

D’Ambros finaliza que no mês de março as vendas do guaraná em pó pelo site dobraram e que no início de abril, as vendas irão duplicar, após Maués receber o selo de Indicação Geográfica do Ministério da Agricultura. “Acredito que toda empresa é um organismo vivo. E que esse organismo deve contribuir para o ambiente ao seu redor. Daí a nossa escolha por um cultivo orgânico que segue compromissos rígidos de qualidade em todos os seus aspectos: desde o solo, onde acontece o cultivo, até com as pessoas que participam do processo produtivo”, finalizou.

Esporte e preservação das águas

Na mesma proposta de valorização das coisas do Amazonas, mas na atividade socioambiental, o ativista e esportista piauiense Eisenhower Rebelo Silva, reúne duas vezes por ano uma equipe de SUP (stand up paddle, um tipo de surfe com remo), para participar do projeto Grito D´água a fim de coletar o lixo atirado no igarapé do Tarumã, nas proximidades da Praia Dourada, localizado no bairro Tarumã, zona Oeste de Manaus.

A ideia de valorização da natureza amazônica é antiga, explica Silva. “Sempre me interessei pelo meio ambiente desde que cheguei aqui vindo do Piauí com a minha família, aos oito anos”, comenta.  Ele conta que mais de 50 pessoas estão envolvidas no projeto que chegou a coletar, na última edição, cerca de 18 toneladas de lixo das águas daquela região da cidade. “É muito bom poder fazer parte de um projeto que busca preservar os mananciais dos rios do Amazonas”, afirma.   

Silva ressalta que conheceu o esporte e o trabalho do projeto Grito D´água em 2013 quando passou a frequentar o flutuante Abaré. “Lá tive meu primeiro contato com a modalidade e também com o projeto para a preservação das águas do entorno do Tarumã, pois já me considero um amazonense de coração”, salientou.

“Não sou um instrutor do tipo que tenha cursos e certificados para tal, mas pela vivência e tempo com a qual pratico a modalidade, é natural passar orientações para os amigos, que também contribuem para a coleta dos lixos, tanto na limpeza das águas como na conscientização das pessoas sobre a importância da preservação do meio ambiente” , disse.

Segundo Silva, o SUP é uma prática criada pelos havaianos para os dias em que não haviam ondas para surfar e que encontrou um ambiente ideal no Amazonas. Ele acredita ainda na democratização da modalidade e em mais ações de preservação e valorização da Amazônia. “Acredito que no esporte não cabe pronomes possessivos (meu, nosso, etc), e Manaus tem um dos ambientes mais propícios para a prática desta modalidade, com seus rios igarapés e igapós de águas calmas. Por isso, precisamos de uma natureza limpa e sadia também”, finalizou.

Redação

Jornal mais tradicional do Estado do Amazonas, em atividade desde 1904 de forma contínua.
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