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Neoliberalismo sem economês

Cada área de conhecimento possui vocabulário e procedimentos específicos para revelar conteúdo e realizar suas práticas. Na Medicina, por exemplo, o vocabulário e os procedimentos cuidam da vida, da saúde e da morte das pessoas, mas nem por isso são facilmente compreendidos pela maioria das pessoas. Na área econômica, o vocabulário específico é apelidado de “economês”. Uma palavra que integra esse vocabulário é “neoliberalismo”, presente em entrevistas, palestras e discursos de economistas e políticos.
O neoliberalismo é um conjunto de ideias políticas e econômicas capitalistas que defende a não participação do Estado na economia. Dessa forma, o governo é o agente econômico diferenciado responsável pela condução burocrática das políticas públicas, mas deixa a economia funcionar de acordo com as leis de mercado, oferta e demanda. O neoliberalismo incentiva a transformação de organizações estatais em organizações privadas; assim, o processo de privatização é dinamizado, para que os empresários pratiquem as regras capitalistas de determinação de preço baseadas nas leis de mercado e os c argos e funções sejam assumidos por competência de profissionais contratados para o trabalho e não para o emprego, como ocorreria no setor público.
Entre as características do neoliberalismo encontram-se também o incentivo à circulação do capital internacional, práticas de globalização, facilidades de crédito para os consumidores e preservação do meio ambiente apesar do desenvolvimento econômico. O neoliberalismo não é um sistema político e econômico; o capitalismo e o socialismo sim, esses são sistemas políticos e econômicos seculares.
As práticas neoliberais tomaram forma em muitos países a partir da década de 70 do século XX, após a Escola Monetarista do economista Milton Friedman ter estabelecido regras para combater a crise mundial de 1973, resultante da elevação dos preços do petróleo. Em seguida, o neoliberalismo foi adotado em muitas economias na tentativa de lidar com problemas do capitalismo como a elevação do desemprego e dos gastos do governo intrometido na economia, a redução do ritmo de desenvolvimento econômico devido à utilização irracional dos recursos naturais e a insustentabilidade do planeta como consequência do descaso ao meio ambiente.
A grande crise econômica mundial de 1929, após a quebra da Bolsa de Nova Iorque, foi consequência da adoção da Teoria Clássica desde o século XVIII, quando o economista clássico Adam Smith revelou que na economia existe “mão invisível” capaz de cuidar da relação entre a oferta e a demanda; por outro lado, o também economista clássico Jean Baptiste Say esclareceu que “toda oferta cria a sua própria procura”. Então, para os Clássicos a economia buscava o nível de pleno emprego dos seus fatores de produção (Capital, Terra e Trabalho); o equilíbrio. Dessa forma, a Teoria Clássica ou Liberal orquestrou a economia mundial até o final da década de 20 do século passado, quando, o excesso de oferta e o nível de desemprego elevaram-se tanto que causaram inúmeras falências de empresas nos países mais desenvolvidos economicamente, sendo a quebra da Bolsa de Nova York o acontecimento historicamente registrado com maior veemência. Os economistas clássicos ou liberais não conseguiram explicar a crise de 1929, assim como não apresentaram soluções.
Essas foram as circunstâncias econômicas que tornaram viáveis ao mundo, principalmente aos Estados Unidos, prestar atenção à Teoria Econômica desenvolvida pelo economista John Maynard Keynes, denominada Teoria Keynesiana, cujos princípios diferiam, em parte, da Teoria Clássica. Para Keynes, o governo deveria intervir na economia quando necessário, porque nem sempre o próprio mercado daria conta da auto-regulação, por mais onipresente e onipotente que fosse a “mão invisível” da Teoria Clássica; Keynes também esclareceu a importância da demanda efetiva, ou seja, os empresários devem produzir bens e serviços de acordo com a demanda preexistente, evitando assim a criação de uma oferta excessiva. Desde o ano de 1930, o mundo capitalista segue a Teoria Keynesiana.
Portanto, o neoliberalismo entrou em operação nesse ambiente keynesiano das economias capitalistas. Com as facilidades de crédito ao consumidor e as privatizações, a crise financeira de 2008 instalou-se inicialmente nas economias onde o neoliberalismo foi mais praticado e depois se irradiou para as economias periféricas; isso explica as relações do Brasil com a crise atual.

Redação

Jornal mais tradicional do Estado do Amazonas, em atividade desde 1904 de forma contínua.
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