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Negociação com trabalhadores do varejo segue no impasse

Os sindicatos patronais do comércio do Amazonas voltam a se reunir em assembleia, nesta segunda (27), para analisar a nova contraproposta da convenção dos trabalhadores vinculados ao Sindecvargam (Sindicato dos Empregados no Comércio Varejista, Atacadista e Representantes de Gêneros Alimentícios de Manaus). As negociações vêm se desenrolando desde o mês passado e pareciam ter entrado em impasse. As empresas queriam correção correspondente à metade do INPC e se restringir às cláusulas econômicas, enquanto os trabalhadores não abriam mão da inflação e das cláusulas sociais. A pandemia é usada como argumento em ambos os lados do balcão.   

Embora a data base das categorias do comércio amazonense já tenha ficado para trás, a situação não é mais fácil nos demais segmentos que estão à mesa. O Sindicato dos Empregados no Comércio de Manaus foi o primeiro a fechar, com reajuste linear de 4,76% para todos – para um INPC anual de 10,42%. Como o Sindcomam (Sindicato dos Empregados no Comércio de Manacapuru e Região) não aceitou os mesmos termos, a tramitação segue travada. A situação não é diferente para o Sindicargas-AM (Sindicato dos Trabalhadores em Empresas de Transportes de Cargas do Estado do Amazonas), que deve receber nova contraproposta patronal, nos próximos dias.

Em sua proposta inicial, o Sindecvargam havia pedido uma correção salarial geral de 11,06%, mais 5% de ganho real. O sindicato laboral também apresentou outras propostas consideradas “controversas” pelos representantes do varejo e do atacado do Amazonas, a exemplo de plano de saúde e odontológico, empréstimo consignado, acordo coletivo de compensações e três pisos para a categoria, conforme porte da empresa (R$ 1.296, R$ 1.307 e R$ 1.319). A proposta foi rejeitada pelos sindicatos patronais, assim como a segunda, que teria mantido cláusulas consideradas pelas empresas como polemicas, além de apresentar novas reivindicações. 

Em reunião ocorrida na sede da Amase (Associação Amazonense de Supermercados), no dia 16 de setembro, as negociações sinalizaram avanço, com um encaminhamento de uma nova proposta laboral. Em linhas gerais, conforme dados fornecidos pelo Sindecvargam, ela consiste em uma correção salarial de 7%, para os trabalhadores que ganham apenas pelo piso, e um aumento de 6% para os demais que recebem mais do que isso. O sindicato laboral, contudo, diz que não abre mão de um vale alimentação de R$ 14 para todos.

Outro ponto listado é a quebra de caixa de 10% – verba destinada a cobrir os riscos assumidos pelo empregado que lida com dinheiro da empresa –, “ou opção de não pagar, se não cobrar diferença”. Há ainda previsão de desconto compulsório de R$ 10 para cada empregado, a título de contribuição sindical, “com direito a oposição [do trabalhador], [desde que] entregando carta no Sindecvargam”. Finalmente, cada empresa ficaria obrigada a contribuir com R$ 6 por colaborador, para ajudar na saúde do mesmo. A operação seria intermediada pelo sindicato e as empresas que já pagam planos de saúde estariam excluídas dessa contribuição. 

Emprego e instabilidade

O presidente do Sindecvargam, Amarildo de Souza Rodrigues, conta que a contraproposta das empresas previa um reajuste de 3,3%, para quem ganha acima do piso, e de 4,7%, para o piso salarial. O sindicalista argumentou que os termos eram “inviáveis” para a categoria, tendo em vista “a inflação muito alta”. O dirigente acrescenta que, diante do impasse prolongado, e da necessidade de manter empregos em um ambiente de instabilidade econômica, resolveu reformatar a propositura inicial, com termos mais palatáveis ao patronato.

“Enviamos uma nova proposta de 7% para todos, desde que as empresas paguem, de forma compulsória, um plano odontológico para todos os trabalhadores. Queremos também a manutenção do seguro de vida, do auxílio funeral e da quebra de caixa. E não aceitamos uma contraproposta abaixo de R$ 14 para o ticket alimentação. Temos a expectativa de que as empresas vão chegar a um acordo. Esperamos que os patrões tenha sensibilidade. Caso não aceitem, não teremos alternativa, a não ser fazer mais manifestações de advertência, parando nos quatro cantos da cidade, além de chamar a atenção do trabalhador e do consumidor”, frisou. 

“Fragilidades financeiras”

Em entrevistas anteriores, o presidente do Sindivarejista, Teófilo Gomes da Silva Neto, já havia mencionado que o ponto que vem travando o entendimento entre ambos os lados é justamente o repasse do INPC “cheio”, com percentual de dois dígitos. Assim como ocorrido nas etapas anteriores das negociações, os sindicatos patronais reiteraram que as fragilidades financeiras das empresas, decorrentes de seis meses de fechamento impostos por duas ondas intercaladas da pandemia e suas medidas de isolamento social, não permitem maiores concessões.

Também mencionou que as negociações são sempre “delicadas” e raramente conclusivas no primeiro encontro, embora ainda apostasse na possibilidade de chegar a uma conclusão até meados deste mês, para que os RHs das empresas tivessem tempo hábil de incluir o novo piso e o novo reajuste salarial nas folhas de pagamento. Indagado novamente a respeito da questão, pela reportagem do Jornal do Commercio, o dirigente informou que está aguardando a assembleia, para tecer maiores conjecturas, mas se mostrou menos otimista em relação à nova etapa de negociações.

“Com toda a sinceridade, não tenho nenhuma ideia de como se deve dar o desfecho, já que as decisões em assembleia são sempre definidas por maioria, com um voto para cada empresa. O empresário sempre puxa para baixo. Mas, temos argumentações para tentar manter a proposta laboral. Talvez não toda, mas pelo menos parte dela. Mas, posso dizer que descontar de todos os empregados R$ 10 por mês, mesmo com direito à oposição, já foi considerado pelo STF [Supremo Tribunal Federal] como ilegal”, arrematou. 

Foto/Destaque: Divulgação

Marco Dassori

É repórter do Jornal do Commercio
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