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O invisível salta aos olhos

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Nessas últimas semanas a temática Amazônica foi sem dúvida a linha de frente em praticamente todos meios de comunicação e informação. No mundo muitos veículos internacionais de imprensa deram destaque para o aumento do número de focos de incêndios detectados neste bioma, e celebridades nacionais e  internacionais usaram suas redes sociais para fazer campanha pela preservação, além de manifestações em frente de embaixadas brasileiras, mundo a fora e em nível de Brasil também.

Confesso que tive a impressão que o Norte do Brasil como um todo, ficou um pouco silencioso, melhor dizendo apenas reativo. Será por estarmos já acostumados: (a) com esse cenário praticamente todos os anos? (b) pelo fato de sabermos que os municípios que mais desmatam são os mesmos há muito tempo? (c) pelo fato de sabermos que existe uma lógica e um vigor econômico que alimenta o desmatamento e o comércio ilegal de madeira, grilagem e as consequentes queimadas a posteriori, bem como os incêndios florestais? (d) pelo fato de sabermos das limitações impostas para a eficiência do comando e controle em áreas gigantescas?

Certamente que muitas outras perguntas poderiam ser adicionadas a estas apresentadas acima, e talvez precisemos reavaliar tantas outras coisas.

Bem, nesses dias de ‘fervor global’ lembrei de um grande autor, o Prof. Boaventura Santos e a sua clássica reflexão: “O pensamento moderno ocidental é um pensamento abissal, consiste num sistema de distinções visíveis e invisíveis”, onde guardada as proporções dividem a realidade social em dois universos distintos. Foi exatamente assim que assisti e ouvi depoimentos em torno das queimadas/incêndios na Amazônia, da histeria passando por profundos equívocos e ao bom senso quanto a real preocupação com a Amazônia e a necessidade de ações concretas.

Por falar em ações concretas, ressalto que o resultado da equação que leva a degradação ambiental e tudo que estamos assistindo e lendo nos últimos dias, não vem incorporando em escala Amazônica muitas iniciativas positivas e de sucesso, que diminuiria o número de focos de calor, que possibilita e estimula a reposição florestal, a geração de renda, a incorporação de instrumentos econômicos em favor da floresta, o conhecimento tradicional e sobretudo a incorporação de ciência e tecnologia em torno do desafio da Bioeconomia.

Talvez seja esta a oportunidade que os amazônidas precisam compreender. A humanidade está disposta a colaborar sobre isso, mas precisamos desprender-nos da visão tradicionalista de colonizado e atribuir altruísmo na compreensão das experiências que o mundo moderno pode favorecer por meio dos mecanismos de economia compartilhada.

Como exemplo, recentemente, fui solicitado para contribuir sobre um projeto de modernização do Centro de Sementes Florestais do Amazonas (CSNAM), ligado à Universidade Federal do Amazonas, para transformá-lo no Banco de Sementes Florestais da Amazônia e alavancá-lo em principal fornecedor de sementes florestais na região Amazônica.

A inovação desse modelo é que será implementado a partir da arrecadação proveniente de uma campanha crowdfunding para impulsionar as reformas no atual prédio, construir um sistema de gerenciamento da cadeia de valor de sementes florestais, bem como estabelecer a utilização de tecnologia Peer to Peer para criar convergências de interesse sobre a restauração florestal, enfim, são iniciativas que podem inspirar e tornar visível tantas outras.

Esperemos que no Dia da Amazônia, ou seja em 05 de Setembro e no resto do ano, façamos nossa parte em entender pelo menos o que é necessário para conservar e preservar todo esse gigantesco patrimônio biológico, responsável pelo equilíbrio de umidade no planeta e biodiversidade para qualidade de vida de muitas pessoas, e que, a lição aprendida no contexto geopolítico internacional em torno da Amazônia gere boas oportunidades para quem de fato vive por esses lados, e ressalto que entendo que esse é o caminho da visibilidade positiva, provavelmente o que muitas das pessoas que residem nessa imensa Amazônia acreditam e querem.

Sérgio Gonçalves

é doutor em Ciências do Ambiente / Economia Ambiental – Universidade Federal do Amazonas
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