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Na guerra contra a dengue

A epidemia de dengue atinge proporções alarmantes e a pulverização aérea de inseticida precisa ser considerada como uma alternativa para controlar a disseminação da doença. Com mais de 90 mortes e 75 mil pessoas contaminadas, o Estado do Rio de Janeiro necessita urgentemente de uma estratégia de guerra. A situação começa a ficar mais grave também em outras cidades e o próprio Ministério da Saúde já admite risco de epidemia em 16 estados brasileiros em 2009. A incidência de dengue no país aumentou quase 50% entre 2006 e 2007.
Não adianta tratar as conseqüências sem uma ação efetiva sobre a causa do problema. O que vemos hoje é o governo indo para a guerra sem atacar o inimigo, só tratando os feridos. Diante de uma epidemia é preciso agir com rapidez.
Em quatro semanas, três aplicações seguidas do inseticida Malathion em Ultra Baixo Volume, por via aérea, têm o poder de conter a epidemia provocada pelo mosquito Aedes aegypti. O método é utilizado rotineiramente há mais de 30 anos na Hungria, em estados norte-americanos e em Cuba, sem efeitos nocivos para a saúde humana e ao meio ambiente. Estamos falando de liberar 400 ml de inseticida por hectare. O resultado: redução de 98% da população de insetos adultos 24 horas após a aplicação.
O histórico brasileiro registra um caso de sucesso de uso de avião no controle de mosquitos. Em 1975, a Sucen, órgão do Governo Paulista, controlou uma epidemia de encefalite transmitida pelo Aedes aegypti no litoral de São Paulo, com aplicações de inseticida via aérea.
A técnica de pulverização aérea é prevista na legislação brasileira. O decreto que regulamenta a Aviação Agrícola admite a possibilidade de aeronaves agrícolas que contenham produtos químicos sobrevoarem áreas povoadas em casos de controle de vetores. Da mesma forma, a nota técnica nº 75/2007 do Ministério da Saúde esclarece aplicações aéreas se justificam em situações de graves surtos de dengue com elevação dos episódios de febre hemorrágica. Ou seja, justamente o momento em que vivemos.
Um mosquito, em seu ciclo de vida, põe de 600 a 1.000 ovos. O efeito do inseticida, além de eliminar os mosquitos expostos, cria uma barreira finíssima formada pelo filme de micropartículas do inseticida oleoso que se espalham sobre a água dos criatórios e matam as larvas quando as mesmas sobem para respirar.
Segundo estudos desenvolvidos pelo CBB (Centro Brasileiro de Bioaeronáutica), seis aeronaves agrícolas seriam suficientes para cobrir toda a cidade do Rio de Janeiro e arredores e fariam o trabalho complementar à pulverização terrestre (fumaces) e à conscientização da população.
Um avião tipo turbina aplicando inseticida trata 35 hectares por minuto. Um equipamento terrestre leva 6 minutos para pulverizar um hectare, dependendo de ruas ou trilhas para se movimentar. O avião tem, portanto, o rendimento operacional de 210 equipamentos terrestres.
É evidente que, por ser um trabalho altamente especializado, há necessidade de uma seleção rigorosa dos equipamentos, uma calibração cuidadosa, treinamento das tripulações e montagem de um sistema de fiscalização eficiente dos produtos utilizados e das neblinas produzidas, além de um monitoramento constante das condições atmosféricas dos locais por ocasião da realização do tratamento. E isso é possível de ser viabilizado. Basta vontade política.
O mundo mudou e a convivência com o mosquito nos grandes centros urbanos é inaceitável. O exemplo bem-sucedido de outros países deve ser um modelo a ser copiado neste momento de expansão da dengue. A pulverização aérea é eficaz e dá resultado. Se não for tomada uma solução rápida, os surtos continuarão a se suceder, como já vem acontecendo nos últimos 12 anos. Não dá mais para esperar, até porque o mosquito já está sendo levado para outros municípios e estados. Uma ação definitiva contra a dengue é o Brasil precisa e o que a população espera.

NARCOS VILELA MONTEIRO é engenheiro Agrônomo, piloto agrícola há 48 anos e diretor do Centro Brasileiro

Redação

Jornal mais tradicional do Estado do Amazonas, em atividade desde 1904 de forma contínua.
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