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Óleos essenciais para o mundo

Desde o início do século passado o pau-rosa (Aniba rosaeodora) começou a ser explorado na Amazônia, primeiro na Guiana e depois no Brasil. Por mais de 70 anos a exploração predatória, quando se matava a árvore para a extração do linalol, levou a espécie à extinção em algumas regiões. Felizmente a exploração racional da planta, retirando apenas suas folhas e galhos e deixando que a árvore se restabeleça, fez com que o pau-rosa voltasse a ser um dos produtos amazônicos com alto poder de exportação. Prova disso é a inauguração, na quarta-feira, 6, de uma usina de extração de óleos essenciais da Kaapi Fragrâncias que, depois de oito anos cultivando e pesquisando pau-rosa na região, iniciará sua operação a 176 quilômetros de Manaus, na AM 010 (Manaus/Itacoatiara), na Fazenda Simpatia.

“No início da minha carreira como empresário, tive a oportunidade de exportar um pouco de óleo de pau rosa e aprendi alguma coisa sobre esse mercado. Notei que mesmo com a oferta de óleo essencial diminuindo muito no cenário internacional, o interesse de alguns segmentos se mantinha ativo. Sempre soube que não seria fácil e vi muitos plantios experimentais darem errado. Mas havia um modelo de sucesso em Maués e eu pensei: se eles conseguem, eu também vou conseguir. Assim que encontrei um parceiro interessado e reuni um capital pra arriscar, começamos”, revelou Eduardo Mattoso, um dos idealizadores do projeto e responsável pela Kaapi.

A Kaapi, inicialmente, fará a extração de óleos essenciais de pau-rosa, louro rosa, capim santo e priprioca. Dentro de um sistema de manejo sustentável, que respeita a floresta e a conservação ambiental. Aproximadamente R$ 4 milhões foram investidos na construção da usina, que possui três mil metros quadrados, além de R$ 2 milhões no plantio, em uma área de 17 hectares.

Construção da usina

Aumento da capacidade

“Nos primeiros anos tivemos que aprender na prática como produzir a muda, qual a nutrição adequada e quanto tempo mantê-la em viveiro. E depois, como mantê-la em campo, como tratar o solo, sua necessidade de água, vulnerabilidade a pragas, enfim, uma série de dificuldades que tomaram tempo até serem contornadas”, lembrou.

“À época, não havia material bibliográfico e os trabalhos nos institutos de pesquisa regionais não estavam voltados à geração de conhecimento para a indústria. Tampouco havia conhecimento empírico. Apenas o produtor Zanoni Magaldi, um pioneiro, teve uma experiência de sucesso em Maués. Ele começou há 40 anos e é referência para quase todos os trabalhos acadêmicos sobre cultivo e produção de óleo de pau-rosa plantado”, completou.

Atualmente a Kaapi Fragrâncias conta com cerca de 25 mil árvores com idade entre um e oito anos, além de quatro mil mudas em viveiro. A área plantada é de 17 hectares.

A previsão da empresa é processar 300 toneladas/ano de material vegetal que, considerando um rendimento de 1,5% de óleo, pretende-se produzir 4,5 toneladas do produto quando o plantio atingir a estabilidade.

“Na verdade, esse número é limitado pela capacidade da destilaria. Nossa expectativa é que tenhamos que instalar mais destiladores em dois ou três anos, podendo aumentar essa capacidade em até cinco vezes conforme a oferta de material originário das comunidades parceiras”, adiantou.

O método de extração de óleo das plantas é o mesmo, arraste a vapor, porém, as partes utilizadas são diferentes. Galhos e folhas do pau rosa e do louro rosa; apenas folhas do capim santo, e as raízes da priprioca.

Óleos para o mundo 

A Kaapi já possui uma indústria de fragrâncias em Campinas/SP e produz diversos perfumes com inspiração amazônica. Ingredientes como copaíba e cumaru são itens frequentes nos seus perfumes.

“Esperamos em breve ter criações originais contendo óleo essencial de pau rosa e os outros óleos produzidos em Itacoatiara”, avisou.

O desenvolvimento da indústria química trouxe uma nova configuração ao mercado e a demanda pelo pau rosa caiu muito, mas existe um segmento que busca o produto natural, obtido de forma responsável e está disposto a pagar mais para ter o produto autêntico. O capim santo é uma planta encontrada em vários países e o mercado é muito grande.

“Podemos dizer que é uma commodity quando se trata de óleos essenciais. Certamente há mercado para capim santo, chamado lemongrass internacionalmente. Mas temos um pequeno diferencial olfativo na qualidade do material disponível em Itacoatiara que o torna relativamente único”, disse.

Já o louro rosa e a priprioca, o primeiro é um óleo totalmente novo e ainda que seu perfil olfativo seja muito interessante, não se sabe como será sua aceitação pelos perfumistas e aromaterapeutas. Já a priprioca é um óleo de grande complexidade olfativa, mas que tem um similar muito próximo na Índia chamado de nagarmotha. “Ambos os óleos têm potencial, mas ainda não existe um mercado consolidado”, afirmou.

“Quem se interessar em aprender a cultivar plantas aromáticas em um modelo de agricultura sustentável e ter garantia de venda da sua produção, pode vir conversar conosco”, conclui Eduardo.

Evaldo Ferreira

é repórter do Jornal do Commercio
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