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Novo fantasma assombra flutuantes

Não bastasse terem ficado por mais de um ano fechados, por conta da pandemia, um novo fantasma chegou para assombrar os flutuantes existentes na orla de Manaus, especificamente nos rios Tarumã e Negro. Uma decisão do juiz Diógenes Vidal Pessoa Neto, da Vara Especializada em Meio Ambiente, determinou a retirada de todos eles das águas num prazo de 30 dias, que se completam no próximo dia 16 de setembro. A decisão do juiz se baseou numa ação civil pública de 2001 que, então, pedia a retirada de 74 flutuantes da margem esquerda do rio Negro, porém, a notícia caiu com estardalhaço, inclusive entre os proprietários de flutuantes no Tarumã, alguns tradicionais, como o flutuante da Tia, existente há ao menos 35 anos naquele rio, há 22 sob a administração de Iolene Luz; e o flutuante Peixe Boi, o mais antigo de Manaus, com 34 anos de existência, tendo à frente uma mesma proprietária, a paulista Ana Scognamiglio.

Flutuante da Tia foi o pioneiro na instalação de uma ETE, em 2003 – Foto: Divulgação

Uns poucos flutuantes, realmente, dão mal exemplo ao não possuírem ETE (Estação de Tratamento de Efluentes) e jogando toda espécie de resíduos sólidos e líquidos nas águas, prejudicando quem deseja trabalhar de acordo com a lei. Mas a maior preocupação de quem já está estabelecido há anos na região são os novos flutuantes que chegam a todo instante. Demerson Silva, proprietário de três flutuantes de aluguel (Califórnia, Hollywood e Lótus), associado da Afluta (Associação de Flutuantes do Tarumã), informou que a entidade reúne 87 flutuantes legalizados, mas que calcula serem mais de 200 existentes naquele rio. A quantidade já começa a causar problemas para todos, e duas fábricas, localizadas no próprio Tarumã, os produzem sem parar.

Problema é a quantidade

Iolene Luz orgulha-se de ter sido a pioneira na instalação de uma ETE no seu flutuante, adquirido em 1989.

“Naquela época ainda eram pouquíssimos aqui nessa região do Tarumã. Um dia, em 2003, o Virgílio Viana, então presidente do Ipaam (Instituto de Proteção Ambiental do Amazonas), veio ao flutuante e perguntou se eu queria testar um protótipo de ETE. Aceitei de imediato. Eu havia trabalhado no RH de uma empresa, certificando ISO 9000, e tinha essa visão de proteção do meio ambiente. A partir daí todos passaram a adquirir ETEs, que se tornaram obrigatórios”, contou.

O protótipo testado por Iolene foi sendo aperfeiçoado até atender às necessidades dos flutuantes.

“Originalmente ficavam embaixo da estrutura, mas na vazante precisamos ir para um local de terra, ou com pouca água, então o novo ETE foi adaptado para ficar entre as balsas”, explicou.

Para Iolene, hoje, o grande problema dos proprietários de flutuantes não é mais com o despejo de efluentes nas águas, pois isso já está praticamente resolvido, mas o surgimento, a todo instante, de um novo empreendimento.

“As pessoas não sabem, mas muitos flutuantes, na vazante, são levados para outros lugares. Se a vazante for grande, onde vão ser colocados os tantos existentes aqui? Acredito que só no Tarumã já são mais de 200 deles”, disse.

Ana, do flutuante Peixe Boi, um patrimônio cultural do Amazonas, tem seu estabelecimento localizado exatamente no mesmo espaço há 34 anos, uma área de preservação, mantida do mesmo jeito desde quando ela chegou ao local.

“E até melhorei o meio ambiente porque, junto aos moradores das áreas próximas, promovemos ações de limpeza do rio tirando, anualmente, toneladas de lixo do fundo e das margens do Tarumã”, revelou.

Para Ana, agora, a principal preocupação é com a Rabdomiólise, que vem assustando os apreciadores de um bom peixe regional.

“Os flutuantes restaurantes do Tarumã têm no seu cardápio, os peixes como carros-chefes. Ficamos mais de um ano fechados por conta da pandemia e agora essa doença aparece para amedrontar os clientes. Só quero avisar aos meus clientes que os peixes que sirvo no Peixe Boi vêm de Boa Vista, com nota fiscal para comprovação”, destacou.

Brecar os novos

Flutuante Califórnia, tendência de flutuantes para aluguel – Foto: Divulgação

Demerson Silva faz parte da nova tendência que surgiu em Manaus, do aluguel de flutuantes para fins de semana. Ele possui três, no Tarumã: Califórnia, Hollywood e Lótus, e não se diz preocupado com a história de retirada dos flutuantes daquele rio.

“Talvez alguns dos 74 flutuantes citados na ação civil pública de 2001 nem existam mais, depois, todos os associados da Afluta estão regularizados, devidamente dentro da lei, possuidores de ETEs, com registros junto ao Ipaam e autorização da Marinha. O que nós da Afluta estamos tentando brecar é a instalação de novos flutuantes porque senão vai virar bagunça, tal a quantidade deles”, falou.

“Os flutuantes, de forma organizada, e preservando o meio ambiente, que é o interesse de todos nós, são um atrativo para os turistas. Já estou com reservas para turistas de outros Estados e até de outros países. Quem tem que não autorizar o surgimento de novos empreendimentos é a Marinha, mas eles nos disseram que, desde que o proprietário esteja todo regularizado, não podem deixar de dar a declaração de ‘Nada a Opor’, que por sinal é bem difícil de conseguir, enquanto isso o ‘pessoal’, vai mandando construir e trazendo para cá, novos flutuantes. Está na hora de regulamentar a situação, ou todo mundo vai sair pendendo”, finalizou.

Foto/Destaque: Divulgação

Evaldo Ferreira

é repórter do Jornal do Commercio
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