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Número de consumidores endividados volta a crescer em Manaus

A proporção de consumidores de Manaus endividados com cartões e carnês e outros meios de pagamento voltou a crescer, entre maio e junho, interrompendo uma sequencia de dois meses seguidos de queda. O contrário se deu entre as famílias inadimplentes e as que não podem pagar dívidas atrasadas, embora as taxas sigam mais altas do que as de um ano atrás. É o que revela a Peic (Pesquisa de Endividamento e Inadimplência do Consumidor), realizada e divulgada pela CNC (Confederação Nacional do Comércio de Bens, Serviços e Turismo). 

Na sondagem, 64,7% das famílias manauenses (412.510) se dizem endividadas, número acima do apresentado em maio de 2021 (64% e 407.205) e muito aquém ao de junho do ano passado (81,7% e 513.579). O índice de inadimplência passou de para 27,3% (173.665) para 26,3% (167.618) na variação mensal, mas ainda está acima da marca de 12 meses atrás (21,4% e 134.423). Em torno de 16,9% famílias (107.665) declararam não ter condições de quitar dívidas em atraso – contra 16,7% (106.455) e 13,5% (84.721), nas respectivas comparações.

Em âmbito nacional, 69,7% das famílias já se assumem endividadas, o que corresponde a elevações ante maio de 2021 (68%) e maio de 2020 (67,2%). O percentual de inadimplentes alcançou 25,1%, acima de maio de 2021 (24,3%) e abaixo de junho de 2020 (25,4%). Já a parcela dos brasileiros que declararam não ter condições de pagar contas ou dívidas subiu de 10,5% para 10,8%, na variação mensal e encolheu em relação a 12 meses atrás (11,3%).

Houve uma piora qualitativa no nível de endividamento dos manauenses. Os “mais ou menos endividados” (21,1%) foram ultrapassados pelos “muito endividados” (26,3%), sendo seguidos pelos “pouco endividados” (17,3%). No mês anterior, os respectivos números foram 22%, 21,2% e 20,8%. Consumidores com renda total superior a dez salários mínimos (88,8%) voltaram a super de longe a média do indicador (64,7%) – puxados pelo grupo dos “mais ou menos endividados” (45%).

Cartão de crédito

Já entre os que já contam com compromissos financeiros em atraso predominam os que ganham menos de dez mínimos mensais (42,6%). Apenas 10,3% garantem que conseguirão quitar a dívida integralmente e 25,5% estimam que conseguirão pagar a dívida apenas parcialmente – dados piores do que os de abril (13,7% e 24,6%). Pelo menos 24,1% devem há mais de 90 dias – especialmente as famílias mais pobres (26,4%). A fatia com dívidas atrasadas entre 30 e 90 dias (63,8%) ainda é a maior, enquanto o grupo pendente há menos de um mês responde por 12,1%. 

A situação melhorou nas estimativas de tempo de comprometimento com as dívidas, já que diminuiu o percentual dos que estimam levar mais de um ano para isso – de 42,7% para 40,7%. O grupo de devedores comprometidos entre seis meses e um ano (30,8%) encolheu, ao passo que os ‘pendurados’ por três meses (7,2%) e de três a seis meses (16,3%) foram na direção contrária, em relação aos dados de um mês atrás.

O cartão de crédito voltou a ser o principal vilão em Manaus, respondendo por 88,3% do bolo das dívidas, em um nível bem mais elevado do que o anterior (79,1%) e com novo predomínio dos mais ricos (98,6%). O carnê de compras continua na segunda posição (45,7%) – especialmente entre os que ganham mais (49,3%) – e praticamente empatou com o crédito pessoal (45,6%). Foram seguidos de longe por crédito consignado (17,8%), financiamento de carro (15,1%), cheque especial (5,7%), cheque pré-datado (5,3%), financiamento de casa (5,2%) e “outras dívidas” (0,1%). 

Em média, as famílias manauenses consomem 40,2% de sua renda para pagar dívidas – pouco menos do que os 41,2% anteriores. Houve relativa melhora também na distribuição por níveis de comprometimento, mas a maioria (52,3%) ainda gasta mais da metade dos ganhos mensais com dívidas. Foram seguidos de longe pelos que gastam de 11% a 50% (39,3%) e pelos que limitam os dispêndios a 10% (4,1%). 

“Momento de instabilidade”

Na análise do presidente em exercício da Fecomércio AM (Federação do Comércio de Bens, Serviços e Turismo do Estado do Amazonas), Aderson Frota, o aumento no nível de endividamento no âmbito nacional indica que a economia brasileira ainda passa por “um momento de instabilidade”, embora a tendência ainda seja de melhora gradual. O dirigente avalia, contudo, que a situação local é comparativamente melhor.

“Mas, ainda vivenciamos um período de crise e de desemprego [no país] e isso tudo contribui para os números ainda sejam negativos. Com relação ao Amazonas, temos de ressaltar que o total de endividados diminuiu em um ano. Isso é uma demonstração que a economia amazonense está, aos poucos, retomando seu grau de crescimento. A situação dos empregos ainda nos preocupa, mas o mercado de trabalho está reagindo e as atividades de comércio e serviços são responsáveis por 75% dessa retomada”, ponderou.    

“Frágil segurança” 

Em texto distribuído à imprensa, a economista da CNC responsável pela pesquisa, Izis Ferreira, aponta que o tempo médio de comprometimento do brasileiro com dívidas tem aumentado, diante de fatores como juros ainda baixos, que possibilitam a renegociação de dívidas e estimulam as modalidades de financiamento, com prazos mais longos.

“As dívidas das famílias têm se alongado no período acima de um ano. O crédito vem ajudando o brasileiro e atua na recomposição de renda. Mas, a cada mês, tememos que o orçamento familiar atinja um patamar de dificuldade que impeça ainda mais o consumo e dificulte a reorganização da economia”, resumiu, destacando que as ferramentas de incentivo social dos governos têm ajudado a evitar um problema maior, principalmente na inadimplência.

No mesmo texto, o presidente da CNC, José Roberto Tadros, explica que o orçamento das famílias na pandemia tem sido diretamente comprometido por fatores extras, como inflação mais elevada e o valor reduzido do auxílio emergencial. “Ainda que os indicadores de inadimplência se encontrem mais baixos na comparação anual, os números mostram que as famílias têm se endividado mais ao longo do ano para conseguir manter algum nível de consumo, respaldadas por uma frágil segurança no mercado trabalho, e diante de preços mais altos dos itens de primeira necessidade”, finalizou.

Foto/Destaque: Divulgação

Marco Dassori

É repórter do Jornal do Commercio
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