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Nível do rio Negro afeta comércio do Centro de Manaus

Com o nível do Rio Negro, ultrapassando a cota de inundação severa 29,03m na última sexta-feira (30), já é possível observar os reflexos da subida das águas em algumas ruas do Centro da capital nas proximdades da Manaus Moderna. O que traz preocupação para alguns comerciantes da área que temem prejuízos. A queda no movimento já chega a 30% em relação a semana passada. 

Segundo o comerciante Aluizio Mato Grosso, do Atacadão Tempero, os comerciantes da área já foram avisados pela Defesa Civil que a partir de hoje a rua dos Barés, a mais afetada das redondezas, será interditada para acesso de veículos. Ele lembra que há seis anos durante esse período o cenário do comércio na área neste se repete.

Queda no movimento já chega a 30% em relação a semana passada
Foto: Divulgação

Além do impacto no fluxo dos clientes, ele destaca que a carga e descarga de mercadorias foram afetadas porque não tem condições de estacionar para fazer abastecer. “É bem difícil essa situação ainda mais num ano de pandemia. Não tem como os clientes circularem normalmente pela área alagada. Tivemos queda de 30% no movimento. A água está num nível bastante acelerado. Temo que invada o meu estabecimento”. 

Para o comerciante Diogenes Peres, o cenário traz à tona outro receio em ter que gastar com tapumes e arcar com a perda de mercadorias, além de adotar medidas para minimizar o impacto de todos os anos. “Ano passado o nível das águas era menor. Estamos observando um avanço muito rápido no volume. É isso que passamos todos os anos. Ainda temos um mês inteiro de chuva. Eu espero que o ritmo diminua, porque se isso manter o nosso prejuízo vai ser inveitvael”. 

Cansado de ter que encarar a mesma situação todos os anos, o comerciante Fernando Penha mudou o comércio para outra zona da cidade. Ele comenta que o período é um grande desafio para quem trabalha naquela área. “Cada ano é mais desesperador porque o comportamento do rio muda. Este ano, tá bem pior. Eu acredito que até a próxima semana, com o volume de chuvas que têm ocorrido em Manaus, aquela região inteira vai ser atingida”, antecipou ele.  

A cheia de 2012, considerada a maior da história na capital, segundo o CPRM (Serviço Geológico do Brasil), é tida como referência para todos os comerciantes que amargam grandes prejuízos, mas afirmam que estão otimistas e torcendo para que logo o período estabilize. 

Cheia histórica não é descartada

O Serviço Geológico do Brasil (SGB-CPRM) transmitiu o “2o Alerta de Cheias Manaus 2021”. Essa marca indica que a cota de inundação severa, de 29,00m, foi ultrapassada no município. A mesma cota de referência já havia sido atingida para os outros municípios incluídos nos estudos, Manacapuru e Itacoatiara, ao longo do mês de abril. Para o SGB-CPRM, a cota de inundação é caracterizada quando a inundação passa a gerar impactos severos ao município.

O 2o Alerta de Cheias teve como objetivo atualizar as informações apresentadas no “1 o Alerta de Cheias Manaus 2021″, com base no comportamento dos rios e das chuvas observados desde então. Os resultados apresentados confirmaram as previsões iniciais de que se pode esperar cheias de grandes magnitudes para a região central da Amazônia, ao longo dos próximos meses. Em termos numéricos, a probabilidade de que o rio Negro atinja a máxima histórica observada em 2012 subiu para 56%. O rio Solimões, na cidade de Manacapuru, está hoje em 19,86m, e o rio Amazonas atingiu 14,61m em Itacoatiara. Nesse trecho, os rios continuam enchendo normalmente até os meses de junho ou julho.

O mês de janeiro foi muito chuvoso na região de Manaus em toda bacia do rio Negro, e as chuvas continuaram volumosas nas bacias dos rios Negro, Branco, Purus e Juruá. Segundo Renato Cruz Senna, meteorologista do Sistema de Proteção da Amazônia (SIPAM), essas bacias contribuem especialmente para a cheia do rio Negro em Manaus. Além disso, está em curso o fenômeno La Niña, que resfria os oceanos e faz com que a zona de formação de nuvens seja empurrada para áreas mais ao norte da região, onde se concentra o fluxo de umidade. “O La Niña está terminando, mas isso não garante que as formações de nuvens se encerrem imediatamente”, afirmou o meteorologista.

Segundo Luna Gripp, pesquisadora em geociências responsável pelo Sistema de Alerta Hidrológico (SAH) da Bacia do Amazonas, o grande volume de chuvas observado no princípio do ano fez com que o nível dos rios amazônicos subisse rapidamente, padrão este que está atuante até agora. Assim, mesmo que o padrão de chuvas observados se mantenha dentro do esperado para o período daqui para frente, o fato dos níveis dos rios já estarem expressivamente altos, contribui para as altas probabilidades apresentadas, de observamos cheias de grandes magnitudes nesses rios em 2021.

Vale lembrar que a partir da cota de 29 metros, que é tida pela Defesa Civil como cota de emergência, o Centro já sofre esse impacto por ter mais proximidade com o rio e suas construções estarem numa cota topográfica mais baixa.

Outra situação que favorece a subida das águas na área em torno do Mercado Adolpho Lisboa, são considerados aqueles localizados com proximidade de igarapés, pois a drenagem das águas pluviais também contribui com o impacto da cheia na cidade.

O empresário Reginaldo Falcão, proprietário de uma distribuidora no Centro, declara que a situação diminui o fluxo de pessoas na área e cria um grande congestionamento no trânsito, porque as ruas são tidas como principais saídas para outros locais. “É um problema recorrente. É preciso adotar medidas que minimizem essa situação. A gente abastece a capital e o interior. Os nossos ribeirinhos que são os nossos clientes em potencial estão sendo os mais atingidos e isso gera impacto, gera prejuízo e atinge em cheio o movimento”, desabafou.

Municípios

A Defesa Civil do Estado do Amazonas estima que 108 mil pessoas já tenham sido afetadas pela cheia nas calhas dos rios Juruá, Purus e Madeira em 2021. De acordo com o Tenente-Coronel Clóvis Araújo Pinto Júnior, coordenador de operações da Defesa Civil do Amazonas, no total, 31 municípios estão atualmente em situação de Alerta, 14 em situações de Emergência e 2 em Atenção no estado do Amazonas. Entre as ações realizadas até o momento estão a entrega de cestas básicas, a implantação de estações móveis de tratamento de água e a instalação de purificadores de água para o fornecimento de água potável para a população.

Para a capital Manaus, o Plano de Contingência para o enfrentamento da enchente da Prefeitura estima que entre 4 e 6,5 mil famílias serão atingidas pela cheia esse ano. A informação foi repassada pelo coronel Fernando Paiva Pires, que representou a Defesa Civil Municipal no evento.

Por dentro

O 3º Alerta de Cheias Manaus 2021 será transmitido no dia 31 de maio pelo Serviço Geológico do Brasil, mais uma vez pelo canal do YouTube (http://www.youtube.com/TVCPRM) com a terceira e última atualização das previsões para o ano de 2021.

Foto/Destaque: Divulgação

Andréia Leite

é repórter do Jornal do Commercio
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