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“O teatro vive do aplauso do público”, diz Tércio Silva

“O teatro vive do aplauso do público”, diz o cenógrafo Tércio Silva

Dia 19 de setembro é o Dia Nacional do Teatro, data que deveria estar sendo comemorada com peças pelos teatros do país. Mas a pandemia do coronavírus não deixou. Nessa entrevista ao Jornal do Commercio, Tércio Silva, cenógrafo, diretor, produtor cultural e presidente da Fetam (Federação de Teatro do Amazonas) falou sobre a cena teatral no Estado. Há 20 anos, Técio atua nos palcos do Amazonas, em produções de eventos e montagem de espetáculos e recentemente trabalhou na produção do filme ‘Cidade Ilhada’, de Milton Hatoum com direção de Sérgio Machado e produção da Gullane Filmes.   

Jornal do Commercio: Há motivos para se comemorar esse Dia Nacional do Teatro? 

Tércio Silva: Sempre há motivos para comemorar. O teatro é a capacidade de contar o acontecido por meio da imperfeição de nossa memória. Se mantém fundamental para o artista, que segue em sua busca de renovação dos modos de contar histórias ao dar igual ênfase à forma e ao conteúdo de dramaturgias híbridas, e procurar meios de seguir criando novas dimensões na mente dos espectadores. Vale ressaltar, neste dia, a importância da história do teatro amazonense, com uma cena viva e pulsante de artistas comprometidos com o seu ofício.

JC: Atualmente a Fetam reúne quantos grupos de teatro e quantos atores? 

TS: A Fetam é uma das federações mais antigas do país, com mais de 30 anos de atuação. Muitas pessoas não conseguem entender a dimensão dessa história. É importante esse resgate da história do teatro amazonense, e a Fetam sempre esteve junto de grandes conquista para os artistas do Estado. Atualmente temos um quadro de associados de 400 artistas. Alguns atuantes, outros nem tanto. Os grupos e artistas locais seguem produzindo e se reinventando a todo vapor.

JC: Os recursos da Lei Aldir Blanc estão ajudando quantos profissionais do teatro em Manaus? 

TS: A Lei Aldir Blanc ainda segue em processo. Ela foi pensada e elaborada às pressas. Esse processo de repasse é mais lento, há uma burocracia em torno de editais. A expectativa dos artistas amazonenses é que, de fato, o repasse seja transparente e democrático. A paralisação do nosso setor trouxe muitos transtornos. A Aldir Blanc é uma injeção de ânimo para a retomada da nossa cadeia produtiva. 

JC: De alguma forma recursos da Lei Rouanet chegaram a patrocinar alguma peça de teatro no Amazonas? 

TS: A Lei de Incentivo à Cultura, que substituiu a finada Lei Rouanet, precisa ser repensada pelos gestores culturais. A Região Norte sempre é esquecida dentro desses debates políticos. Acho que tivemos um avanço com o ministro Gilberto Gil, mas desde então só estamos regredindo. A Lei de Incentivo à Cultura se tornou para as empresas, uma forma de marketing, que não beneficia artistas com pouca visibilidade. As empresas querem investir em projetos que tenham um retorno de mídia rápido, o patrocínio não é investido pela relevância do projeto. Geralmente esses recursos vão para os projetos de grande porte, que por si só conseguem se manter. O que prejudica ainda mais os artistas do Amazonas é o fato de os incentivos fiscais gerados pela Zona Franca reforçarem o desinteresse das empresas de investirem em projetos culturais do nosso Estado.

JC: Algum grupo de teatro filiado à Fetam já se beneficiou com a Lei de Incentivo à Cultura, ou mesmo pela ex-Lei Rouanet?

TS: Muitos artistas e grupos de teatro têm conseguido aprovar os seus projetos dentro tanto da Rouanet quanto da de Incentivo à Cultura, mas não conseguem o patrocínio, devido aos fatos citados antes, e acabam perdendo os prazos. 

JC: Quando você acha que a situação da arte teatral voltará à normalidade? Será ainda este ano?

TS: É impossível pensar em uma retomada sem a vacina para a covid-19. Não podemos banalizar as mortes. Não podemos fazer um ‘novo’ e esquecer do que vivemos nesses últimos meses. Aqui estamos nós, firmes e fortes, lutando dia após dia, e enfrentando a pandemia, a insanidade, com coragem e firmeza. 

JC: Que peça teatral tem tudo a ver com essa situação de pandemia que nós e o mundo vivemos no momento?

TS: Uma das maiores funções do teatro é revitalizar a mitologia, transmutá-la, exaltá-la. O artista com sua obra, reflete o seu tempo. Há muitas tragédias teatrais que, com certeza, fazem a gente refletir esse momento. Eu queria finalizar essa entrevista com um apelo aos leitores do Jornal do Commercio dizendo que o teatro amazonense é vivo e produtivo. Ele se faz presente na cena local há décadas. Nossa retomada será breve, e esperamos que vocês retornem com a gente. Precisamos valorizar mais o artista local, seus trabalhos, isso pode ser feito de várias formas, é indo ao teatro, é divulgando pelos vários meios de comunicação. O teatro só existe quando há espectadores. O teatro vive do aplauso do público.

Evaldo Ferreira

é repórter do Jornal do Commercio
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