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“Novo normal” impõe ceticismo nos negócios das MPEs

“Novo normal” impõe ceticismo nos negócios das MPEs

As dificuldades de sobreviver pelo empreendedorismo em um mercado ainda marcado pelo ‘novo normal’ imposto pela crise covid-19 – traduzido por distanciamento social e vendas online – ajudou a elevar o ceticismo das micro e pequenas empresas do Amazonas. Especialmente no contexto da sinalização de uma segunda onda e da contagem regressiva para a retirada dos estímulos anticíclicos que conseguiram sustentar a demanda, em tempos de pandemia.

É significativo que 40% dos empreendedores amazonenses já percebem o panorama local de negócios como de quarentena parcial, em sintonia com o decreto 42.994/2020 – que determinou limitações aos segmentos de lazer e alimentação, sendo renovado por mais 30 dias, nesta terça (27). O prazo esperado para o retorno a uma “normalidade” é de dez meses e 68% apostam que menos da metade da clientela voltará a frequentar os estabelecimentos em 30 dias – contra 49%, um mês antes. 

Em síntese, para 46% dos empreendedores do Amazonas, a frase que melhor define o momento atual é “ainda tenho muitas dificuldades para manter meu negócio”, embora 28% vejam a ‘metade cheia do copo’ ao estabelecer que o “os desafios provocaram mudanças que foram valiosas para o negócio”. Apenas 13% se dizem “animados com as novas oportunidades” e uma minoria de 12% garante que “o pior já passou”.

É o que mostram os dados da oitava edição da pesquisa “Impacto da pandemia de coronavírus nos pequenos negócios”, conduzida pelo Sebrae (Serviço Brasileiro de Apoio à Micro e Pequena Empresa). Realizada entre 28 de setembro a 1º de outubro, a sondagem ouviu representantes de 6.033 micro e pequenas empresas em todo o país, assim como MEIs (microempreendedores individuais), sendo que 77 deles estão no Amazonas (ver boxe). 

A maioria esmagadora dos pequenos negócios do Amazonas sofreu refluxo nos negócios (85%), com queda média de 39% nas vendas, em relação a uma semana normal. Houve maior disseminação nas perdas, mas amplitude menor, na comparação com o levantamento anterior – 79% e 41%, na ordem. Em contrapartida, passou de 70% para 82% a fatia das empresas que tiveram de fazer mudanças para sobreviver à crise – como a adoção de vendas à distância. Já a parcela das que saíram temporária (12%) ou definitivamente (1%) do mercado se manteve no mesmo patamar.

Na outra ponta, aumentou de 2% para 10% a faixa de micro e pequenos empreendimentos do Amazonas que saíram ganhando com a crise da covid-19. Quem se enquadrou nessa situação privilegiada de mercado alcançou altas de até 44% nas vendas – contra os 52% anteriores –, mas só chegou lá porque operou mudanças, como introdução de delivery e vendas online. O fato de que apenas 37% lançaram ou começaram a comercializar novos produtos e/ou serviços, desde o início da pandemia, reforça o raciocínio. 

Demissões e contratações

Assim como no mês anterior, as micro e pequenas empresas do Amazonas ouvidas pelo Sebrae ainda contam com média de quatro colaboradores e seguem empatadas com o número nacional nesse quesito. Os quadros incluem familiares, empregados fixos e temporários, formais ou informais, sendo que a fatia correspondente a negócios que não contam com um empregado sequer caiu de 65% para 48%, em comparação com a sondagem do mês passado. 

Ao mesmo tempo, cresceu de 26% para 42% a proporção dos pequenos negócios locais que conseguiram evitar desligamentos nos 30 dias anteriores à pesquisa. Entre os 10% que optaram demitir, a média de funcionários desligados no Amazonas empatou com a do Brasil: dois – mesmo número de agosto e julho, e bem abaixo do de junho (14). Em contraste a minoria de empresas que ainda conseguiu contratar funcionários de carteira assinada recuou de 11% para 7%. A média de admitidos no Estado foi de três, acima do número nacional (dois).

“Novo momento”

Para a unidade de Gestão e Estratégia do Sebrae-AM, Socorro Correa, os números mais recentes da pesquisa do Sebrae capturam um novo momento para as micro e pequenas empresas, em que estas se veem impelidas a buscar novos mercados e novas formas de vender para sobreviver, com foco na tecnologia, em detrimento do atendimento presencial. Mas, segundo a dirigente, o curto prazo para a mudanças e as diferenças inerentes a esta, assim como as fragilidades brasileiras, tendem a dificultar a migração. 

“Enquanto, a vacina contra a covid-19 não for uma realidade acessível à população, o isolamento e o distanciamento social continuarão sendo usados, em maior ou menor proporção, conforme o caso. Isso tem impacto na economia, e isso se dá mais para uns setores, do que para outros. Uma parcela dos empresários e dos consumidores migraram e migrarão para o mercado digital, mas ainda temos famílias sem acesso a internet e atividades econômicas que não podem produzir e prestar serviços de forma online”, ponderou. 

Há ainda outros obstáculos no caminho, segundo a gerente da unidade de Gestão e Estratégia do Sebrae-AM, incluindo não apenas as perdas humanas e econômicas impostas pela pandemia, como também problemas de ingerência governamental e instabilidade, que acabam minando a implementação de possíveis soluções para a crise, além de abortar intenções de investir no país. 

“As mortes de chefes de famílias causam impacto negativo na renda familiar, diminuindo o consumo. Somam-se a isso, os desempregados e consumidores sem renda. Por outro lado, o governo federal encontra-se endividado e constantemente envolvido em notícias desagradáveis, que afetam a atração de investidores para o país. A crise precisa de um plano e de um clima de estabilidade política para que este possa ser implementado”, encerrou.

Saiba mais sobre os empreendedores do Amazonas

Dos 77 entrevistados no Amazonas, 51% são MEIs, 42% são microempresas e 7% são empresas de pequeno porte, sendo distribuídos em serviços (51%) comércio (40%), e indústria (5%), agropecuária (2%) e construção civil (1%). As estatísticas apontam ainda que o empreendedor amazonense é majoritariamente do sexo masculino (55%), tem de 36 a 55 anos de idade (53%), conta com ensino superior incompleto “ou mais” (65%) e se declara da etnia “negra” (88%). A maioria tem entre cinco e dez anos de operações no mercado local (23%), sendo seguidos de muito perto por aqueles que atuam entre dois a cinco anos, ou mesmo pelos que já acumularam mais de uma década de experiência (ambos como 22%).

Marco Dassori

É repórter do Jornal do Commercio
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