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“Mulher pode crescer sem deixar de ser quem é” diz Renata Torres

Todo Dia Internacional da Mulher é a mesma coisa. Inúmeras matérias jornalísticas mostrando a desvantagem das mulheres em relação aos homens no ambiente corporativo, uma história que parece não ter fim. Pensando nisso, as empreendedoras Carine Roos e Kaká Rodrigues criaram a Newa, empresa especializada na capacitação de líderes e colaboradores, mas que prega a igualdade de gênero, sexualidade e etnia no time das empresas. Renata Torres, Head de Operações e Consultoria na Newa, falou ao Jornal do Commercio um pouco mais sobre como está a situação das mulheres dentro desses ambientes.

Jornal do Commercio: Num ambiente empresarial ainda há muita desigualdade de gênero? 

Renata Torres: Com certeza. E em cargos de liderança, o panorama está piorando. Segundo a pesquisa ‘Estatísticas de gênero: indicadores sociais das mulheres no Brasil’, divulgada pelo IBGE agora em março, com dados de 2019, mesmo tendo mais anos de estudo e frequentar mais a escola que os homens, as mulheres ocupavam 37,4% dos cargos gerenciais e recebiam apenas 77,7% do salário dos homens. Na edição anterior da pesquisa, publicada em 2018 com dados de 2016, elas ocupavam 39,1% desses postos de trabalho, enquanto os homens preenchiam 60,9% das vagas. O salário se manteve praticamente inalterado no período, elas ganhavam 77,5% do salário dos homens. A tendência é que para a análise a ser feita a partir de 2020 os números sejam ainda piores, já que durante a pandemia sabemos que as mulheres foram as mais impactadas na perda de emprego, o que até gerou o termo ‘she-cession’. O Fórum Econômico Mundial, em seu relatório de 2020, afirmou que seriam necessários 250 anos para as mulheres conseguirem a mesma participação no mercado de trabalho, salário e presença em cargos de liderança que os homens. No Brasil, segundo o relatório, levaríamos mais de 50 anos. Isso torna urgente que as empresas criem ações efetivas para mudar o cenário em que mulheres demoram mais tempo para chegar às posições de liderança e que sejam reconhecidas adequadamente pela sua contribuição.

JC: O que leva um chefe, ou colega de trabalho, a achar que sua colega é inferior na inteligência ou na capacidade? 

RT: Essa situação está relacionada às características machistas de nossa sociedade patriarcal, onde muitas pessoas ainda pensam que as mulheres devem cumprir apenas o papel de esposa e mãe, cuidar da casa e da família. Ocupar espaços que até poucos anos eram privilégio dos homens, traz desconforto e desconfiança. Dependendo do mercado, essa visão é ainda mais limitada, como na tecnologia, por exemplo. Mulheres normalmente não são associadas com aptidões lógicas e com as áreas de exatas, estando mais relacionadas às áreas da comunicação, marketing e ciências humanas. Conseguir identificar comportamentos machistas é essencial para que um líder de fato trate as pessoas de acordo com fatos e não em função de lentes embaçadas pelo preconceito.

JC: O que levou vocês a abrir a Newa? 

RT: A Newa nasceu de um projeto comum entre as sócias: colaborar na transformação das empresas em ambientes mais diversos e inclusivos, através da formação de líderes mais conscientes de seu papel na transformação da sociedade com mais equidade e justiça social. Cada uma de nós traz uma história diferente, seja uma vida inteira atuando na liderança de grandes empresas sempre com a preocupação no desenvolvimento de líderes conscientes, seja no empoderamento de mulheres e mulheres negras, seja na criação de programas de transformação de diversidade e inclusão. 

JC: Hoje cada vez mais mulheres estão se tornando líderes empresariais? 

RT: Sim, mesmo sendo bem lenta a velocidade em que esse movimento acontece. Mas é perceptível que a busca por equidade de gênero em todas as esferas da sociedade é um movimento sem volta. Empresas com uma liderança mais diversa têm receitas provenientes de inovação 19% maior que empresas com menos diversidade nas camadas de liderança. Diversidade é uma área estratégica para todas as empresas, seja por permitir a criação de ambientes mais propícios ao bem-estar dos colaboradores, por permitir que as empresas cumpram seu papel dentro da transformação da sociedade, ou porque traz resultado no bottom line das empresas.

JC: O que fazer para que a mulher líder não tenha os mesmos defeitos do homem líder? 

RT: Durante muito tempo muitas mulheres, equivocadamente, assumiram posturas e comportamentos de líderes homens porque entendiam que isso era necessário para que fossem vistas como capazes de ser reconhecidas pelo seu trabalho. Hoje ainda podemos encontrar mulheres com esse comportamento. O processo de autoconhecimento e desenvolvimento da liderança feminina é importante nesse sentido, porque dá à mulher a consciência de que ela pode crescer na carreira sem deixar de ser quem é, sem ter que abrir mão da sua essência. Faz com que a mulher se aproprie de seu poder pessoal para exercer liderança e influenciar outras mulheres a fazerem o mesmo, através do exemplo e do compartilhamento de suas conquistas e seus desafios. Esse é o verdadeiro empoderamento feminino, que para ser real deve ser coletivo e permitir que um grupo de mulheres avance no sentido da equidade de gênero.

Foto/Destaque: Divulgação

Evaldo Ferreira

é repórter do Jornal do Commercio
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