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Momento dos livros artesanais

Momento dos livros artesanais

Editar um livro é caro, sempre foi caro, pois envolve vários profissionais e maquinário sofisticado e, para ter uma redução no preço, o ideal é rodar uma grande tiragem, porém, grande tiragem requer boa distribuição para que os livros logo sejam vendidos, caso contrário, vão empoeirar na casa do autor. É aí que surgem as editoras de livros artesanais, editando de um a quantos exemplares o autor desejar, e por um valor até menor do que o de uma editora industrial.

“Eu já pensava em criar uma editora em meados de 2019, no final de minha graduação em Letras. Não só eu, mas outros amigos também sentiam a falta de uma editora em Manaus que atendesse às nossas necessidades. Ficávamos reféns de editoras independentes do Sul e Sudeste que, muitas vezes, eram dispendiosas e não atendiam às nossas expectativas. Em suma, queríamos ter o domínio sobre nossas próprias produções, mas também trazendo uma perspectiva nova”, contou Luana Aguiar, aluna do Programa de Pós-Graduação em Letras e Artes da UEA.

“A ideia foi se formando aos poucos e esse desejo se concretizou em setembro passado, quando formalizamos a empresa e começamos a, de fato, organizar a obra. Surgiu assim a Editora Transe”, completou.

As folhas são costuradas com uma linha resistente e um agulhão

Na Editora Transe, a diagramação é feita pela própria Luana. Os livros são impressos em papel pólen avena de 80g/m², de tom amarelado. A impressora é a comum, doméstica. Após impressas, as folhas são dobradas e encaixadas em um berço de furação, onde a lombada é furada com um agulhão. Depois disso, os livros são costurados com uma linha resistente.

Os livros são impressos em papel pólen avena de 80g/m², de tom amarelado

Os quatro amigos

Além de Luana, outros três colegas integram a Editora Transe: Victor Leandro da Silva, filósofo e professor da UEA, atua no comercial e na compra de materiais para os livros; Anne Caroline Nascimento, mestranda do Programa de Pós-graduação em Letras e Artes da UEA, trabalha na parte de revisão dos textos; e Bruno Oliveira, graduando do curso de Letras da UEA, ajuda Luana na produção dos livros.

O objetivo dos quatro amigos é publicar obras literárias inéditas dos mais diversos gêneros literários (contos, romances, poemas, crônicas), bem como incentivar a produção de um núcleo de tradutores na região, através de publicações de traduções de obras de domínio público ainda sem tradução para a língua portuguesa.

“Dentro do meio acadêmico, percebemos um potencial muito grande de jovens tradutores de língua italiana e estudos em latim, por exemplo, que podem contribuir imensamente para o desenvolvimento da intelectualidade no Amazonas. Além disso, pretendemos criar um selo editorial, o Transe Crítico, onde iremos publicar obras teóricas da área de Humanidades (Crítica Literária, Filosofia, História), no formato de dissertações, coletânea de artigos e ensaios”, informou.

Com apenas três meses de existência, a Transe já editou dois títulos: ‘Estocolmo’ e ‘Prelúdios’. O primeiro livro trata-se de um pequeno romance de formação escrito por Victor Leandro, e é considerado o nº 0 da editora, “pois foi a partir dele que aprendemos a manusear as técnicas, foi nosso livro-experimento. Já ‘Prelúdios’ é nosso livro nº 1, uma coletânea de contos, crônicas e poemas de diversos novos escritores”, disse Luana.

Com apenas 3 meses, a Transe já editou dois títulos: ‘Estocolmo’ e ‘Prelúdios’

“Os custos para a produção dos livros artesanais são extremamente baixos e nem se comparam com os de uma editora industrial. Fizemos algumas pesquisas de mercado com grandes gráficas e vimos o quanto o valor final do produto seria inviável para o consumidor. Queremos fazer um produto de qualidade, mas que seja acessível ao público leitor. Sem contar com os gastos relacionados ao tempo, temos condições de vender nossas obras entre 10 e 30 reais”, falou.

Novos escritores

E já começam a aparecer escritores interessados no trabalho da Transe. Algumas pessoas têm mostrado interesse em publicar seus livros, perguntando como funciona o processo de edição.

“Isso nos deixa muito felizes, pois comprova aquilo que havíamos observado desde o início: há muitos escritores no Amazonas e redondezas. O que não há é oportunidade, local específico e de confiança para essas pessoas publicarem suas obras”, afirmou.

A ideia da Editora Transe é ser uma alternativa à mecanização e à produção em massa de livros, trazendo um novo olhar para a composição das obras literárias. São livros únicos em que o grupo de amigos dedica tempo e afeto na confecção. Os exemplares podem ter capas com diferentes texturas, ser de papelão reciclado ou ter pinturas exclusivas.

“Tudo isso faz parte de um movimento de editoras artesanais e independentes que busca essa forma de produção de livros em frente à crise econômica e cultural, e que pensamos, aos poucos, incorporar à nossa editora”, contou.

“O fato de serem livros artesanais os torna únicos e confeccionados sob demanda, inicialmente alguns, para divulgação e, depois, quantos mais forem solicitados, de acordo com as encomendas dos leitores, dentro de um prazo de 15 dias”, concluiu.

Na Transe também é feita a diagramação e a revisão dos textos. Contatos: e-mail: [email protected]; Instagram: @editoratranse; WhatsApp: 9 8215-1840.

Evaldo Ferreira

é repórter do Jornal do Commercio
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