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“Nem tudo que circula como informação jornalística na internet é feito por jornalistas profissionais”

Já está no YouTube a websérie ‘Memórias: jornalistas e relações públicas do Amazonas’ mostrando a trajetória de profissionais da área de comunicação social formados pela Ufam. O projeto foi criado e coordenado pela jornalista Cristiane Barbosa, PhD em Ciências da Informação com especialidade em Jornalismo e Estudos Mediáticos pela Universidade Fernando Pessoa, em Portugal, com reconhecimento no Doutorado em Comunicação pela Universidade Federal do Rio Grande do Sul. Nessa entrevista ao Jornal do Commercio, Cristiane, que foi jornalista do JC, falou sobre a websérie e os rumos do jornalismo em tempos de redes sociais.

Jornal do Commercio: Qual o objetivo da websérie ‘Memórias: jornalistas e relações públicas do Amazonas’?

Cristiane Barbosa: A websérie tem o intuito de apresentar a trajetória de profissionais da área de Comunicação Social formados pela Universidade. Esse projeto mostra para a sociedade os reflexos e resultados positivos da formação de profissionais ao longo das décadas nas duas habilitações de Comunicação da FIC/Ufam, oferecidas no âmbito da universidade pública e de qualidade. O curso de jornalismo forma profissionais no Amazonas há 53 anos e o de relações públicas há 45 anos.

JC: Hoje, com as redes sociais, todo mundo quer dar notícias. Como fica a atuação do jornalista profissional?

CB: Este cenário alterou a forma de produzir e de consumir notícias, apuradas com ética e qualidade profissional do jornalismo. Nem tudo que circula com ‘informação jornalística’ nas mídias digitais é produzido por jornalistas profissionais. Nesse sentido, a atuação do jornalista é cada vez mais importante e crucial para o combate à desinformação. Com a propagação das chamadas fake news (já não usamos mais esse termo, pois um dos principais princípios do jornalismo é a verdade e se é notícia falsa, jamais é notícia). O uso dessas ferramentas traz à tona o conceito de jornalismo colaborativo, interessante às empresas jornalísticas, que não pagam por elas. O uso das mídias sociais pelos jornalistas segue etapas de produção como identificação de pauta, geração de conteúdo e divulgação do resultado final.

JC: Como na política, o jornalismo se polarizou e muitas vezes extrapola nas informações seguindo a cartilha dessa ou daquela empresa de comunicação. Como você vê essa situação?

CB: É uma situação polêmica. Os jornalistas são profissionais que se veem numa encruzilhada: ser eminentemente ético, tentar suprir o máximo possível das carências do leitor, com informações seguras e por outro lado, precisam pagar suas contas e assim, atender demandas que distorcem as premissas jornalísticas em razão da linha editorial pautada em interesses avessos ao bem comum. É preciso que o profissional reflita e se posicione: ou atua forte no jornalismo ou no ativismo.

JC: Por causa dessa polarização, e por informações muitas vezes não verdadeiras, o jornalismo tem perdido credibilidade.

CB: Sabemos que nunca foi tão necessária e importante a figura do jornalista para a sociedade, em especial em tempos de polarização e desinformação. Infelizmente, o jornalismo tem sido alvo de ataques fortes e violentos nos últimos tempos. Daí surgiu o conceito de fact checking (checagem de fatos) e também aqui no Amazonas, o Sindicato dos Jornalistas Profissionais lançou em abril o ‘Selo de Jornalismo Profissional’, que visa combater a desinformação. Um levantamento publicado, em 2021, pelo Instituto Ranking Brasil mostra os veículos de comunicação na 5ª posição, ficando atrás do Corpo de Bombeiros/SAMU, Igrejas, Forças Armadas e Polícias. Uma pesquisa feita pelo Instituto Reuters de Estudos de Jornalismo da Universidade de Oxford mostra que 54% dos brasileiros afirmam confiar na imprensa. A porcentagem faz com que o país seja o 7º no ranking mundial de confiança nessa classe. A certeza na mídia aumentou 3 pontos no Brasil e foi a que apresentou maior crescimento.

JC: Você acredita que a imprensa, e mesmo as redes sociais, correm o risco de sofrer censura por parte de governos?

CB: Em pleno século 21, existe essa possibilidade. Governos aprenderam a driblar os efeitos libertadores da internet e condicionar a informação. Alguns afirmam que o nascimento da internet pressagiava a morte da censura, porém, alguns especialistas indicam que a censura está em pleno apogeu na era da informação. Um pioneiro da internet, John Gilmore, disse, em 1993, na revista Time: “A Rede interpreta a censura como um obstáculo a contornar”. Em muitos países pobres ou de regime autocrático as ações governamentais pesam mais que a internet na hora de definir como e quem produz e consome a informação.

JC: O curso de jornalismo da Ufam forma profissionais há 53 anos. O que mudou nessas mais de cinco décadas?

CB: Muito mudou no ensino e na prática jornalística, em especial por conta do avanço das Tecnologias de Informação e Comunicação. Alguns anos atrás, as faculdades de jornalismo costumavam acreditar que o sucesso na carreira estaria assegurado se o estudante soubesse uma coisa, e a soubesse bem. Agora, o profissional deve estar preparado para a multimidialidade, atuar em todas as frentes possíveis. Nesse sentido, a universidade possui um time de docentes altamente qualificados a fim de preparar os discentes para a realização de diversos produtos, tal como essa websérie que lançamos e também outros como podcasts, e-books, revistas especializadas, dentre outros.

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Evaldo Ferreira

é repórter do Jornal do Commercio
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