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Mestre Pereira será homenageado em livro do chef Leão

Dia 10 é o Dia do Cozinheiro e dia 13 é o Dia do Chefe de Cozinha. Coincidentemente, o mês de maio é o mês de José Pereira. Ele nasceu no dia 5 de maio de 1919, na cidade de Monte Azul Paulista, e morreu 78 anos depois, em 25 de maio de 1997, em Manaus. Mas quem foi José Pereira, hoje desconhecido inclusive por quem segue a sua profissão? José Pereira (eram apenas estes seus dois nomes mesmo) ficou bastante conhecido em Manaus, durante o tempo em que viveu aqui, como Mestre Pereira, o cozinheiro da alta gastronomia, que inspirou vários outros cozinheiros de seu tempo, que por sua vez, influenciaram os que vieram depois.

Mestre Pereira está tendo sua vida pesquisada pelo chef Éber Leão, que o conheceu ainda menino, começou trabalhando com os filhos de Mestre Pereira, ajudando nos grandes eventos que o cozinheiro realizava, e acabou por se tornar chef.

Chef Leão conheceu Mestre Pereira desde menino
Foto: Divulgação

“Meu objetivo, com esse trabalho, é escrever um livro-biografia sobre Mestre Pereira para disponibilizar nas faculdades de gastronomia a fim de que os futuros chefs conheçam esse genial pioneiro de pratos servidos ainda hoje, em Manaus, e de serviços prestados por ele para as grandes autoridades, empresários e a alta sociedade manauara”, informou.

José Pereira nasceu há 102 anos na pequena Monte Azul Paulista, que continua pequena até hoje, com menos de 20 mil habitantes, no norte de São Paulo. Adolescente, resolveu seguir para a capital em busca de melhores dias. Tão pobre era que foi com a roupa do corpo e descalço, pois nem sapatos tinha para calçar. Na capital paulista, desconhece-se a história do rapazola, que vai aparecer em Manaus, cozinheiro de mão-cheia, em 1954.

Nunca mais voltou

Em 20 de janeiro de 1954, comemorando o 13º ano de criação do Ministério da Aeronáutica, o presidente Getúlio Vargas (1950/1954), veio a Manaus inaugurar o, então, moderno, aeroporto de Ponta Pelada, e Mestre Pereira estava lá.

“Ele trabalhava na cozinha da Varig. A empresa perguntou aos cozinheiros quem tinha interesse em vir para Manaus preparar o coquetel de inauguração do aeroporto e ficar por aqui, alguns meses, fazendo as comidas depois servidas nos aviões da empresa, que começariam a realizar voos regulares para cá. Ninguém quis. Mestre Pereira arriscou. Disse que se não gostasse, voltava para São Paulo. Nunca mais voltou”, revelou chef Leão.

Da cozinha da Varig, que ficava no próprio aeroporto, migrou para o restaurante Varandas, que passou a administrar no local e que, segundo Leão, funcionava 24 horas por dia. Nesse restaurante Mestre Pereira lançou a feijoada aos sábados. Com os negócios em franca expansão, o cozinheiro se desligou da Varig e sua cozinha começou a atender às demais empresas de aviação que aqui chegavam.

Ainda de acordo com Leão, a gastronomia apresentada por Mestre Pereira tinha como base a culinária francesa, mas ele a regionalizou substituindo ingredientes daquele país por ingredientes amazônicos, como o filé de pirarucu ao molho de camarão, adaptado por ele, ou o rosbife, carne assada que originalmente se serve fria, mas que aqui ele passou a deixá-la quente mesmo.

“Sem falar da feijoada carioca, que o Mestre lançou em Manaus, e se tornou um prato admirado até os dias de hoje”, lembrou.

Seriedade na profissão

Mestre Pereira, com o prefeito Jorge Teixeira, na inauguração do novo Hotel Flamboyant
Foto: Divulgação

Ao mesmo tempo em que o restaurante de Mestre Pereira fazia sucesso, pessoas da alta sociedade começaram a contratá-lo para preparar o cardápio de casamentos, aniversários e todos os tipos de festa onde houvesse comida.

“Ele foi o precursor dos serviços de buffet, em Manaus. Suas mesas apresentavam dezenas de pratos diferentes e pra compor, sempre tinha uma imensa cascata de frutas no centro, coisas nunca vistas antes aqui”, falou.

Tantos eventos o levaram a abrir duas cozinhas, uma no Boulevard, avenida onde morava, e outra no Aleixo. Tão sério era Mestre Pereira em seu trabalho que o resto de comida sobrada dos eventos, ele mandava empacotar e entregar, no outro dia, para o contratante.

“Ele teve restaurantes no Mercado Adolpho Lisboa (Pirâmide), no Cassam, no edifício Maximino Corrêa, na rodoviária, no Hotel Amazonas e lhe ofereceram o restaurante do aeroporto Eduardo Gomes, que ele não aceitou porque já tinha muitas atividades. Em 1978 comprou o Flamboyant Hotel, na av. Eduardo Ribeiro”, contou.

Todas as grandes festas da Manaus daqueles tempos, décadas de 1960, 70 e 80, tinham que ter o cardápio preparado por Mestre Pereira. Ele era figura conhecida e respeitada em eventos de prefeitos e governadores, empresas do, então, Distrito Industrial, e grandes acontecimentos realizados no Ideal e Rio Negro Clube pela nata da sociedade.

Governador João Walter de Andrade pegando instruções com o Mestre
Foto: Divulgação

“O Mestre só reduziu suas atividades quando a idade avançou e novos, e bons, cozinheiros surgiram na cidade. Quando o conheci eu tinha uns doze anos. Ele já era casado e tinha cinco filhos. E já era tratado como mestre. O menino pobre, de pés descalços, havia caminhado bastante e vencido na vida”, concluiu chef Leão.

Dos pés descalços a cozinheiro de mão-cheia
Foto: Divulgação

Quem tiver conhecido Mestre Pereira, souber de fatos da vida do cozinheiro, e quiser ajudar o chef Leão a enriquecer seu livro-biografia, pode ligar para: 9 9179-2706.           

Foto/Destaque: Divulgação

Evaldo Ferreira

é repórter do Jornal do Commercio
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