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Negociações salariais no comércio de Manaus esquentam

Negociações salariais no comércio de Manaus tem avanço

A crise da covid-19 não esfriou as negociações nos segmentos de varejo, atacado e supermercados de Manaus. E as expectativas de ambos são amparadas justamente pelos impactos da pandemia. Empregados reforçam que estão mais expostos a riscos e perdas econômicas. Patrões, por outro lado, argumentam que, depois de passar três meses de portas fechadas, estão com as finanças fragilizadas e não têm caixa para bancar as propostas. 

A data-base das categorias (1º de setembro) já está perto, mas as negociações ainda estão em sua fase inicial. Nesta segunda (24), o Sindivarejista (Sindicato do Comércio Varejista no Estado do Amazonas) fez sua contraproposta, que não agradou. Trabalhadores de supermercados e atacados sinalizam ir até o fim nas reivindicações e não descarta a possibilidade de uma inédita greve, caso não sejam atendidos.

Em sua proposta de aditivo, o Sindicato dos Empregados no Comércio de Manaus pede correção de 4,89% para o piso salarial – de R$ 1.125 para R$ 1.180 – e reajuste de 5% para os que ganham acima disso. Já o SINDECVARGAM (Sindicato dos Empregados no Comércio Varejista, Atacadista e Representantes de Gêneros Alimentícios de Manaus) quer elevar o piso dos atuais R$ 1.133 para R$ 1.178,30, além de reajuste de 3,30% para os demais trabalhadores. As duas entidades reivindicam aumento para o auxílio refeição (R$ 12 e R$ 11,50, respectivamente) e mudanças na cláusula do plano de saúde/odontológico.    

Na resposta despachada aos laborais, o Sindivarejista (Sindicato do Comércio Varejista no Estado do Amazonas) propôs R$ 1.147,50 para o piso dos comerciários e R$ 1.155,66 para o dos trabalhadores de “gêneros alimentícios”. Para ambos, o sindicato patronal sugere um congelamento por 12 meses no auxílio refeição e manutenção dos atuais termos de plano de saúde/odontológico, além de acenar com reajuste salarial de 2% – percentual abaixo do INPC acumulado de agosto (2,35%), que deve sofrer nova correção em setembro.

No texto endereçado aos dois sindicatos laborais, o Sindivarejista argumenta ainda que as contrapropostas representam “grande esforço” das empresas para manter empregos e o negócio funcionando, apesar das dificuldades apresentadas pelos impactos econômicos da pandemia do covid-19, e “na esperança de dias melhores”.

“Considerando os graves efeitos negativos (crise mundial da econômica) que a pandemia do novo coronavírus impôs, principalmente, ao comércio varejista, julgávamos até pleitear desse [sindicato] laboral a compreensão para mantermos os mesmos salários vigentes atualmente objetivando, sobretudo, a sobrevivência da maioria das pequenas empresas com a consequente preservação do emprego”, expos a entidade.

“Cláusulas econômicas”

Presidente do Sindivarejista, Teófilo Gomes da Silva Neto, informa que o sindicato patronal está em fase de negociações em quatro convenções, sendo três na capital (motoristas e ajudantes; empregados de gêneros alimentícios/supermercados; e comerciários de Manaus) e uma no interior (comerciários de Manacapuru e dos demais 60 municípios amazonenses). Conforme o dirigente, a única categoria que terá convenção nova é a dos motoristas.

“Com os outros três sindicatos, vamos negociar apenas cláusulas econômicas, assim como o plano de saúde/odontológico, pois a convenção assinada no ano passado tem vigência até 2021. Às vezes, os sindicatos pedem a inclusão de benefícios, mas os patrões não estão aceitando a inclusão dessas cláusulas neste momento de crise. Nossa assembleia, onde definimos a contraproposta foi realizada no dia 14 deste mês, no auditório da Fecomercio-AM, atendendo todo o protocolo vigente para reuniões”, informou.

Teófilo Gomes da Silva Neto diz que é normal que o sindicato faça um pedido maior para chegar a um valor médio e avalia que o INPC não deve chegar nem a 3%, em setembro. A despeito da distância entre as propostas de patrões e empregados, o dirigente se diz otimista em relação à conclusão das negociações.

“Já assinei acordos depois da data base e não e incomum que as negociações avancem até outubro ou novembro. Mas, acredito que devemos resolver isso em meados de setembro. Eles também têm interesse que seja logo, pois precisam fechar as folhas salariais. E o reajuste não é retroativo, pois ficaria complicado fazer os recolhimentos”, amenizou.

Estratégias de enfrentamento 

Secretário nacional de Organização Sindical da CUT-AM e do SINDECVARGAM, além de presidente da Comissão de Negociação para os comerciários, Carlos Fernandes, considera que a reivindicação laboral é justa, já que supermercados e atacadistas não fecharam as portas nos dias mais duros da pandemia, além de supostamente adotarem “políticas de preços” diferenciadas. 

“Por décadas, os trabalhadores do segmento sofreram perdas salariais e baixos salários. São profissionais que se dedicaram durante a pandemia, na linha de frente, para que não houvesse desabastecimento, principalmente de gêneros alimentícios. E enquanto trabalhávamos, os empresários lucraram absurdamente, tanto que denunciamos ao Ministério Público aumento abusivo de preços”, desabafou. 

De acordo com o sindicalista a cesta básica teve aumento superior a 30%, por isso seria não seria possível a “quem tanto contribuiu no período mais crítico da pandemia” aceitar um reajuste de 2%. Segundo Fernandes, a Comissão de Negociação vai se reunir para traçar estratégias de enfrentamento por um “salário justo” e também pela “defesa dos consumidores”.

Inflação e greve

O presidente do SINDECVARGAM, Amarildo de Souza Rodrigues, baseia as reivindicações em argumento semelhante, de que o segmento teve resultados positivos em meio à crise. O dirigente sindical reitera ainda que a categoria não abre mão do ganho salarial e da mudança na cláusula do plano de saúde, dada os riscos e perdas trazidos pela pandemia. 

“Perdemos pelo menos oito companheiros para a covid. Historicamente, em todas as convenções, nossa categoria sempre recebeu reajuste pela inflação, ou abaixo disso. Mas, trabalhamos para que agora seja diferente e estamos dispostos a ir até o fim para fim. Nunca houve uma greve, mas estamos confiantes e já estamos criando adesão dentro das empresas. E as empresas não vão querer isso perto do fim do ano”, encerrou.

Procurada pelo Jornal do Commercio por celular, telefone convencional da entidade, whatsap e até por recados enviados por terceiros, a presidente do Sindicato dos Empregados no Comércio de Manaus, Ana Marlene Aires Arguelles, não respondeu até o encerramento desta reportagem.

Marco Dassori

É repórter do Jornal do Commercio
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