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Novembro dos cinemas de bairro

Remexendo seus escritos antigos, o pesquisador das histórias dos cinemas de Manaus, Ed Lincon Barros descobriu que o mês de novembro foi pródigo para o surgimento dessas salas de diversão na cidade. Três dos grandes cines de fora do Centro foram inaugurados neste mês: Cine Popular, em 1926; Cine Eden, em 1946; e Cine Palace, em 1965. Quase os cinemas do Amazonas Shopping entram nessa lista. O centro comercial foi inaugurado em 7 de novembro de 1991, mas as três primeiras salas só começaram a funcionar no dia 19 de dezembro daquele ano com os nomes de Amazonas 1, 2 e 3. Em 2014, já com as atuais cinco salas, os cines passaram a se chamar Kinoplex.

“A exibição de filmes, em salas próprias para isso, em Manaus, começou em 1907, com o Cassino Julieta. Quase 20 anos depois, em 14 de novembro de 1926, surgiu o Cine Popular, localizado na rua Silva Ramos, pertencente à empresa Fontenelle. O filme de estréia foi ‘O prêmio da vitória’. É bom lembrar que o cinema falado só começaria no ano seguinte com ‘O cantor de jazz’ (The jazz singer), ou seja, até então o manauara só assistira aos filmes mudos”, revelou.

Cine Popular

“Não sei dizer quais filmes chegavam aqui naquela época, mas com certeza, devem ter vindo para cá as comédias de Charles Chaplin, Buster Keaton, Harold Lloyd, O gordo e o magro (Oliver Hardy e Stan Laurel), além dos românticos e de aventura com Rudolph Valentino, Ramon Novarro, John Gilbert, Douglas Fairbanks, que Hollywood exportava para o mundo inteiro”, disse.

O Popular fechou em 1972, reabrindo em 1977, arrendado por Luiz Morais, com o nome de Cine Pop, fechando, em definitivo, dois anos depois, com a exibição de ‘O vento e o leão’, de 1975, tendo Sean Connery como astro. Atualmente no prédio funciona uma loja de venda de peixe assado.

Filmes velhos

Quando o Cine Eden inaugurou, em 23 de novembro de 1946, na rua Jonathas Pedrosa, a Segunda Guerra havia terminado há pouco e o gênero que ganhava as telas era o western. A produção cinematográfica brasileira começava a despontar através da Cinédia, no Rio de Janeiro, com dramas populares e comédias musicais. No Eden, o primeiro filme a ser exibido foi a revista musical ‘Brazil’, conforme publicado no Jornal do Commercio daquela data. Mas o filme, com Aurora Miranda, irmã de Carmem Miranda, apesar do nome, era uma produção hollywoodiana, de 1944.

Eden

‘Grandiosa inauguração do magestoso Cine Eden, sábado, 23 de novembro de 1946, com exibição da monumental revista musical ‘Brasil’, com Tito Guizar e Aurora Miranda. Um verdadeiro deslumbramento de músicas, ritmos, hilariantes momentos de comicidade. Um filme 100% sobre o Brasil com muito samba, canções, batucadas e valsas, da autoria do inspirado compositor brasileiro Ary Barroso’. A música de Ary foi indicada ao Oscar de Melhor Canção Original. Curioso mesmo foi a exibição, no dia seguinte, do filme ‘Jardim de Allah’, com Marlene Dietrich.

“A produção era de dez anos antes e foi esse um dos motivos de o cine falir no ano seguinte. Exibir filmes velhos. De propriedade do motorista português Aníbal Augusto de Castro Batista, o Eden havia sido montado na garagem de sua casa, ou seja, deveria ser algo bem rústico aliado a ele não saber administrar o empreendimento”, contou.

De 1948 a 1963, quando foi comprado por Luiz Severiano Ribeiro, empresário cearense que possuía salas de cinema em várias capitais do país, o Eden pertenceu ao médico Alberto Carreira, também proprietário do Polytheama. Em 1973, Severiano Ribeiro vendeu a sala para o também empresário de cinema Adriano Bernardino Filho, que mudou o nome de Cine Eden para Cine Veneza. Em 1984 o Veneza fechou, mas cinco dias depois reabriu como Cine Novo Veneza, alugado pelo empresário Joaquim Marinho. Pouco mais de um ano depois, em 31 de março de 1985, o Novo Veneza fechou em definitivo exibindo o italiano ‘Dio, come ti amo!’, de 1966. Desde 1997 o prédio está fechado.

Uma nova maneira

Quando o Cine Palace foi inaugurado, em 18 de novembro de 1965, no antigo Boulevard Amazonas, atual avenida Álvaro Botelho Maia, esquina com a rua Ferreira Pena, nem de longe seu proprietário Adriano Bernardino imaginou que, apenas quatro anos depois a televisão chegaria a Manaus e, a partir da década seguinte, seria a responsável pelo fechamento de um a um dos cines de Manaus. A inauguração foi com pompa, contando com a presença do então governador Arthur César Ferreira Reis (1964/1967) e o filme de estréia foi ‘A queda do império romano’, de 1964, tendo Sophia Loren como estrela.

Palace

“Pelo filme, lançado apenas um ano antes, pode-se ver que Adriano investia nas suas salas, porque era difícil chegarem filmes novos à cidade, porém o Palace iniciou num momento em que as salas de cinema de Manaus passariam por um duro confronto com a televisão, e não venceriam”, recordou.

Como a demonstrar que tempos ruins viriam pela frente, pouco mais de um ano depois de sua inauguração, em 20 de dezembro de 1966, parte do teto do Palace desabou em virtude de um forte temporal, o que ocasionou a paralisação por quase seis meses das exibições de filmes. Somente em 17 de junho de 1967 o cine foi reaberto, exibindo o filme ‘Topkapi’, de 1964.

“Naqueles tempos as pessoas não reclamavam em ver filmes com um, dois anos de atraso. Na prática, ninguém sabia o que era televisão, e talvez nem soubesse maiores informações sobre os filmes exibidos, diferente de hoje quando as produções são anunciadas e lançadas simultaneamente no mundo inteiro, e todos ficam aguardando”, falou.

Em 1973, seguindo o mesmo caminho das outras salas de cinema (Ideal e Popular, em 1972; Vitória, Palace, Odeon, Polytheama, Eden e Avenida, em 1973), o Cine Palace fechou de vez as suas portas. Há anos o prédio permanece desocupado.

“As salas de cinema do Amazonas Shopping também ajudaram a esvaziar as salas que até 1991, permaneciam abertas somente no Centro. Todo mundo queria conhecer as cadeiras estofadas, o ar condicionado e o som estéreo das novidades, sem precisar estacionar o carro na rua, ou também na rua, ficar numa fila para comprar o ingresso. Os cinemas nos shoppings deram início a uma nova maneira de assistir filmes, em Manaus”, finalizou.

Evaldo Ferreira

é repórter do Jornal do Commercio
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