Pesquisar
Close this search box.

O Mindu, os presidiários e o ministério

Por Alfredo Lopes(*) BrasilAmazoniaAgora Coluna Follow-up 06.04.21 (**) 

A limpeza do Igarapé do Mindu, iniciada às vésperas do recente Dia Mundial da Água, tinha tudo para ser apenas um anúncio institucional sobre a harmonia entre a natureza, a cultura e a nova gestão municipal, para celebrar o bem natural mais precioso do ponto de vista da humanidade em todos os tempos: a Água.  Por isso, ainda dá tempo de reconhecer a precipitação de meu comentário no ensaio Igarapé do Mindu, retrato dramático da civilização Manaó. “Neste fim-de-semana, (20 e 21 de março) uma Operação Limpeza deu uma penteada no deplorável senhor Mindu, para levá-lo ao festejo fúnebre do descaso coletivo e habitual.” Estava enganando. Não foi uma penteada. Muito pelo contrário. Dá gosto de ver – da janela de memórias de nossa infância – o lazer que o Mindu, por tantas décadas, propiciou. É prazeroso deixar de ver no curso d’água aquela montanha de lixo de toda espécie, especialmente da omissão atávica de uma cidade que fez de seus últimos Planos Diretores o próprio retrato da figuração. Nunca é tarde porém, mobilizar a tribo para a recuperação paisagística do Balneário do Parque Dez de Novembro, “a maior piscina natural do Norte” construída em 1940. Assim era a relação deliciosa entre igarapés do Mindu e a tribo dos Manaó.

Vigor e ampliação 

O Igarapé do Mindu, vamos acreditar, começa a  ensaiar sua liberdade e vaidade de permanecer saudoso no memorial de todos nós que havíamos nascido nos anos 50, testemunhas do glamour e encanto que sua paisagem oferecia. Vale dar muita ênfase à colaboração efetiva dos presidiários de Manaus, que alcançaram no propósito do prefeito de Manaus, David Almeida, uma experiência única que lhes valerá por toda a vida. Até aqui a cidade agradece e precisaria integrar essa mutirão de proteção da vida. É preciso aplaudir o fato, acompanhar a sequência das ações, interagir em nosso cotidiano com todos que entenderam o alcance da iniciativa. Dar-lhe vigor e ampliação. Quantos igarapés agonizam em Manaus, doentes e adoecendo seus usuários que, por razões difusas, se divorciaram da vida que os cursos d’água representam.

Falta o projeto 

Em mais um Diálogos Amazônicos, ocorrido nesta segunda-feira, 05 de abril, Márcio Holland e Daniel Vargas, pela FGV SP, com apoio das entidades do Polo Industrial de Manaus, o ministro do Meio Ambiente, Ricardo Sales, em debate com o presidente do CIEAM, Wilson Périco, fez um retrato da civilização predatória que o mundo representa e reconheceu que a Amazônia precisa mais do que recebe, tanto em termos de recursos, como em gestão de de suas potencialidades. Reconheceu, também, que o governo não foi capaz de cuidar da floresta, mas que toparia fazê-lo se tivesse recursos compensatórios. Quem sabe até devolveria para a região parte a riqueza equivocadamente confiscada numa proporção, confirmada pelo seu interlocutor de debate, de quase quatro vezes mais do que recebe do Polo Industrial de Manaus nas trocas constitucionais. Nas contas do ministro, o Brasil produz, em valores dos green-bounds europeus, Us$ 294 bilhões de serviços ambientais. 2/3 desse valor é Amazônia. E na Amazônia, a economia vigente em Manaus, a ZFM, nosso programa de redução das desigualdades regionais, responde pela conservação de mais de 95% da cobertura vegetal original. Que vantagem Maria leva, no caso, o Polo Industrial de Manaus e os deploráveis IDHs da região? Faltou reconhecer que o país ainda nos deve um projeto de desenvolvimento com sustentabilidade de verdade. Precisamos conversar mais, Sr. Ministro! 

“Decifra-me ou te devoro”

Assim como muitos rios da Amazônia, o Brasil lastima  a destruição natural dos seus igarapés, como os “rios” Tietê do Pinheiros, que banham a capital paulista, e sabe da gestão laissez-faire do poder público, que se reflete na indiferença do tecido social. E com toda riqueza paulista, ninguém logrou tirá-los da UTI até hoje. Se as leis da preservação foram mal feitas não podemos compactuar com os malfeitos da civilização. Apenas precisamos mobilizar a Ciência antes de fazer leis nessa relação natureza e cultura, decisiva para a Amazônia e para a Humanidade. Vamos começar, e logo, uma  epopeia pedagógica pela infância e com, as crianças, conversar sobre essa revolução de costumes. Fazermos vista grossa com os delitos para justificar oportunidades é virar as costas para a depredação. E quando se trata de Amazônia, a meia verdade é muito mais grave do que a mentira. O rio Tapajós e sua fauna aquática estão contaminados por toneladas de mercúrio do garimpo ilegal, condenando a população a danos mortais de saúde. O mesmo se aplica ao Madeira e à bacia do rio Negro, pondo em risco o patrimônio natural e humano do país. Se queremos equilibrar o bem ambiental temos que atribui-lhe um papel socioeconômico, permanente e sustentável. Nunca no padrão predatório desta civilização. É irônico, simbólico e enigmático que foi preciso mobilizar a população carcerária de Manaus para ensaiar a libertação do Igarapé do Mindu, entretanto,  não podemos aceitar a inconsequência ambiental como premissa para recomposição do Brasil. Como dizia a esfinge de Tebas, “…decifra-me ou te devoro!!!

(*) Alfredo é editor-geral do portal Brasil Amazônia agora, consultor do Centro da Indústria do estado do Amazonas e responsável pela Coluna Follow up(**)  publicada às quartas, quintas e sextas feiras.
Foto/Destaque: Divulgação

Cieam

A missão e fortalecer, integrar e promover o desenvolvimento da Indústria do Estado do Amazonas, assegurando a sua competitividade
Compartilhe:​

Qual sua opinião? Deixe seu comentário

Notícias Recentes

Pesquisar