Pesquisar
Close this search box.

Município desfaz homenagem a Emídio

Os empresários da indústria e do comércio local não entendem como o primeiro presidente da Companhia Industrial Amazonense, pioneira na industrialização do estanho, e responsável direto pela construção do Tropical Hotel de Manaus -na área da Ponta Negra, zona oeste-, o comendador Emídio Vaz D’Oliveira, ainda não teve seu nome na lista dos imortais, apesar de ter falecido há mais de 12 anos, em 30 de dezembro de 1997.
Tentativa neste sentido já houve na Câmara Municipal de Manaus pelo ex-vereador Fabrício Lima, atual secretário de Esporte, Juventude e Lazer. O então vereador propôs que a passagem subterrânea situada na avenida Jornalista Umberto Calderaro Filho (ex-Paraíba), se chamasse Emídio Vaz D’Oliveira – conforme lei municipal 1.056, de 16/11/2006. O ato foi alterado pelo atual prefeito de Manaus Amazonino Mendes em 4 de março de 2010 e a obra passou a se chamar Antônio de Andrade Simões.
Enquanto isso, o ex-governador de Pernambuco, Miguel Arraes, teve seu nome incluso no viaduto do V8 com a Recife, na administração do prefeito Serafim Corrêa. Já o da avenida Caco Caminha com a Constantino Nery foi batizado de Luis Eduardo Magalhães, ex-deputado federal pelo PFL da Bahia. A homenagem foi feita no governo de Amazonino Mendes, cujo prefeito era Alfredo Nascimento. “São homenagens incompreendidas por empresários locais, se tratando de personalidades que não fizeram nenhum trabalho em prol do Estado do Amazonas”, segundo o presidente da Fecomercio (Federação do Comércio do Estado do Amazonas), José Roberto Tadros.
O empresário disse que até hoje ninguém entendeu a homenagem que se fez a Miguel Arraes, que nunca defendeu um projeto pelo Amazonas e sequer esteve no Estado. O dirigente garante que o mesmo nunca colocou o pé em terra amazonense e foi homenageado. “Isso não tem explicação, assim como não tem para outros que foram homenageados em detrimento a personalidades que tiveram uma história de vida junto ao povo amazonense como fez o comendador Emídio Vaz D’Oliveira”, defendeu.  
Na opinião de Tadros, o comendador é um imortal por conta dos inúmeros benefícios realizados no Estado do Amazonas, que culminaram no desenvolvimento de Manaus, hoje considerada a cidade mais desenvolvida da região Norte. “Teve uma participação atuante também nas instituições sociais e beneméritas da capital, o que lhe rendeu inúmeras comendas, inclusive o título de ‘Cidadão de Manaus’, pela Câmara Municipal”, comentou.

De Portugal para Manaus

De origem portuguesa, Emídio Vaz D’Oliveira nasceu em Vila Real, na região de Trás-os-Montes, Portugal em 19 de janeiro de 1910. Aos 17 anos, veio ao Brasil acompanhado dos seus pais, já com o curso ginasial completo. Desembarcou no Porto de Santos, São Paulo, no dia 8 de junho de 1927, permaneceu algum tempo na cidade paulista e veio para Manaus em 1932, atendendo a um convite do irmão José Vaz D’Oliveira. Na época, a cidade possuia apenas 80 mil habitantes de um total de 420 mil no Estado, e estava vivendo o declínio do ciclo da borracha.
José Roberto Tadros, conviveu com o comendador Emídio –que era amigo de seu avô e compadre de seu pai-, o define como um homem probo, correto, leal e de uma honestidade inquestionável. “O Emídio, assim como o Samuel Benchimol, que dedicou sua vida escrevendo livros sobre as belezas e os recursos naturais da Amazônia, são lendas vivas que merecem ser reconhecidos por todas as gerações pelo muito que fizeram por este Estado”, defendeu.
A antiga residência de Emídio Vaz D’Oliveira, no centro de Manaus, foi transformada pela Secretaria de Cultura do Estado na “Biblioteca e Centro de Artes Infantil Emídio Vaz D’Oliveira”, desde novembro de 2001 e hoje atende crianças de 4 a 10 anos, do pré-escolar ao fundamental. Em 19 de janeiro de 2002 Emídio recebeu post mortem, uma homenagem definitiva dos seus saudosos amigos e admiradores.Tem seu nome adotado na Ordem do Mérito Luso-Brasileiro do Amazonas “Comendador Emídio Vaz D’Oliveira”, instituída com o objetivo de homenagear personalidades que se destacam em diferentes áreas de atuação voltadas para o progresso do Amazonas. Foram fundadores dessa Ordem do Mérito seus amigos José Moura Teixeira Lopes, Alfredo Ferreira Pedras, José dos Santos Silva Azevedo, Alfredo Monteiro Vieira, José Bernardo Cabral, Phelippe Daou, Milton de Magalhães Cordeiro e Abrahim Sena Baze.

Pessoas ilustres

O secretário Fabrício Lima defende esse resgate da história de Manaus a partir do nome de pessoas ilustres que muito contribuíram com o desenvolvimento da cidade em suas área de atuação nos segmentos empresarial, cultural, científico, político, religioso e social. “O Amazonas é rico em personagens a merecer a honra de serem imortalizados”, defendeu.
Na opinião de Fabrício, historicamente é importante que o poder público estadual e municipal prestigie as personalidades locais e que isso fique registrado para que as futuras gerações tomem conhecimento. “Pessoas que contribuíram para o crescimento desta cidade não podem ficar à margem do processo histórico”, defendeu, ressaltando que a Câmara Municipal pode fazer um trabalho neste sentido.

Padrinho político

Outro nome que tem que se manter imortal é o de Gilberto Mestrinho. Moura disse se tratar de uma referência política no Estado, padrinho dos atuais administradores do Estado e município e que não pode ter seu nome constado apenas em um viaduto. A defesa é grande para que seu nome conste em um memorial, a exemplo do que foi feito para JK, em Brasília. Uma forma de colocar as coisas sob uma perspectiva que contemple tanto a figura de Emídio Vaz D’Oliveira, Antônio de Andrade Simões, Samuel Benchimol como Eurípedes Lins, e tantos outros no panteão de homenageados pelos munícipes.

Pessoa de atividades comerciais e industriais arrojadas

Segundo o dirigente, as atividades comerciais e industriais do empresário foram arrojadas. Organizou e dirigiu em Manaus as empresas E.V D’Oliveira & Cia, E.V D’Oliveira & Cia (seguros) Ltda., e Oliveira Barbosa & Cia. Participou como acionista e membro do Conselho Fiscal da Companhia Brasileira de Juta, pioneira na industrialização da fibra no Amazonas, atividade que durante muitos anos foi o sustentáculo da economia amazonense, e membro efetivo do Conselho Superior da ACA (Associação Comercial do Amazonas), o que lhe rendeu a Medalha do Mérito Empresarial J.G. Araújo.
O empresário José de Moura Teixeira Lopes informou que a Varig foi, durante muitos anos representada na região Amazônica pela Oliveira Barbosa & Cia, uma das empresas do comendador Emídio, que também presidiu a Sociedade Portuguesa Beneficente do Amazonas.
Na opinião de Moura, Emídio era um conciliador extraordinário, uma figura humana agradável, um homem com amplo relacionamento social em Manaus, além de amigo de várias personalidades políticas, entre os quais ex-governador e senador pelo Amazonas, Gilberto Mestrinho. “Se Gilberto ainda estivesse vivo e fosse ser homenageado, mas para isso tivesse que tirar o nome do comendador Emídio para colocar o seu não aceitaria a homenagem”, assegurou.
O atual presidente da Sociedade Portuguesa Beneficente do Amazonas, Alfredo Monteiro Vieira, disse ter tido pouco contado com Emídio -pela diferença de idade-, mas o diagnóstico dos integrantes do Conselho da Comunidade Luso-Brasileira no Amazonas –a qual o comendador presidiu por um período- é que ele foi um importante empreendedor. “Ele é apontado como uma referência pelos membros da comunidade”, informou.

Redação

Jornal mais tradicional do Estado do Amazonas, em atividade desde 1904 de forma contínua.
Compartilhe:​

Qual sua opinião? Deixe seu comentário

Notícias Recentes

Pesquisar