Pesquisar
Close this search box.

Mel: uma doce vocação no médio Amazonas

Hoje é o Dia Internacional das Abelhas, data estabelecida pela ONU, em 2017, para lembrar a importância da polinização para o desenvolvimento sustentável. A data homenageia o esloveno Anton Jansa, nascido em 1734, e considerado o pioneiro da apicultura moderna.

No Amazonas, um município que vem se destacando na produção do mel é Boa Vista do Ramos, localizado às margens do Paraná do Ramos, no médio Amazonas. Atualmente, ainda sem explorar totalmente o seu potencial, o município chega a produzir 1,5 tonelada/ano do produto e, apesar da qualidade e pureza do mel, todo ele é consumido praticamente no município com uma porcentagem mínima sendo vendida em Manaus.

“Há algum tempo estamos tentando colocar nosso produto em Manaus, num ponto fixo, ou em vários pontos para revenda, mas a concorrência com o mel de outros municípios é grande. Uma das alternativas que estamos utilizando é a pessoa pedir diretamente para nós, através do WhatsApp 9 9145-7155. Enviamos por algumas das embarcações, que chegam a Manaus diariamente, e se o cliente desejar, ainda mandamos entregar em domicílio”, avisou Jair Arruda, secretário de Planejamento de Boa Vista do Ramos e presidente da Coopmel (Cooperativa dos Criadores de Abelhas Indígenas da Amazônia em Boa Vista do Ramos).  

A Coopmel foi criada em 2001, como associação, e assim permaneceu até 2007, quando mudou de status, se tornando cooperativa e assim adquirir o SIE (Selo de Inspeção Estadual) para poder vender sua produção para além das fronteiras de Boa Vista do Ramos.

Delivery de mel

Logo no ano seguinte as 77 famílias que trabalhavam com apicultura chegaram a produzir 185 quilos de mel. O total de famílias passou a 150 e hoje são 62 cooperadas, sendo que 30 são as mais ativas.

“O motivo dessa redução é que a apicultura é um complemento de renda para essas famílias, sendo que elas plantam e pescam, sua fonte de renda mais segura. Algumas famílias, como essas 30 citadas antes, tem a produção de mel como principal fonte de renda seguida por outras, e isso varia muito de família para família. A média de produção melífera anual é de 50/60 quilos por família, mas teve um produtor que chegou a 250 quilos, retirados de apenas 45 de suas 100 colméias, ou seja, a capacidade de produção do município, desde que explorada corretamente, é imensa”, explicou.  

Atualmente duas espécies de abelhas são criadas em Boa Vista do Ramos, as Melíponas seminigras (Jupará), e as Melíponas ininterruptas manauenses (Parauá).

“A produção dos cooperados é trazida aqui para a Coopmel onde são realizados os devidos benefícios no mel que, então, é acondicionado em potes de 240g e 350g, além dos sachês. Recebemos apoio da Prefeitura de Boa Vista do Ramos; da ONG Associação Nordesta, com sede na Suíça, que nos ajudou na construção da sede da Cooperativa, na compra de máquinas, e na construção das colméias; do Inpa e do Sebrae, que capacitaram os apicultores; da Ufam, que realizou pesquisas com o mel; e do Idesam, na capacitação e treinamento dos apicultores sobre produtos sustentáveis”, listou.  

Quem for a Boa Vista do Ramos pode incluir no roteiro a Rota do Mel, com visitas aos apiários, ver a extração do mel, degustá-lo, visitar as comunidades e provar vários produtos feitos à base de mel, como bolos, doces e sorvete.

“Este ano, no dia 1º de maio, realizamos a terceira edição da Feira do Mel, mas estamos estudando criar a Festa do Mel, no dia 20 de maio do próximo ano”, avisou.

Sociedade complexa

As abelhas são consideradas insetos fundamentais para o equilíbrio ambiental e a sustentabilidade econômica global. O Brasil possui cerca de 400 espécies de abelhas nativas, entre as principais estão a Jataí, Mandaçaia, Manduri e Uruçu.

As abelhas brasileiras são consideradas eussociais, não possuem ferrão, obedecem a uma organização de trabalho por castas e os machos só podem fecundar as rainhas virgens. As espécies nativas, presentes em todo o território nacional, são consideradas como pertencentes ao mais alto grau de organização social.

Entre as espécies de abelhas brasileiras sociais estão as Meliponas e os Trigoniformes. São classificadas como uma das sociedades mais complexas da natureza. A eussocialidade possui três características: a sobreposição de gerações em um mesmo ninho, o cuidado cooperativo com a prole, e uma clara divisão de tarefas (reprodutores e operárias).

As abelhas operárias realizam a maioria das atividades de sustento do enxame, como construção e manutenção dos discos/cachos de cria, coleta e processamento de alimento, limpeza e proteção da colônia e cuidado com as crias. A rainha é responsável pela postura dos ovos e os machos são responsáveis pela fecundação das princesas (rainhas virgens).

Nas Meliponas, um quarto das operárias podem virar rainhas de acordo com a proporção da distribuição genética, enquanto os Trigoniformes constroem células reais que têm tamanho maior e recebem mais alimentos que as células comuns, conhecidas como ‘realeiras’ e dão origem a uma rainha virgem (princesa).

***

Evaldo Ferreira

é repórter do Jornal do Commercio
Compartilhe:​

Qual sua opinião? Deixe seu comentário

Notícias Recentes

Pesquisar