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O grito da Vila da Barra

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Com a garra e a coragem de uma onça, seu animal símbolo, a escola de samba Vila da Barra promete um desfile digno de se manter entre as escolas do Grupo Especial, ainda que seja a última a desfilar, às 5h20 da manhã de domingo (11), e das oito grandes, seja a menos experiente na pista do sambódromo.
“No papel a Vila da Barra existe desde 21 de maio de 1995, quando foi fundada, mas seu primeiro desfile só aconteceu treze anos depois, em 2008, pelo Grupo de Acesso C. Até então tínhamos um grupo de pagode que foi crescendo e, quando vimos, já dava pra formar a escola”, lembrou Denise Costa, secretária executiva, diretora das baianas e uma das fundadoras da Vila da Barra.

“Nascemos aqui na Compensa, na rua da Indústria, e a escola demorou a surgir porque o bairro não tem tradição no samba. O nome Vila da Barra é uma homenagem a Manaus, que um dia se chamou Vila de São José da Barra”, contou.

A Vila da Barra representa bem a população que vive na Compensa (quarto bairro mais populoso de Manaus), pouco mais de 75 mil pessoas (censo do IBGE de 2010). Uma população que mesmo enfrentando as inúmeras dificuldades do dia a dia, nunca desiste. Assim como o bairro surgiu numa grande invasão, no final da década de 1960, a sede da Vila da Barra também foi, não invadida, mas ocupada, pela escola de samba, num terreno na avenida Brasil, a principal do bairro.

“Já solicitamos ao Governo do Estado a doação do terreno para a escola, mas até agora ninguém se interessou em regularizar a documentação, então vamos ficando por aqui”, falou Apollo Ferreira, presidente da Vila da Barra.

No galpão, cercado por muros pintados nas cores azul e amarelo, e coberto com telhas de amianto, sob o calor amazônico, cerca de 25 aderecistas, homens e mulheres, jovens e pessoas de mais idade, se desdobram finalizando as fantasias para o grande desfile de domingo. “São todos colaboradores, que gostam da escola e vêm aqui dar um pouco do seu trabalho para que a representante da Compensa faça bonito no sambódromo, como fez em 2009, 2011, 2014, 2015 e 2016. Nesse último ano ascendemos ao Grupo Especial”, disse.

Dinheiro do próprio bolso
Em 2017 a Vila da Barra finalmente conseguiu desfilar entre as grandes, defendendo o enredo ‘Do proibido ao sagrado, com a Vila desfrute o sabor do pecado’ e ficou em sétimo lugar o que a habilitou a, nesse ano, continuar no Grupo Especial, agora defendendo o enredo ‘O Grito’. “Mostraremos todos os tipos de grito, principalmente dois bem antigos, mas sempre atuais, contra o preconceito racial e de gênero. Até o Grito do Ipiranga será lembrado, com a bateria fantasiada dos soldados de D. Pedro 1º quando ele deu o grito de independência do Brasil”, adiantou Denise.

“Estamos há um mês trabalhando, mas não é fácil. Recebemos da prefeitura e do governo, R$ 198 mil como apoio, mas já gastamos uns R$ 300 mil. O pessoal que é apaixonado pela escola tira dinheiro do próprio bolso para bancar os custos que vão aparecendo. Também conseguimos ‘algum’ com as festas e eventos que acontecem aqui na sede”, revelou Apollo.

“Como entramos para o Grupo Especial no ano passado, tivemos direito a um dos galpões na avenida do Samba, mas o pegamos todo ‘arrebentado’ e tivemos que dar nosso jeito para trabalhar dignamente. Usamos a energia somente dois meses, mas vamos ter que pagar por mais alguns meses, segundo a Amazonas Energia. O CREA (Conselho Regional de Engenharia e Agronomia) também esteve lá fazendo vistorias e exigências. Concordo com tudo isso, mas é muita cobrança. Precisamos de mais apoio e não de tantas cobranças”, reclamou o presidente.

Apesar das reclamações, Apollo confia na turma que está trabalhando na confecção das fantasias e dos carros alegóricos.

“Estamos trabalhando para que na sexta-feira tudo esteja pronto só esperando a hora de entrar na passarela”, afirmou.

Apollo começou no samba em 2002, como mestre-sala da Sem Compromisso. Depois circulou pela Balaku Blaku e Coroado. Na Vila da Barra também foi mestre-sala e, há seis anos foi eleito presidente. “Quero voltar a ser mestre- sala, porque não vou ter tantas responsabilidades e vou fazer o que gosto, que é dançar”, riu.

Na sede da Vila da Barra as fantasias vão ficando prontas e aguardando os compradores. Quase todas feitas com plástico e esponja. O luxo passa longe. “No dia 11 vocês vão ver a onça esturrar alto”, garantiu Denise.

Lutando pelo retorno

A Vila da Barra entra na passarela do sambódromo no amanhecer de domingo (11), às 5h20, levando 3.600 brincantes em 20 alas, defendendo o enredo ‘O Grito’ e o direito de retornar em 2019.

Redação

Jornal mais tradicional do Estado do Amazonas, em atividade desde 1904 de forma contínua.
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