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O preço da gasolina e a reforma tributária

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Está pronto para ser votado na Comissão de Fiscalização e Controle o Projeto de Lei 990/2019, que estabelece o dever de o fornecedor informar o valor dos tributos incidentes sobre os produtos e serviços ao consumidor. A proposta do senador Randolfe Rodrigues altera o Código de Defesa do Consumidor para determinar que oferta e apresentação de produtos ou serviços apontem o preço sem o valor dos tributos embutidos (ICMS, IPI, Pis, Cofins, Cide, ISS), evidenciando assim na etiqueta o que é produto, o que é imposto e o valor total a ser pago. Tal informação é essencial para que o consumidor possa enxergar sua contribuição para o funcionamento dos serviços públicos, coisa que já acontece nos países membros da OCDE. Fonte: Agência Senado (27/01/2020).

A normatização brasileira em vigor obriga o comerciante a vender imposto como se fosse produto. Isso ocorre porque as etiquetas de preço não separam uma coisa da outra e assim a população em geral não sente na pele o tamanho da punhalada todas as vezes que gasta seu parco dinheirinho. O senador defende a ideia de que a explicitação da carga tributária estimulará o hábito de exigir nota fiscal para que o pacote de impostos pago seja de fato repassado ao erário.

Por exemplo, o Instituto Brasileiro de Planejamento e Tributação (IBPT) aponta a carga de 56% de tributos embutidos no preço da gasolina, significando assim que numa conta de R$ 100, somente R$ 44 é gasolina; o restante de R$ 56 é puro imposto. Fazendo uma comparação percentual descobrimos que a caga tributária não é de 56% e sim, de 127%. Essa pequena amostra revela a grande malandragem do sistema informativo das cargas tributárias dos produtos que consumimos. A tática ardilosa da dupla dinâmica Sefaz Receita Federal consiste em juntar produto com imposto e depois fazer uma relação percentual entre os dois, enquanto que nos países desenvolvidos essa relação percentual é de um, separado do outro. A proposta do Senador Randolfe visa exatamente corrigir essa deformação do nosso sistema ao propor que se separe produto da sua respectiva carga tributária.

O Projeto de Lei 990/2019 encerra uma força titânica capaz de promover a verdadeira reforma tributária porque o consumidor passará a exigir racionalidade na tributação indireta. O consumidor ficará possesso de raiva quando descobrir que o videogame é taxado a 257%. Ou então quando souber que perfume paga 376% de impostos. Ou seja, não há justificativa nenhuma para taxações tão insanas. O lado mais sombrio desse modelo extorsivo está na taxação de alimentos que em muitos casos passa dos 100%, coisa absolutamente impensável nos EUA que não tributam alimentos por considerarem um pecado mortal. Já, no Brasil, pode tudo. Mesmo porque, não existe pecado do lado de baixo do equador.

Quando toda a nação brasileira se insurgir contra o modelo extorsivo de tributação indireta, o poder público será obrigado a migrar para o modelo progressivo. Isto é, a saída para evitar uma guerra civil será, finalmente, exigir que o rico pague imposto. Um brilhante trabalho da professora Maria Helena Zockun (USP) aponta que as rendas mais altas pagam apenas 7% de imposto de renda. Isso é fruto de manobras tecno jurídicas que exploram o propositadamente caótico ambiente legal brasileiro. A causa principal desse modelo distorcido está na isenção dos dividendos, cujos defensores do patronato se apoiam na carga de 34% de IR/CS para justificar o dinheiro limpinho e integral que entra nos bolsos dos acionistas. Ocorre que uma minoria efetivamente paga os 34% porque os regimes do Simples Nacional e do Lucro Presumido arcam com um peso muito menor. E as grandes empresas beneficiárias de incentivos fiscais também não pagam 34%. As empresas do Polo Industrial de Manaus pagam somente metade dessa carga (redução IR 75% SUDAM). É bom lembrar que benefícios fiscais existem no país inteiro; não somente em Manaus.

A verdadeira reforma tributária deve partir da massa populacional e não dos burocratas que venderam suas almas para as corporações de grosso calibre. O movimento do Imposto Único e outras agremiações estão armados até os dentes para garantir que o consumo continue abastecendo quase que totalmente o erário. O problema é que o povão está abrindo os olhos e a confusão dos preços da gasolina vem contribuindo muito para o despertar de consciências anestesiadas por anos de ignorância e exploração. Curta e siga @doutorimposto

*Reginaldo de Oliveira é consultor empresarial, palestrante, professor do ensino superior e especialista em capacitação profissional nas áreas de ICMS Básico e ICMS Substituição Tributária.

Reginaldo Oliveira

é consultor empresarial, palestrante, professor do ensino superior e especialista em capacitação profissional nas áreas de ICMS Básico e ICMS Substituição Tributária
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