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O triste silêncio das bandas de Carnaval

 As festas de Carnaval são um forte segmento para as bandas que tocam frevos e marchinhas, mas há dois anos seus instrumentos silenciaram

Evaldo Ferreira

 @evaldo.am

Com a não realização das festas de Carnaval pelo segundo ano consecutivo, as bandas de marchinhas e frevos também silenciaram seus instrumentos. Este ano, porém, com a reabertura parcial dos eventos, os instrumentistas de Manaus se animam não para as festas de rua, que ainda não acontecerão, mas para as festas privês, direcionadas para um pequeno público, em casas e condomínios de endinheirados.

Márcio Leal aprendeu a tocar trombone em 1994, na banda da ETFA (Escola Técnica Federal do Amazonas) e, desde então, resolveu ser músico.

“Em 2008 desenvolvi um projeto de aulas de música no Centro Educacional Arthur Virgílio Filho, no Santa Etelvina, visando reduzir a violência entre os jovens, a evasão escolar e a venda e consumo de drogas. Ali mesmo idealizei a banda ‘Filhos da Floresta’. A ideia original era formar uma orquestra de sopro que tocasse do erudito ao popular”, contou Márcio Leal.

Assim que os alunos foram aprendendo a tocar os instrumentos, Márcio viu que era hora de ganhar algum dinheiro já que seu projeto voluntário se mantinha com recursos próprios e ajuda de amigos.

“Fomos contratados para tocar no aeroporto Eduardo Gomes recepcionando os turistas que chegavam. Um dia, no Carnaval de 2010, a esposa de um oficial da PM viu nossa apresentação e nos contratou para tocar na casa dela na primeira apresentação privê carnavalesca da ‘Filhos da Floresta’. Ela também abriu as portas para a banda nos apresentando para outros amigos dela, que acabaram nos contratando”, recordou.

Três festas num dia

Desde então a ‘Filhos da Floresta’ se especializou em festas privês.

“Não só em festas privês, mas em qualquer evento carnavalesco, bandas, blocos, casas de shows têm nos contratado todos esses anos. Em 2017 criei a Associação Musical Filhos da Floresta”, contou.

“Uma coisa que fizemos, em 2017, e que se tornou um sucesso com a imprensa divulgando aconteceu no Galo de Manaus. Eles nos contrataram para animar o bloco e tocamos marchinhas e alguns frevos, pois ainda conhecíamos poucos. Levamos 25 músicos e tocamos no meio do povo, como geralmente as bandas não fazem, e isso agitou ainda mais as pessoas”, completou.

Até hoje Márcio dá aulas de instrumentos de sopro e percussão e se orgulha de muitos dos seus alunos terem se tornado músicos de outras bandas de Carnaval.

“Sei de uns que estão na ‘Metais de Olinda’ e o Cristóvão criou a própria banda, a ‘Manaós’, mas existem várias outras bandas com ex-alunos meus, o que muito me orgulha. E eu não paro de formar novos músicos”, destacou.

“Essa época de Carnaval, menos 2020 e 2021, o pessoal forma bandas e corre atrás de trabalho, mas nos últimos tempos eles perceberam que é um mercado promissor e passaram a dar nomes para as bandas. Músico é o que não falta. As bandas costumam ter oito, dez e até 25 integrantes. Depende do tamanho do evento”, lembrou.

Depois de dois anos sem Carnaval, Márcio torce para que este ano as coisas comecem a voltar ao normal, ao menos com as festas privês.

“Como são privês, ninguém ouve falar delas, mas fazemos várias. Nos bons tempos chegávamos a realizar 20 a 25 destas festas na época do Carnaval. Algumas vezes, três num dia. Nos condomínios, são pessoas que não querem ir a festas com muita gente, nas ruas. Nas casas, são pessoas com mais idade, que gostam de Carnaval, mas não tem mais o pique da juventude, então reúnem os amigos para lembrar dos bons tempos em que brincavam”, falou.

Apostando nas privês

Cristovão Rodrigues foi aluno de Márcio entre 2011 e 2012, quando tinha 17 e 18 anos. Aprendeu trombone, como o mestre, e logo que acabou o curso já começou a dar aulas de flauta doce para as crianças de uma escola. Depois fez curso de extensão na UEA e estudou durante quatro anos no Liceu de Artes e Ofícios Cláudio Santoro. Hoje toca vários instrumentos de sopro e continua a dar aulas de música no CMPM IV, CMPM V e na escola Edinir Telles Guimarães, além de auxiliar alunos de outras escolas até de municípios vizinhos.

“Em 2018 resolvi criar a ‘Manaós’. Tocava em outras bandas, mas resolvi criar a minha própria. Tocamos de tudo, mas o forte é o Carnaval. A banda é formada por oito amigos músicos, mas se eu precisar de uma banda maior, o que mais tem em Manaus é instrumentista de sopro. É só chamar”, afirmou.

A ‘Manaós’ estreou no Carnaval de 2018 e fez a festa em 2019, mas aí veio a pandemia e o silêncio.

“Ainda fizemos uma festa, em 2020, mas aí tudo fechou. Também tocamos em festas privês e é nelas que estou apostando para este ano. Apesar de as pessoas ainda continuarem receosas com a pandemia, acredito que como tudo está sendo bem mais ameno do que no ano passado, penso que todos querem é se divertir e esquecer um pouco daqueles momentos tristes”, concluiu.           

Quem quiser contratar a:

– Filhos da Floresta: 9 9981-8685

– Manaós, 9 8492-0926, @bandamanaos.

Lílian Araújo

É Jornalista, Artista, Gestora de TI, colunista do JC e editora do Jornal do Commercio
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