Pesquisar
Close this search box.

Mulher ainda é exceção na política

https://www.jcam.com.br/3005_A8.jpg

Apesar do aumento expressivo do número de mulheres candidatas a cargos eletivos na última década, a proporção de eleitas não acompanhou o mesmo ritmo. Um estudo elaborado pela Pulso Público a pedido do Transparência Partidária, aponta que entre 2008 e 2016, as mulheres representam 13% do número total de candidatos eleitos. De acordo com especialistas, o baixo interesse do público feminino e uma estrutura política em processo de reformulação são um dos motivos que explicam os indicadores
Segundo o cientista político, Breno Rodrigo, apesar do esforço do judiciário brasileiro em criar pautas de inclusão da mulher no processo político em virtude do conjunto de demanda da sociedade, ainda existe a questão cultural e a falta de interesse do público feminino em se envolver no mundo da política. Fatores que segundo ele, não contribuem para mudar o cenário.

“De certa maneira o judiciário tem artificializado todo esse processo, e na prática os partidos políticos não conseguem levantar a quantidade de mulheres que a legislação exige para concorrer às eleições. O próprio Partido da Mulher Brasileira que está em processo de legalização e formalização, pouco consegue atingir a meta estabelecida pela justiça. Na verdade as mulheres brasileiras em geral, não tem muito interesse de participar do processo político, não é uma demanda delas, sendo que aos poucos elas estão tentando ser mais participativa nesse processo”, disse.

Na última terça-feira (22), o TSE (Tribunal Superior Eleitoral) decidiu que os partidos políticos devem reservar um mínimo de 30% do fundo eleitoral e do tempo de TV e rádio para as candidaturas femininas. De acordo com o Transparência Partidária, a postura é de suma importância para a mudança do cenário e como uma maneira de estimular tantos partidos políticos a mudar a forma de escolha, quanto diminuir baixa a participação da mulher no processo.

Rodrigo explica, que por se tratar de uma democracia ainda dominada pelos homens e alicerçado na cultura brasileira, a melhor maneira de estimular mudanças significativas, seria a mudança de comportamento das próprias mulheres. E explica, que não basta criar uma legislação especifica para mudar algo que é comportamental. “Temos muitos partidos políticos que são oligarquizados, isso em linhas gerais é uma tendência das democracias. O mundo da política ainda é muito do mundo masculino. E não é por meio de um artificialismo jurídico que de fato poderíamos mudar isso. Vejo muito mais um excesso de ativismo do judiciário que não corresponde necessariamente à realidade. A solução seria que as próprias mulheres por meio de sua iniciativa ou uma mobilização partidária, conseguisse de fato participar do processo político”, ressaltou.

Segundo o presidente do PSB no Amazonas, Serafim Corrêa, a pouca participação do público feminino na política ainda está muito ligado ao comportamento social do brasileiro. “As pessoas ainda rejeitam a política. E as mulheres não querem saber. É muito raro para quem tem uma vida partidária conhecer uma mulher atuante e participativa da política. Elas não querem entrar nesse contexto onde as pessoas são mal vistas. Não existe interesse, porque é algo cultural. Elas não querem ser candidatos e não elegem o público feminino participante. Isso é algo natural e complexo, apesar de se notar mudanças”, disse.

Mudança de postura

Nesse cenário de mudança de postura e atitude, que a vereadora Joana D’arc (PR) desembarcou no mundo da política em 2016. Defensora da causa dos animais, a parlamentar, faz parte das 7 mil vereadores que foram eleitas em 2016, do total de 145.230 participantes, segundo o resultado das últimas eleições. Dos 41 vereadores que compõem o parlamento da CMM (Câmara Municipal de Manaus), ela faz parte das quatro vereadoras mulheres da casa: Glória Carrate (PRP), professora Jacqueline (PHS) e professora Terezinha Ruiz (PSDB). Na Aleam (Assembleia Legislativa do Estado do Amazonas), dos 24 deputados apenas 1 é mulher: Alessandra Campêlo (MDB).

Joana D’arc explica os desafios e dificuldades em atuar em uma política dominada pelo público masculino, como o respeito dos parlamentares, alguns comportamentos machistas e explica a atuação de como os partidos políticos fazem no processo de escolha das chapas, que segundo ela, na maioria das vezes ocorrem somente para compor a chapa e cumprir o que a legislação exige. E alertou sobre o risco de distorções que o fundo eleitoral para mulheres pode sofrer, principalmente se não for acompanhada da maneira correta e com responsabilidade.

“Já enfrentei grandes desafios como ter o microfone cortados e muitas vezes os homens roubarem minhas ideias e dizerem que era deles. A maioria dos partidos procuram as mulheres apenas para fazer composição de coro. Eu vejo que mulher na política só serve para cumprir cota. Há muita desigualdade na questão financeira. Por isso veio essa consulta do TSE que é um movimento nacional de mulheres da política, para que possamos ter direito a uma cota do Fundo partidário em porcentagens, para justamente os partidos serem obrigado a direcionar aqueles recursos e não ficar a critério dos dirigentes que direcionam tudo”, disse.

A vereadora ressaltou a importância da mulher brasileira ser mais participativa no processo político do país e apoiar as que se candidatam, analisando todas as propostas e trabalho de cada uma retendo o que é bom para o Brasil. “As mulheres devem ser incentivadas a fazer parte da política, não apenas para fazer composição de chapas, mas para que ela tenha condições efetivas e todos os recursos disponíveis para serem vencedoras nas eleições. As mulheres que votam devem dar um voto de confiança a uma mulher, porque representamos mais de 60% da população do nosso estado e não temos 5% de mulheres nos representando nos cargos de poder”, disse.

Desafio

Pré-candidata à deputada federal nas eleições deste ano, a empresária Michelle Guimarães explica que existe muitos fatores além do cultural, que impedem que a mulher seja mais participativa na política, e citou as múltiplas funções exercida por elas na sociedade. “Infelizmente ser candidata requer muitas renúncias, nós acumulamos muitas funções, mãe, dona de casa, por vezes a provedora do lar. A mulher independente ainda sofre preconceito sim, porque sempre vão dizer que ela está sendo negligente em alguma coisa, como a criação de filhos por exemplo. Se não tivermos uma estrutura adequada e o apoio da família, realmente se torna inviável”, disse.

Guimarães ressaltou que a questão da mulher no processo eleitoral é complexa, pois tudo ainda é muito recente, tal como a democracia no Brasil e próprio direito da mulher ao voto. E afirmou que é fundamental que o fundo eleitoral para mulheres seja assumida como uma pauta de todos, funcionando na prática para que elas se sintam encorajadas e acreditar que é possível ser eleita em algum cargo importante.

“Os partidos estão se adequando aos poucos. Mas creio que é preciso criar espaços de formação política feminina dentro das legendas. A emancipação da mulher na sociedade ainda é muito recente aqui no Brasil. A mulher vota apenas há 80 anos, e isso não está nem perto de países mais desenvolvidos na Europa. Tudo está encaminhando em um processo. Então estamos ainda vivendo em um processo evolutivo”, disse.

Redação

Jornal mais tradicional do Estado do Amazonas, em atividade desde 1904 de forma contínua.
Compartilhe:​

Qual sua opinião? Deixe seu comentário

Notícias Recentes

Pesquisar