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O centenário de João Alves da Conceição

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No próximo dia 24 de julho, João Alves da Conceição, se ainda fosse vivo, completaria 100 anos de idade. Nascido em Eirunepé, no rio Juruá em 1918, primogênito da numerosa prole de 14 filhos do patriarca da família, Francisco Aves da Conceição, conhecido como Chico Ferreira, que era português de nascimento e imigrou para a Amazônia atraído pelo ciclo virtuoso da extração de borracha, atividade que se sustentou até o término da segunda guerra mundial.

Constituiu família ainda jovem, aos 24 anos, casando com Nahyde Feitosa Tomaz de tradicional família de origem síria estabelecida em Eirunepé, convivendo com ela por mais de 40 anos e dessa união nasceram 10 filhos. Embora não tenha concluído a educação formal, por deficiência do sistema educacional do município que à época só oferecia o primeiro grau, antes denominado curso primário, sempre foi um ávido leitor e ouvinte assíduo dos programas de rádio, o que lhe permitiu adquirir novos conhecimentos e se manter atualizado, apesar da distância e da falta de intercâmbio cultural com os centros mais desenvolvidos do país.

João Conceição, como era conhecido na comunidade, embora pouco afeito à política, concorreu por 3 vezes a um mandato na Câmara Municipal de Eirunepé tendo sempre sido eleito o vereador mais votado dos pleitos, ocupando por duas vezes a Presidência daquela casa, mercê da sua índole em ajudar a todos que o procuravam, muitas vezes com sacrifício pessoal e familiar.

O fim da segunda grande guerra trouxe a redução da demanda e o declínio do valor da borracha natural extraída na região, o que inviabilizou economicamente os negócios da família, até então ancorados na comercialização desse produto. Para contornar a crise de pós-guerra que assolou toda a Amazônia, João Conceição foi obrigado a assumir a administração do seringal Bom Jardim, de propriedade da família, localizado a montante da sede do município, à margem esquerda do rio Juruá.

Diante desse quadro nebuloso, não lhe restou outra alternativa, senão diversificar a produção da propriedade, passando a comercializar, além dos derivados da hévea, outros produtos extraídos da fauna e da flora, como madeira nobres, que eram transportadas em grandes comboios flutuantes (balsas) ao longo de quase 1800 km dos rios Juruá, Solimões, Amazonas e Negro, até a cidade de Manaus.

Paralelamente, passou a praticar o sistema de comercialização conhecido como regatão, atendendo a população estabelecida às margens dos rios da bacia do Juruá e que não tinha acesso às mercadorias, medicamentos e implementos necessários ao desenvolvimento das atividades agropecuárias daquelas pessoas, trocando-as por produtos semielaborados extraídos da floresta.

No início da década de 70, o governo federal, lançou o PROBOR – Programa de Incentivo à Produção da Borracha Vegetal, voltado ao plantio racional da seringueiras, financiado pelo Banco da Amazônia S.A. – BASA com juros subsidiados, o que motivou João Conceição a ser um dos primeiros a contratar e implementar o plantio dessa espécie em área de 50 hectares em uma de suas propriedades, o Seringal Deixa-Falar, que hoje constitui uma comunidade de mais de 200 famílias que exploram a extração do látex.

Preocupado com o desenvolvimento intelectual de seus filhos, na década de 60, adquiriu uma casa em Manaus e pediu a sua esposa que se transferisse para a Capital para acompanhar a educação da prole, enquanto ele continuou com seu trabalho no interior do Estado.

O sacrifício foi recompensado e os 8 filhos remanescente do casal concluíram o curso superior e se tornaram cidadãos úteis a sociedade

Após o falecimento de sua companheira de mais de 40 anos, fixou-se definitivamente, em Eirunepé, cidade que ele tanto amava, dedicando-se a administração de sua casa comercial, tendo constituído nova família, gerando mais 3 filhos. Ele nos deixou aos 76 anos, no dia 8 de dezembro, em Eirunepé, que na língua “Kurina” significa “Filha das Águas”, data consagrada à Nossa Senhora da Conceição, santa de sua devoção que, curiosamente, incorpora o seu sobrenome.
Seja feliz no céu, Tio.

Raimundo Lopes

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