Eu votei na chapa Bolsonaro/Mourão no segundo turno de 2018.
Com tantas dissonâncias nos três poderes do Brasil, apostava, a partir da experiência de um comandante com vivência militar na vice-presidência, na importância de experimentarmos algo que trouxesse de volta o respeito à Constituição Federal e às instituições. As instituições militares são referências de gestão com disciplina e capacidade operacional.
Apostava numa solução nacional semelhante quando seu computador entra em looping – fica tentando e, por horas, não consegue resolver uma tarefa –, e, como você está escrevendo uma coisa importante e não quer perder, só lhe resta uma solução: desligar e reiniciar o sistema em ‘modo de segurança’.
Ninguém pode dizer que aquele processo eleitoral foi tranquilo, nenhum é.
Atribuir ao marketing político e estratégias partidárias a ilegitimidade da chapa eleita, me parece uma “forçação” de barra desnecessária, mais uma judicialização num país tocado por processos em detrimento do respeito às normativas.
A entrevista do antropólogo e professor da Universidade Federal de São Carlos Piero Leiner, dada à BBC News Brasil, foi muito esclarecedora quanto ao modus operandi do governo Bolsonaro. A atual escalada de conflito político não é acidental e faz parte do projeto dos militares para o país, que busca a refundação do Estado brasileiro. Nele, Bolsonaro tem o papel de “causar a explosão, para possibilitar a ação reparadora dos bombeiros”.
Diante das invasões de atribuições entre poderes, os militares, taticamente, vão buscando conciliar conflitos, afinal, nas palavras de Leiner, “não é uma questão de se os militares aprovam, ou não, o governo: eles são o governo”.
Neste tema, lembrei-me da palestra sobre Segurança Nacional na Amazônia do General Eduardo Dias da Costa Villas Bôas proferida em 2012 no Instituto Nacional de Pesquisas Amazônicas – INPA, dentro dos trabalhos do Grupo de Estudos Estratégicos Amazônicos – GEEA. Em um dos seus slides, que trazia as funções de defesa das Forças Armadas, questionei ao amigo palestrante se não seria melhor substituir a palavra governo por Estado.
Ambos concordamos que, constitucionalmente, caberia às Forças Armadas assegurar a defesa dos interesses do Estado, e não de governos.
Lamentavelmente, ao radicalismo civil do ex-deputado federal Jair Bolsonaro, hoje presidente da República do Brasil, juntaram-se fundamentalistas e seus discursos exóticos e/ou surreais, reprovados e abandonados na história do século XX, além de um juiz político que operava a Justiça ‘com as próprias mãos’ e interesses difusos.
Os resultados estão postos: governam como se os fins justificassem os meios, alheios às desigualdades regionais, sem rumo, ou projeto de país.
Talvez, a dose tática da ‘droga bolsonariana’ já esteja acima da receita necessária ao paciente, a exemplo da pirotecnia vivenciada em Brasília, na noite de sábado de Santo Antônio (13).
Já estamos morrendo de overdose: sem credibilidade interna e internacional, perdemos competitividade e já ganhamos a segunda colocação de vítimas da pandemia da Covid-19.
No último dia 11 de junho, vimos o pedido de desculpas do chefe do Estado Maior das Forças Armadas dos Estados Unidos, Mark Milley, traduzir em palavras e gesto, a felicidade de uma Nação onde, existem problemas, mas se busca, no respeito dos poderes e instituições, conciliar, resolver e pacificar conflitos gerados pelo presidente ianque.
Cabe a mesma reflexão do ato do comandante norte-americano aos nossos militares no Governo.
O ‘silêncio militar dos inocentes’, frente ao que, na Segunda Guerra Mundial, as Forças Armadas defenderam como interesses do Brasil na Itália, pode representar que a vigente estratégia no ‘Brasil, Pátria Amada’ seja, na realidade, uma forma velada e ideológica de supremacia militar.
Realmente, espero que isso não se confirme verdade.
Mais de 57 milhões de brasileiros não elegeram a Chapa para uma intervenção militar com Bolsonaro no poder.
Os atos nas ruas cada vez mais esvaziados, expressam que somos um povo que escolhe a paz, ao invés da guerra; que somos pela vida e respeitamos o luto; e, cansados e desiguais, continuamos frustrados com nossas Instituições, com a Corte e seus privilégios, e com nosso presidente da República e seu programa de governo.
A Constituição prevê estratégias que nos permitem, no meio do caminho, avaliar e substituir representações incompetentes.
Diante da falência do presidencialismo de coalisão, a nossa sorte é que não precisamos de um novo golpe militar e nem esperar 2022. Apenas, que o Congresso Nacional analise e aprove o mérito.
Qual será o papel do Congresso Nacional?
*Daniel Borges Nava é Geólogo, Analista Ambiental e Professor Doutor em Ciências Ambientais e Sustentabilidade na Amazônia.