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Mercado decide segurar Selic em seu piso histórico

Mercado decide segurar Selic em seu piso histórico

Como antecipado pelo mercado, o Copom (Comitê de Política Monetária) decidiu, nesta quarta (16), manter a taxa básica de juros nos atuais 2% – seu piso histórico. A decisão foi unânime e interrompeu um ciclo de nove quedas seguidas. Foi influenciada pela percepção do BC (Banco Central) de que a “alta temporária” nos preços de itens básicos e a “normalização parcial” em valores cobrados em determinados serviços acende o sinal amarelo da inflação. O estado das contas públicas também influenciou.

A manutenção do índice já era esperada pela Anefac (Associação Nacional de Executivos de Finanças, Administração e Contabilidade) e por diversos analistas financeiros, que apostam que a autoridade monetária deve segurar a Selic no mesmo patamar, até o final do ano. As lideranças classistas ouvidas pelo Jornal do Commercio se dividem quanto à medida, mas a maioria aponta que os cortes não vinham apresentando diferença significativa para os setores.  

Em nota, o Copom justificou sua decisão ao avaliar que a taxa de inflação deve se elevar no curto prazo, principalmente por causa do movimento de alta temporária nos preços dos alimentos e a normalização parcial do preço de alguns serviços, no contexto de retomada maior da atividade econômica. Vale notar que, embora tenha desacelerado em relação ao julho (+0,36%), o IPCA de agosto (+0,24%) foi o mais alto para o mês desde 2016, e foi puxado para cima pelos preços da gasolina (+3,22%) e de alimentação e bebidas (+0,78%).

“O Comitê entende que essa decisão [manutenção da taxa Selic] reflete seu cenário básico e um balanço de riscos de variância maior do que a usual para a inflação prospectiva e é compatível com a convergência da inflação para a meta no horizonte relevante, que inclui o ano-calendário de 2021 e, em grau menor, o de 2022”, assinalou um trecho do comunicado oficial do Banco Central.

O BC ressaltou que entende que a atual conjuntura econômica ainda justifica estímulo monetário “extraordinariamente elevado”, mas reconheceu que “questões prudenciais” e de estabilidade financeira dão pouco espaços para novos cortes. “Eventuais ajustes futuros no atual grau de estímulo ocorreriam com gradualismo adicional e dependerão da percepção sobre a trajetória fiscal, assim como de novas informações que alterem a atual avaliação do Copom sobre a inflação prospectiva”, destacou o comunicado.

“Números atraentes”

O comércio se dividiu em relação à iniciativa do BC. O presidente em exercício da Fecomercio-AM (Federação do Comércio de Bens, Serviços e Turismo do Estado do Amazonas), Aderson Frota, avalia que a manutenção dos juros no atual patamar foi uma boa decisão, uma vez que, tanto a indústria, quanto o varejo, vivem um momento de recuperação econômica.

“Manter a economia funcionando e gerar capacidade e oportunidades para investimentos é fundamental. Se o mercado financeiro estiver com números atraentes, ninguém investe nas empresas. A Selic se mantendo, assim como o BC americano o fez, é uma forma de induzir os aportes de capital nos setores. Apesar de termos alguma recuperação, estamos desembocando em dificuldades que terão resultados na atividade comercial, como o desabastecimento”, asseverou.

Liquidez e bolha

No entendimento do presidente da FCDL-AM (Federação das Câmaras de Dirigentes Lojistas do Amazonas), Ezra Azury, a manutenção da Selic em 2% não vai gerar mudanças no varejo. Indagado sobre os eventuais efeitos nos investimentos e nos efeitos conjugados de decisão semelhante do Fed – o Banco Central dos EUA –, o dirigente disse temer por um eventual excesso de liquidez nos mercados.

“Os juros [da Selic] já estão no menor patamar histórico, mas ainda não chegaram devidamente na ponta do consumo. Ou seja, nada mudou ainda. Desse jeito, acho que as bolsas vão crescer e vai acabar virando uma bolha. Existe muita liquidez no mundo e poucas pessoas querendo empreender”, avaliou.

Na mesma linha, o presidente da Faea (Federação da Agricultura e Pecuária do Amazonas), Muni Lourenço, também não vê mudanças para o setor rural, a partir da manutenção do custo do dinheiro. “Já era esperada essa decisão de interrupção na sequência de cortes na taxa Selic. Para o nosso setor, embora a taxa básica de juros tenha caído progressivamente, faz pouca diferença. Os produtores agropecuários seguem pagando juros que, defendemos, poderiam ser menores”, frisou. 

Especulação e dívida

A indústria também se dividiu em relação ao movimento do BC. O presidente do Cieam (Centro da Indústria do Estado do Amazonas), Wilson Périco, reforçou que a taxa Selic já deveria ter sido levada a zero há muito tempo, em função da fragilidade da economia brasileira, intensificada pelos impactos da pandemia da covid-19 e as politicas de isolamento social.

“Teríamos dois benefícios. Em primeiro lugar, daria um alívio na economia, que precisa de fôlego nos investimentos, empregos e consumo. Em segundo, porque ajudaria a reduzir a correção da dívida pública, que está muito elevada. Os únicos investimentos que perderíamos seriam os especulativos. Quanto aos aumentos de preços citados pelo BC, a exemplo do arroz, se devem em grande parte a movimentos no mercado internacional, e não pelos juros”, afiançou. 

“Atitude prudente”

Já o presidente da Fieam (Federação das Indústrias do Estado do Amazonas), Antonio Silva, considerou que a decisão do Copom de manter em 2% a taxa Selic foi uma “atitude prudente”, tendo em vista as incertezas ainda latentes no desempenho geral da economia – inclusive as assinaladas no comunicado da autoridade monetária. 

“Com a manutenção do índice entendo que estimula o crédito e incentiva o setor produtivo e a população a consumir fazendo com que gire a roda da economia. Aumentando o consumo e a produção, consequentemente teremos também mais vagas de trabalho, o que favorece a economia brasileira/amazonense. Por fim, favorecendo também a indústria como um todo”, finalizou.

Marco Dassori

É repórter do Jornal do Commercio
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