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Meninas manauaras brilham no skate

A pequena Rayssa Leal, a Fadinha, entrou para a história do esporte brasileiro e mundial ao ganhar a medalha de prata na estreia do skate numa Olimpíada, sem falar que foi a mais jovem atleta do Brasil, em todos os tempos, a participar dos jogos, e ainda ganhar uma medalha. É a atleta mais jovem, dos últimos 85 anos (desde Berlim, em 1936) a ganhar medalha numa Olimpíada.

Mas Manaus também tem suas fadinhas do skate, como Daniela Vitória, 12 anos, que desde 2019 vem chamando a atenção da Confederação Brasileira de Skate e se continuar no ritmo evolutivo, poderá representar o Brasil, em 2024, na Olimpíada de Paris. Atualmente ela integra a Seleção Brasileira Jr. de Skate.

A história de Daniela com a pequena prancha com rodinhas começou mais ou menos de forma idêntica à da maranhense Rayssa.

“Meu pai havia comprado um skate para ele andar, mas não queria que eu andasse porque ele já havia caído, então tinha medo que eu me machucasse. Um dia, num descuido dele, peguei o skate e quando ele olhou, lá estava eu no skate. Foi então que resolveu se tornar meu professor, meu personal coach. Eu tinha sete anos, na época”, lembrou Daniela.

Daniela, “quando ele olhou, lá estava eu no skate” – Foto: Ronnan Nobre

Whelkle Fernandes Martins, pai de Daniela, faz parte da geração pioneira de skatistas de Manaus, que nas décadas de 1980 e 90 realizava suas manobras radicais nas praças do Centro. Até hoje ele gosta da brincadeira, que virou esporte. Por isso havia comprado o skate.

“Meu pai começou a me ensinar pela manhã e nos finais de semana e nem demorou para eu aprender os movimentos básicos”, contou.

De olho em Paris 2024

Observando o talento da filha, Martins resolveu investir na garota. Em 2019, bancando os custos do próprio bolso, ele a levou para competir num campeonato, em Belém, já que em Manaus não existia nada do gênero e dificilmente ela iria adiante. Daniela ficou em primeiro lugar. O campeonato serviu de seletiva para a participação no campeonato brasileiro, que aconteceria em São Paulo, naquele ano. Ainda bancando os custos da viagem, Martins levou a filha para a capital paulista e, competindo com mais de 50 skatistas de todo o Brasil, Daniela ficou em sexto lugar.

“Mesmo em sexto, Daniela só ganhou ao participar desse campeonato. Voltamos de São Paulo com dois patrocinadores: a Skate dos Sonhos e a Stronger Trucks. Eles fornecem todo o equipamento que a Daniela precisa e ainda dão uma pequena ajuda de custo para ela”, comemorou.

Mas o prêmio maior ainda estava por vir. Pouco tempo depois, Fábio Castilho ligou para Martins convidando Daniela a integrar a Seleção Brasileira Jr. de Skate.

Castilho é skatista, preparador físico de skatistas e consultor técnico da Confederação Brasileira de Skate, que desenvolve um projeto de criação da Seleção Brasileira Sub-15 de Skate, cujo objetivo é identificar, preparar e dar suporte para as próximas gerações de competidores.

Ano passado, e boa parte deste, devido à pandemia, não houve campeonatos e Daniela só treinou. Martins aguarda a confirmação de datas, após a Olimpíada de Tóquio, do campeonato em Belém e do Brasileiro.

“Os paraenses ficaram fãs dela, onde é chamada de Danizinha, e já está sendo aguardada. Agora é treinar cada vez mais até chegar a Paris, em 2024, contando que Daniela esteja lá”, disse.

Conquista do respeito

Pamella Amaral tem 22 anos e representa bem os skatistas da época em que eram marginalizados, com suas manobras repetidas e pranchas barulhentas nas praças de Manaus. Ela começou no skate com 15 anos, usando a prancha de um amigo, que também tinha 15 anos, no Coroado.

“Aprendemos com a gente mesmo. Ele não sabia, nem eu, e ficávamos praticando. Depois eu comprei meu próprio skate, e não parei mais”, falou.

Pamella, “ele não sabia, nem eu, e ficávamos praticando” – Foto: Divulgação

“Manaus não tem campeonato e competições, então temos que procurar onde tem. No próximo dia 7 irei participar de um torneio, em Maués, convidada pelos organizadores, e já participei de outros, mas fico nervosa na hora da apresentação, tipo como a Pâmela Rosa ficou na Olimpíada, diferente da Rayssa, que estava brincando. O skate é uma brincadeira”, contou.

Pamella pratica skate no Parque do Mindu e numa pista no Morro da Liberdade. Entre os meninos, começam a despontar meninas.

“Não tem negócio de preconceito porque é mulher. Se você é bom nas manobras, todos te respeitam, meninos e meninas. Eu conquistei esse respeito”, declarou.

Pamella diz que pretende continuar praticando o skate até não ter mais forças de subir na prancha.

“Meu patrocinador, Ulysses Marcondes, tinha 46 anos e continuava como nos tempos de adolescente”, revelou.

Pamella, “se você é bom nas manobras, todos te respeitam, meninos e meninas” – Foto: Divulgação

Ulysses Paulo de Athayde Marcondes, o Boca, como era conhecido entre os skatistas, era jornalista e morreu em dezembro passado, de covid. Era proprietário da loja virtual Ulick86 e apaixonado pelo esporte. O Skate Park, do Parque dos Bilhares, recebeu seu nome.

Foto/Destaque: Divulgação

Evaldo Ferreira

é repórter do Jornal do Commercio
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