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O adeus da bela da selva

‘Terezinha, a miss invicta do Brasil’. ‘Sucesso sem precedentes a eleição da linda e escultural amazonense’. ‘Beleza do Amazonas para deslumbrar o mundo’. ‘Cabocla morena de olhos claros exalta a beleza de sua terra’. ‘Miss Universo novo título à vista’. Estas foram algumas das manchetes publicadas numa única edição do Jornal do Commercio, de 26 de junho de 1957, para exaltar a estrondosa vitória conseguida apenas quatro dias antes no concurso de Miss Brasil, ocorrido no Rio de Janeiro, pela cabocla amazonense Terezinha Gonçalves Morango. No dia 13 passado Terezinha Morango nos deixou, aos 84 anos, e mesmo morando no Rio desde aquela época, nunca foi esquecida pelos amazonenses e nunca esqueceu o Amazonas.

Miss Brasil no ano de 1957
Foto: Divulgação

Não bastasse ter nascido no distante município de São Paulo de Olivença, em 26 de outubro de 1936, Terezinha Morango ainda veio ao mundo na comunidade Canavial, longe da sede do município. Mas seu destino estava traçado. Com ela ainda criança, seus pais vieram para Manaus, onde a menina morou com a avó, na rua Jonathas Pedrosa, ao lado do Cine Éden.

Na capital amazonense a garota estudou em dois colégios com os melhores índices de educação da época, o Instituto de Educação e o Colégio Estadual. No primeiro, foi onde conheceu a passarela e o glamour da vitória ao ser eleita ‘Rainha dos Estudantes’, em 1953, com 16 anos.

Se o sonho inicial de Terezinha Morango era ser normalista, este esvaiu-se com o tempo tanto que, em 1954, ela passou a estudar no Colégio Estadual onde, como trote, foi eleita ‘Rainha dos Calouros’ e teve que proferir discursos nas portas dos principais jornais da cidade, com coroa, manto e cetro.

Só vitórias

Em 1955, sob a organização dos Diários e Rádios Associados, o concurso de Miss Brasil se tornou nacional e Terezinha foi convidada para participar do Miss Amazonas, de onde a vencedora concorria ao Miss Brasil, mas recusou o convite.

Em maio de 1955 a baiana Martha Rocha visitou Manaus. No ano anterior ela havia ganhado o concurso de Miss Brasil e ficado em segundo lugar no Miss Universo. Seu tour por Manaus foi só glamour, com desfile em carro aberto, aplausos por onde passava e recepção por autoridades. Na visita de Martha à Assembleia Legislativa, um grupo de alunas do Colégio Estadual se encontrava na escadaria da casa legislativa, acotovelando-se junto a outras pessoas, querendo ver a bela baiana. Terezinha Morango estava entre as alunas. Nem imaginava o que o futuro lhe reservava em mais dois anos.

No ano seguinte, 1956, os dirigentes do Atlético Rio Negro Clube, frequentado pela elite manauara, convidaram Terezinha para disputar o concurso Miss Cinelândia, no Rio de Janeiro, representando o Amazonas. Ela aceitou. Venceu aqui e viajou para o Rio de Janeiro onde, sem nenhuma dificuldade, foi eleita a Miss Cinelândia do Brasil. Entre outros prêmios, ganhou uma viagem para a Europa e um contrato para ser atriz da Atlântida Cinematográfica. Algum tempo depois chegou a ‘fazer uma ponta’ no filme ‘Garotas e Samba’, como uma recepcionista. Antes, porém, a garota voltou a Manaus e continuou sua vida na pacata cidade, morando com a avó, visitando os pais, que moravam numa casa, em Aparecida, tomando tacacá, comendo os peixes da região.

Eleita mais uma vez

Em maio de 1957 uma manchete do Jornal do Commercio anunciava que o Atlético Rio Negro Clube lançaria uma candidata ao Miss Amazonas. Terezinha já estava no Rio de Janeiro, morando com parentes. Lá recebeu, e agora, confiante em sua beleza, aceitou o convite para concorrer ao Miss Amazonas. O Jornal do Commercio novamente estampou: ‘O Rio Negro lança Terezinha Morango ao certame deste ano’. E aconteceu o inesperado. As demais candidatas desistiram da disputa aclamando-a Miss Amazonas. Ainda assim, na noite da disputa, ela desfilou para os jurados em traje de noite, soirée e de maiô. Depois fez uma aparição para os seus fãs, que lotavam a Praça da Saudade.

Terezinha Morango voltou ao Rio como Miss Amazonas, ainda com a fama de ser Miss Cinelândia e cada vez mais sendo comparada com Martha Rocha. A imprensa carioca já a apontava como a favorita ao título de Miss Brasil.

Noite de 22 de junho de 1957. Manaus estava envolta pela famosa friagem, que sempre ocorre nesse período, além da falta de energia, dois fatores que levaram toda a população da cidade a dormir mais cedo. Menos parte da imprensa que, através de um rádio, acompanhava o concurso de Miss Brasil, acontecendo naquela noite, no Hotel Quitandinha, na capital da república.

Por volta da meia-noite a sirene de O Jornal soou. Era dessa forma que o jornal informava à população sobre algum grande acontecimento. Depois, a manchete era escrita a giz num quadro negro, em frente à redação. Terezinha Morango acabava de ser eleita Miss Brasil.

Felizes para sempre       

Carros foram para as ruas, buzinando, e seus ocupantes bradando sobre a vitória de Terezinha. Foguetes estouraram a partir do Rio Negro Clube. A bela cabocla vencera mais uma vez.

Na volta a Manaus, alguns dias depois, assim como Terezinha vira acontecer com Martha Rocha dois anos antes, agora acontecia com ela. A garota, de apenas 20 anos, chegou ao aeroporto de Ponta Pelada e desfilou em carro aberto, pela cidade, ao lado do governador em exercício Xenofonte Antony e do prefeito Gilberto Mestrinho, circulando pelo bairro de Educandos e Sete de Setembro. Na frente do Colégio Estadual foi saudada pelos alunos, que portavam bandeirinhas com sua foto, e entoaram um hino em sua homenagem (Teu nome e tua glória, ficarão na história), profetizava um dos versos. Também recebeu homenagem na frente do Instituto de Educação, e o desfile seguiu para a sede do Rio Negro Clube, com as ruas lotadas de pessoas por onde passava.

Na Sete de Setembro, com o governador e o prefeito
Foto: Divulgação

Terezinha Morango disputou o Miss Universo, em agosto de 1957 e, como Martha Rocha, ficou em segundo lugar perdendo para a peruana Gladys Zender. Até alguns instantes antes do resultado final quiseram dar-lhe o título maior, alegando que Gladys era menor de idade e não poderia participar do concurso, mas os jurados entenderam de outra forma e Gladys venceu. Mas Terezinha Morango já havia ido longe demais.

A peruana deixou a amazonense em segundo
Foto: Divulgação

Dando continuidade à sua vida de princesa, em 1959, Terezinha casou-se com o rico empresário Alberto Pittigliani. Tiveram um casal de filhos e, segundo consta, viveram felizes para sempre.

Segundo lugar no Miss Universo
Foto: Divulgação
Foto/Destaque: Divulgação

Evaldo Ferreira

é repórter do Jornal do Commercio
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