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Metade do salário é gasta em alimentação

O custo básico com alimentação das famílias empregadas no setor de comércio e serviços e no parque industrial local abocanha quase a metade do rendimento mensal (47,08%) de um operário do PIM (Polo Industrial de Manaus). Essa mesma fatia corresponde a 56,05% dos vencimentos dos trabalhadores de comércio e serviços da capital. A informação é do Dieese (Departamento Intersindical de Estatísticas e Estudos Socioeconômicos) cuja pesquisa divulgada ontem, aponta que seriam necessários R$ 651,51 para alimentar uma família de dois adultos e duas crianças na região.
Segundo os números mais recentes da Suframa (Superintendência da Zona Franca de Manaus), referentes a agosto, o parque fabril da capital dispõe de 86.396 trabalhadores. A autarquia aponta ainda que o salário médio mensal na indústria é de R$ 1.381,83, remuneração que seria “impraticável” na oitava capital com a cesta básica mais cara do Brasil, na avaliação do economista José Laredo.
“O ideal é que o gasto com a alimentação de uma família consuma apenas 20% da renda, chegando no máximo a 30%. Quando encontramos um custo que vai além de 50%, como é o caso dos trabalhadores do PIM, é impossível garantir que a família consiga pagar a educação dos filhos, custear moradia, vestuário, lazer e todas as despesas normais prevista na Constituição Federal que criou o salário mínimo”, explicou Laredo.

Necessidades básicas

O presidente da Fecomércio/AM (Federação do Comércio de Bens, Serviços e Turismo do Estado do Amazonas), Roberto Tadros, admitiu que a remuneração média do empregado do varejo manauense -equivalente a 2,5 salários mínimos ou R$ 1.162,50- é insuficiente para suprir as necessidades básicas dos funcionários. Apesar de reconhecer a desigualdade, o dirigente afirmou que não há como o setor pagar mais. “A carga tributária do empresário é muito alta e cada empregado custa o dobro de seu salário, devido a todos os encargos trabalhistas. Isso impede o empregador de pagar mais”, justificou Tadros.
O presidente da Fecomércio/AM destacou que a média salarial do trabalhador de comércio e serviços no Amazonas é uma das menores da nação. “Enquanto em São Paulo as encomendas do comércio demoram menos de 24 horas para ser entregues e o prazo de pagamento é de 30 dias, aqui é exatamente o contrário. A inexistência de estradas faz com que as mercadorias demorem muito para chegar às lojas e os comerciantes são obrigados a pagar adiantado e manter um capital de giro significativo, impossibilitando outros investimentos ou mesmo pagar um salário mais elevado para os funcionários”, lamentou Tadros.
A assessoria de imprensa da Fecomércio de São Paulo informou que o salário médio dos empregados que compõem o segmento naquele Estado é de R$ 1.255, apenas 7,37% acima da média amazonense.

Cesta básica da cidade é a oitava mais cara do Brasil

A cesta básica manauense está entre as dez mais caras no país, figurando na oitava posição entre as 17 capitais pesquisadas pelo Dieese, apesar da redução de 1,01% em outubro em relação aos 30 dias anteriores. Para comprar a cesta básica no mês passado foi necessário retirar R$ 217,17 da renda familiar. As famílias que vivem com um salário mínimo tiveram dificuldade para encontrar uma maneira de resolver a questão, considerando que o mesmo Dieese que calculou a cesta, estabeleceu o valor de R$ 651,51 para alimentar quatro pessoas.

Salário viável

O Departamento Intersindical de Estatísticas e Estudos Socioeconômicos estimou que o salário mínimo viável para uma família conciliar os gastos com alimentação, moradia, saúde, educação, vestuário, higiene, transporte, lazer e previdência, seria de R$ 2.085,89, com base na cesta mais cara, encontrada na cidade de Porto Alegre ao preço de R$ 248,29.
Na opinião do economista e presidente do Corecon/AM (Conselho Regional de Economia do Amazonas), Erivaldo Vale, o Brasil tem um salário mínimo (R$ 465) injusto. “O salário mínimo brasileiro é tão defasado que sequer deveria ser levado em conta para calcular o custo de vida e gastos mensais de uma família”, declarou Vale, sobre a as perdas que o salário passou ao longo das desvalorizações cambiais e mudanças da política financeira do país. O economista avaliou que o salário mínimo só será de fato mínimo quando cobrir todas as despesas previstas na legislação. “Por enquanto, tem que melhorar muito para ser mínimo”, considerou Vale.

Banana volta a ter “preço de banana”

Entre os produtos que mais surpreenderam na variação de preços da pesquisa Dieese está a banana prata, apresentando recuo de 16,08% em outubro sobre setembro, e -0,44% no acumulado dos últimos 12 meses. A supervisora técnica do Dieese no Amazonas, Alessandra Cadamuro, afirmou que a queda significativa ocorreu “provavelmente devido à normalização da oferta do produto no Estado”.
O titular da Sepror (Secretaria de Estado de Produção Rural), Eron Bezerra, disse acreditar que o término da enchente e a recuperação das áreas atingidas, aliada à regularização da oferta oriunda de Roraima, garantiu que “a banana voltasse ao ‘preço de banana’”.
“Este ano, nós já distribuímos 700 mil mudas de bananeira aos produtores rurais do Estado. Esperamos que o preço continue caindo nos próximos meses, para não passarmos por este problema de alta expressiva do valor da fruta, como tivemos no primeiro semestre”, declarou Eron Bezerra.
O Dieese calculou que uma família manauense consome 7,5 dúzias de banana por mês, paralelamente ao consumo de 750 gramas de manteiga, o segundo item que teve o preço mais reduzido (5,6%).
O açúcar e a farinha de mandioca foram os dois itens que mais subiram em relação ao preço para o consumidor. Na variação anual, os três quilos mensais de açúcar consumidos tiveram alta de 56,31%; enquanto a farinha (também com três quilos) aumentou 29,89%.
Nos últimos 11 meses, de novembro de 2008 a outubro de 2009, dez das 17 capitais analisadas registram variações acumuladas negativas. As cidades de Natal (RN), Fortaleza (CE) e Aracajú (SE) apresentaram quedas de 7,71%, 7,13% e 6,62%, respectivamente. Esta última cidade é onde se encontra a cesta básica mais barata –R$ 168,15.

Redação

Jornal mais tradicional do Estado do Amazonas, em atividade desde 1904 de forma contínua.
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