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Nova edição do livro ‘A espera do nunca mais – uma saga amazônica’ é lançada

Acaba de sair do prelo, como se dizia antigamente, a terceira edição de ‘A espera do nunca mais – uma saga amazônica’, um livro que já é um clássico da literatura amazônica, estudado em universidades de Manaus e de Belém, escrito pelo paraense, de coração amazonense Nicodemos Sena, que morou em Manaus, na infância. O livro, com suas mais de mil páginas, é indicado para quem deseja conhecer um pouco sobre a Amazônia e quem vive na região. De São Paulo, onde mora, Nicodemos deu essa entrevista ao Jornal do Commercio.   

Jornal do Commercio: Explique o título ‘A espera do nunca mais – uma saga amazônica’.

Nicodemos Sena: A invasão do grande capital à Amazônia, patrocinado pelos governos militares a partir da década de 1960, trouxe inúmeras desgraças aos povos e etnias da Amazônia, que passaram a viver uma longa e angustiante espera pelo retorno de coisas valiosas que lhes foram roubadas, como a alegria, a esperança, a paz, a inocência…

JC: Depois de mais de 20 anos da primeira edição, sai a terceira edição do livro, uma trajetória de sucesso, cercada de elogios da crítica.

NS: Levei dez anos lendo, pesquisando e escrevendo esse livro, publicado em 1999. Os elogios da crítica e o prêmio literário conquistado no Rio de Janeiro fizeram-no chegar à terceira edição, pela Kotter Editorial, de Curitiba. Mas a estrutura narrativa catedralesca, a centena de estórias encaixadas na história e as dez centenas de páginas fazem desse romance uma espécie de decalque da própria Amazônia, tão falada (e difamada) e ao mesmo tempo desconhecida e esquecida. Felizmente, meu romance, que é arte e libelo, está sendo lido e estudado antes que a Amazônia seja completamente destruída.

JC: Seu ‘romanção’, como tem sido chamado ‘A espera do nunca mais’, tem mais de 1.000 páginas. Faça um resumo da história.

NS: Por ter muitos personagens, menores como os igarapés ou enormes como o Amazonas, o Negro ou o Madeira, acho impossível fazer um resumo da narrativa principal deixando de fora as histórias secundárias, mas nem por isso menos importantes, que nela se encaixam. Os tapuios Gedeão, Diana, Veva, Primitiva, Saluma e outros, que vivem no ambiente de rios e selva, conflitam com personagens citadinos, como o comerciante Estefano, o fazendeiro Julião, a professora idealista Dora, o militante comunista Eduardo, o deputado oportunista Cândido Ambrósio. A narrativa contém rebojos de muitas águas, onde o arcaico e o moderno, o rural e o urbano, o animal e o homem, o selvagem e o civilizado chocam-se. Esse romance é como a própria Amazônia: enorme, entrançada, labiríntica, espantosa, abismal, indescritível. Para conhecê-la é preciso embrenhar-se em suas entranhas, como fiz e ainda faço.

JC: ‘A espera do nunca mais’ tem sido objeto de estudos em universidades de Manaus e de Belém. Esse reconhecimento não é para qualquer autor.

NS: Isso me deixa bem feliz, pois o sonho de todo autor é que seu livro encontre leitores atentos e interessados, que perquiram a razão dos conflitos romanescos com olhos críticos, mas respeitem o tempo das personagens. Uma tese de doutorado ou uma dissertação de mestrado põem a obra literária num patamar superior de recepção crítica,

JC: Nos dias de hoje, cada vez mais as pessoas estão lendo textos concisos. Como ler as mais de 1.000 páginas de seu livro?

NS: Em se tratando de literatura de ficção, a concisão não significa, necessariamente, que o romance deva ter menos páginas. A concisão se aquilata frase a frase, linha a linha. O ‘A espera do nunca mais’, nesse sentido, é um texto conciso. Não há palavras, frases ou períodos desnecessários. O que acontece é que o plano audacioso do romance, com seus vários espaços e estrutura típica das sagas, muitas personagens e ações que se espraiam em tempo mais largo, contribuíram para que a obra saísse mais volumosa. O interesse da academia pelo ‘romanção’ confirma que valeu a pena ter trilhado caminhos menos convencionais.

JC: Você tem outros livros sobre a Amazônia. Fale-nos sobre eles.

NS: Tenho mais três romances publicados, menos volumosos que o ‘A espera do nunca mais’, mas nem por isso, menos densos e trabalhados. Todos ambientados na Amazônia. ‘A noite é dos pássaros’ (2003). ‘A mulher, o homem e o cão’ (2009), e ‘Choro por ti, Belterra!’ (2017).

JC: O que mudou da Amazônia de 1999 para a Amazônia de hoje?

NS: A situação, que já era ruim, piorou. Nos capítulos finais do ‘A espera do nunca mais’, concluído em 1997, narro, de maneira profética, a construção de hidrelétrica na cachoeira do rio Maró, onde nasci, e as consequências nefastas desse empreendimento em relação ao ecossistema e aos habitantes tradicionais da região, vítimas da ação sem freios sobre os recursos naturais e da exploração brutal da força de trabalho submetida à condição análoga à de escravo. Infelizmente, isso se tornou corriqueiro na Amazônia, com a presença de madeireiros, mineradoras e empresas de agropecuária, que realizam atividades ilegais e predatórias, com risco à fauna e à flora, e à vida humana.

Quem quiser adquirir o livro: www.kotter.com.br

Evaldo Ferreira

é repórter do Jornal do Commercio
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