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Mercantilismo na educação e o encurtamento da saúde bucal

O caso do estudante João Victor Portellinha de Oliveira, de 8 anos, que passou no vestibular de Direito da Unip (Universidade Paulista) de Goiânia me faz refletir sobre o mercantilismo na educação. Sim, porque só a prática do mercantilismo para justificar casos tão absurdos envolvendo o sistema de avaliação em vestibulares!
A situação, amplamente comentada pela mídia goiana e nacional, já resultou num posicionamento do Ministério Público Federal, que quer que o MEC investigue o vestibular, inclusive aqueles promovidos pelas instituições particulares de ensino.
O grande número de profissionais de diversas áreas jogados semestralmente no mercado de trabalho, devido à ausência de avaliação competente, tem trazido graves problemas para a sociedade. Somente na área de odontologia em Goiás chegam ao mercado, semestralmente, 440 profissionais de uma única instituição particular de ensino da capital. Sem colocação, esses profissionais buscam a especialização como diferencial.
Mas, também esse setor está enfrenta problemas devido à mercantilização e proliferação de cursos de má-qualidade.
O excesso de oferta deste tipo de curso vem do número escandaloso de faculdades de odontologia em nosso país.
Hoje, no Brasil, para uma população de aproximadamente 182 milhões de habitantes, temos 186 faculdades de odontologia. Nos Estados Unidos, onde a população se aproxima dos 300 milhões, em 1997 existiam 65 faculdades e hoje elas são em número de 58.
Estas faculdades de odontologia no Brasil jogam anualmente em torno de 12 mil cirurgiões-dentistas no mercado, sem condições sócio-econômicas de usufruir desta massa de profissionais dispostos a trabalhar.
Então, de um momento para o outro, ensinar ficou mais vantajoso financeiramente do que atender pacientes. Esta massa enorme de cirurgiões-dentistas sem emprego e sem clientes para atender, se tornou presa fácil para os mercantilistas do ensino.
Por meio de lacunas na lei brasileira, oportunistas se aproveitam e abrem cursos de especialização com cargas horárias insuficientes para a formação com qualidade.
Boa parte destes cursos é montada em clínicas particulares, com chancelas de faculdades de outras cidades. Iniciou-se, então, uma nova frente de trabalho: especializar estes recém-formados. Enquanto na França existem 16 cursos de especialização em ortodontia, aqui no Brasil só os cursos registrados e credenciados pelo CFO (Conselho Federal de Odontologia) são 326.
O aluno que frequenta um curso com as características descritas acima, dito de especialização, não tem a mínima condição de adquirir o conhecimento necessário para executar um tratamento ortodôntico. Desta forma, nem o aluno aprende, nem o paciente é respeitado, mas o dono do curso garante o seu ganho financeiro.

Ronaldo Veiga Jardim é presidente da Associação Brasileira de Ortodontia e Ortopedia Facial

Redação

Jornal mais tradicional do Estado do Amazonas, em atividade desde 1904 de forma contínua.
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