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O dia em que a Terra parou se repete

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“Essa noite eu tive um sonho / De sonhador / Maluco que sou, eu sonhei / Com o dia em que a Terra parou”, cantou Raul Seixas, em 1977 descrevendo a paralisação do planeta num único dia, exatamente o que Manaus e o mundo estão vivendo nos últimos dias, com certeza nos dias que seguem e certamente não ultrapassando os próximos dois ou três meses.

102 anos depois a história se repete, exatamente como aconteceu com a gripe espanhola, em 1918, surgida em março daquele ano, na Espanha e, seis meses depois começando a fazer vítimas em Manaus.

“As ruas (de Manaus) ficaram vazias, com as pessoas recolhidas em casa, com medo do contágio, e apenas circulavam os veículos, com militares recrutados à força…”, escreveu Antonio Loureiro em seu livro ‘História da medicina e das doenças no Amazonas’.

Naquela época o que disparou não foi o preço do álcool em gel e máscaras, mas do limão, agora nem mais lembrado como remédio.

Ao final de quatro meses, de setembro de 1918 a janeiro de 1919, quando a gripe foi cessando em Manaus, calcula-se que tenha deixado seis mil mortos na cidade. Com as precauções que estão sendo tomadas agora, possivelmente nem tenhamos mortos pelo coronavírus, mas a preocupação e o desespero por parte de muitos manauaras é o mesmo daqueles de 1918.

Desde o início da semana, cultura e turismo começaram a sentir os efeitos negativos da pandemia.

Na terça-feira, 17, a Sec (Secretaria de Estado de Cultura e Economia Criativa) suspendeu a programação dos espaços culturais administrados pela pasta, num primeiro momento, até 1º de abril. Os festivais Amazonas de Jazz, Amazonas de Ópera, assim como os Ensaios dos Bumbás foram adiados.

“Estamos reestruturando nossa agenda com a remarcação de uma série de atividades culturais que estavam planejadas, assim como vamos rever os horários de funcionamento dos espaços públicos administrados pela secretaria, e manter o público atualizado a cada 15 dias ou quando se fizer necessário”, avisou o secretário Marcos Apolo Muniz.

Cultura silenciada

O Teatro Amazonas não terá visitação turística e a 10ª edição do Festival Amazonas Jazz, que aconteceria de 21 a 29 de março, foi adiada. No Teatro só está acontecendo a audição dos 14 semifinalistas do Concurso Jovem Instrumentista, que começaram segunda e seguem até hoje. O Festival Amazonas de Ópera, marcado para 18 de abril a 7 de junho, também foi adiado. Os ingressos adquiridos serão válidos para as novas datas, porém, quem optar pela devolução, pode procurar a bilheteria do Teatro Amazonas, caso a compra do ingresso tenha sido efetuada no local. Para ingressos adquiridos no site da Bilheteria Digital ou aplicativo, é necessário enviar e-mail para [email protected] e requisitar a devolução com os dados da compra. O público pode buscar mais informações por meio do telefone 3232-1768 (bilheteria do Teatro Amazonas) e também pelo e-mail [email protected].

O início dos Ensaios dos Bumbás, em Manaus, no sambódromo, vai aguardar. Já o Festival Folclórico de Parintins permanece no calendário.

Fechados: o Liceu de Artes e Ofícios Claudio Santoro, que abrange o Centro de Convivência do Idoso/Aparecida; Centro de Convenções/Sambódromo; os Centros de Convivência da Família Magdalena Arce Daou e Padre Pedro Vignola, bem como as unidades dos municípios de Parintins e Envira; os centros culturais Palácio Rio Negro, Palácio da Justiça, dos Povos da Amazônia e Usina Chaminé; os museus Palacete Provincial (que abriga o Museu de Arqueologia, Misam (Museu da Imagem e do Som), Museu de Numismática do Amazonas, Museu Tiradentes e Pinacoteca do Estado), Museu Casa Eduardo Ribeiro, Museu do Seringal Vila Paraíso, e Museu do Homem do Norte; teatros da Instalação e Gebes Medeiros; cineteatros Guarany, Padre Pedro Vignola, Comandante Ventura e Aldemar Bonates; Galeria do Largo e Casa das Artes. As bibliotecas também estão fechadas.

Nem desceram do navio

Na Amazonastur, a diretora-presidente Roselene Medeiros, adiou pelo prazo de 30 dias todos os eventos programados para o CCAVV (Centro de Convenções do Amazonas Vasco Vasques). E os turistas, sempre tão bem vindos e bem tratados em nossa capital, quem diria, foram ‘mandados embora’, sem poder descer na cidade.

O último navio da temporada de cruzeiros no Amazonas (outros cincos, que já estavam programados, foram cancelados) chegou ontem ao Porto de Manaus. O navio Amera, com 680 pessoas a bordo entre tripulação e turistas, está navegando há 20 dias e nenhum caso da doença ou mesmo suspeita foi identificado. Dessas 680 pessoas, 230 partem hoje de avião para Alemanha, em vôo charter. Os restantes 450, nem desembarcaram.

“A minha determinação é a seguinte: ninguém vai descer em solo amazonense. Em condições normais são muito bem vindos. Mas, diante dessa pandemia do coronavírus, nós não podemos colocar a nossa população em risco”, determinou o governador Wilson Lima.

É nessas horas que devemos imaginar o quão não somos nada diante do que a natureza é capaz de nos impor.

Redação

Jornal mais tradicional do Estado do Amazonas, em atividade desde 1904 de forma contínua.
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