Desde que a Amazônia foi descoberta para o mundo, a região não para de causar admiração, principalmente entre os europeus que para cá vieram e vêm como naturalistas, mais recentemente como pesquisadores, mas principalmente como aventureiros.
O alemão Günter Engel se enquadra nesta última categoria. Ele nasceu em Stettin, cidade que pertencia à Alemanha até o fim da Segunda Guerra, quando passou a ser território polonês.
Günter veio para o Brasil, em 1970, como turista se limitando a conhecer o Rio de Janeiro e Santos, em São Paulo. Dois anos depois o alemão resolveu chegar até Manaus e lá se vão mais de 40 anos de uma relação de Günter com a região, e o calor quente e úmido, sua paixão desde que pisou na capital amazonense pela primeira vez.
“Não gosto do frio e da neve europeus. Entre outubro e novembro o frio começa a chegar à Alemanha. Em dezembro é a vez da neve. Mas bem antes de esfriar na Alemanha eu já estou no calor amazônico”, contou.
Além do calor amazônico, um hobby tem mantido o elo entre Günter e a Amazônia: fotografar a natureza.
“Desde criança eu sempre gostei na natureza. Quando aprendi sobre a Amazônia, na escola, quis vir para cá. Assim que pude, vim”, contou.
Curiosamente Günter se hospedou no Hotel Amazonas, naquela época ainda no esplendor de ser o único hotel de luxo da capital amazonense, onde se hospedavam ricos turistas, empresários e até presidentes da república. Hoje, quando está no Brasil, Günter mora no mesmo hotel, agora transformado em prédio de apartamentos.
Entre Alemanha e Brasil
“Em 1972, fiz apenas fotos dos passeios que realizei, como qualquer turista. Achei a cidade muito esquisita, diferente das cidades alemãs onde tudo é organizado e a arquitetura é a mesma. Aqui era uma mistura só de arquiteturas. Mas o clima quente e úmido e a atenção das pessoas me cativaram”, lembrou.
O interesse de Günter pelo Brasil foi tanto que ele fez até um curso para aprender português. Para completar, em 1976 ele conheceu a esposa, uma brasileira que morava na Alemanha e com a qual viveu até 2014, quando ela faleceu.
“Foi com ela que comecei minha peregrinação entre a Alemanha e o Brasil. Ela era paraibana e vivera em Recife e, como eu, não gostava do frio europeu, então vínhamos para o Nordeste. No verão europeu, voltávamos para a Alemanha”, contou.
Em 1990, 18 anos depois de conhecer Manaus, Günter voltou à cidade e, desde então, tem estado aqui todo ano. A fotografia como hobby só surgiria onze anos depois, em 2001.
“Em 2001 me aposentei da Melitta, na Alemanha, e minha vida ficou ainda mais livre para viajar. Certa vez quis levar de presente para amigos e parentes, fotos da Amazônia, na época, em CD. Foi quando descobri que ninguém produzia CD’s com fotos da região, em Manaus. E por que eu não poderia fazer isso?”, indagou.
Partindo de Manaus, Günter começou a viajar pelas proximidades da cidade, fotografando em rios, lagos, igarapés e na floresta, como fez George Hüebner, no final do século 19 e início do 20. Com o tempo ele foi expandindo seus horizontes e hoje já foi de Iquitos, no Peru, até a ilha de Marajó, no Pará. Subiu ao alto rio Negro, chegando a São Gabriel da Cachoeira, da mesma maneira como o etnólogo Thomas Koch-Grünberg, entre 1903 e 1924, sem falar dos outros rios e cidades que visitou por toda a Amazônia, de avião, mas principalmente de barco.
Em DVDs e pen drives
Atualmente Günter calcula que tenha umas 1.200 a 1.500 imagens da fauna, flora e arquitetura de Manaus e do interior.
“É um trabalho que intitulei ‘Impressões da Amazônia’, com descrições em português, inglês e alemão e os nomes científicos de todos os animais e plantas, vendidos tanto em Manaus quanto na Alemanha”, explicou.
Günter começou vendendo seus trabalhos em CD’s, mas com a evolução das mídias, agora ele os grava em DVD’s e pen drives.
“E estão divididos de acordo com o interesse dos clientes em fotos de pássaros, insetos, peixes, sapos, cobras, plantas, frutas e árvores. Nas minhas viagens em busca das imagens, fico horas pelas matas. Precisa ter muita paciência. Agora mesmo estou me preparando para ir até o lago Mamori, no Careiro. Infelizmente aqui por perto de Manaus já não tem mais tanta riqueza de biodiversidade para se fotografar”, lamentou.
O mais recente trabalho de Günter tem feito bastante sucesso entre seus clientes. É um DVD com gravações de 54 cantos de pássaros. Duas agências de imagens, de Nova Iorque, também compram suas fotos.
Quem quiser conhecer o alemão e suas imagens amazônicas, pode encontrá-lo, todas as tardes, na praça da Polícia, junto à banca O Alienista; ou aos domingos, na Feira da Eduardo Ribeiro, no setor de livros.
Em março, quando o frio e a neve cessam na Alemanha, ele volta para lá, para rever amigos e parentes, mas quem sabe um dia não vá acontecer o mesmo o que aconteceu com seus conterrâneos Hüebner e Koch-Grünberg que aqui morreram, e aqui ficaram, na terra que tanto amaram.