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Meganavio que bloqueava Canal de Suez desencalha após 6 dias

O meganavio da empresa Evergreen, que estava bloqueando o Canal de Suez, foi finalmente desencalhado nesta segunda (29), depois obstruir por seis dias um dos principais pontos de estrangulamento logísticos do planeta, responsável pela ligação entre a Europa e a Ásia e por onde passam 19 mil navios a cada ano. Lideranças do PIM afastam a possibilidade de problemas significativos no abastecimento da indústria incentivada de Manaus, mas não descartam a eventualidade de problemas pontuais – especialmente no fornecimento de platina.

Canal de Suez é uma rota intrínseca ao abastecimento daquela região
Foto: Divulgação

De acordo com o presidente da Fieam (Federação das Indústrias do Estado do Amazonas), Antonio Silva, o bloqueio do Canal de Suez tem impacto direto mínimo no abastecimento do PIM, já que a matéria-prima que abastece o Polo é remetida principalmente de portos asiáticos, via rota do Oceano Pacífico, atravessando o Canal do Panamá e para o Porto de Santos (SP) ou Ilha de Marajó (PA). Do porto santista, prossegue o dirigente, o caminho é feito por estradas e hidrovias até Manaus, em um transit time que costuma levar de 45 a 60 dias.

“Pontualmente pode ser que ocorra algum atraso de determinado insumo oriundo da Europa. O Canal de Suez é uma rota intrínseca ao abastecimento daquela região. Os efeitos negativos, se sentidos, devem ser reduzidos e o risco de desabastecimento também é pequeno. De modo geral, contudo, nossos principais fornecedores continuam sendo os países asiáticos, os quais utilizam a rota do Pacífico nas remessas para o PIM”, amenizou.

Consultado pela reportagem do Jornal do Commercio, o presidente da Eletros (Associação Nacional de Fabricantes de Produtos Eletroeletrônicos), Jose Jorge do Nascimento, informou não ter recebido uma resposta formal dos associados da entidade a respeito da questão, até o fechamento desta edição. O saliente ressaltou, contudo, que ao questionar algumas empresas, “elas informaram que os estoques suportam atrasos e que, em tese, não haveria problema”.

“Insumos europeus”

O diretor adjunto de Infraestrutura, Transporte e Logística da Fieam e professor da Ufam, Augusto Cesar Rocha, concorda que o mais natural é que a rota do PIM seja outra e que rota afetada pelo bloqueio prolongado do Canal de Suez é típica da Ásia-Europa e vice versa. Embora também não saiba quantificar, o especialista não descarta a hipótese de efeitos pontuais no abastecimento de partes e peças para determinados manufaturados do PIM, especialmente aqueles que contam com fornecedores europeus.

“Sempre há alguns contêineres que passam por transbordo na Europa e ainda eventuais consolidações no continente, antes de vir ao Brasil. Ainda há o risco de algum desabastecimento de insumos de um fornecedor Europeu que exporte para cá. Ou seja, algum impacto certamente haverá, mas com pouquíssima chance de ser expressivo”.

Dados do governo federal postados no portal de estatísticas Comex Stat confirmam que países asiáticos são os principais fabricantes de insumos utilizados pelo PIM. A China (US$ 823.91 milhões) lidera a lista de países que vendera mais para o Amazonas, no acumulado dos dois primeiros meses de 2021. Estados Unidos (US$ 211.06 milhões), Coreia do Sul (US$ 118.30 milhões), Taiwan (US$ 104.79 milhões) e Vietnã (US$ 99.78 milhões) vieram a sequência. 

Os países europeus com mais relevância no ranking de importações do Amazonas, por outro lado, foram Rússia (US$ 39.22 milhões), Bélgica (US$ 36.49 milhões), Alemanha (US$ 24.45 milhões), ocupando a oitava, 11ª e 13ª, posições, respectivamente. O primeiro forneceu principalmente platina (US$ 33.01 milhões) e produtos laminados planos (US$ 5.89 milhões). A platina também foi o principal produto belga (US$ 33.85 milhões) e alemão (US$ 8.88 milhões) vendidos ao Estado, sendo que a Alemanha é um fornecedor relevante de partes e peças para veículos de duas rodas (US$ 2.93 milhões). 

“Acúmulo de mercadorias”

Vice-presidente da Fieam, e também presidente do SIMMMEM (Sindicato das Indústrias Metalúrgicas, Mecânicas e de Material Elétrico de Manaus), Nelson Azevedo, salienta que, caso o navio porta contêiner da empresa EverGreen o ficasse mais dois dias impedindo o trânsito do Canal de Suez, o risco de desabastecimento no Polo Industrial de Manaus seria iminente. O dirigente lembra que a rota é responsável por 12% das cargas do comércio, indústria e agricultura que abastecem o mundo e que o prejuízo diário era de U$ 50 bilhões, sendo repartido entre todos os segmentos da economia atingidos. 

“Obviamente que seremos prejudicados, mas não sabemos calcular rigorosamente. No máximo teremos como prejuízo o entupimento de navios na estrutura portuária discreta de Manaus. Aí os cursos começam a ficar imprevisíveis. Já estamos estimando um acúmulo de mercadorias retidas nos portos de Manaus. Temos poucos fiscais da Receita e do Ministério da Agricultura. Temos portos com fiscais sobrando e fiscais faltando nos portos e aeroporto de Manaus. É torcer e esperar”, lamentou.

O presidente do SIMMMEM lembra que, no último sábado (27), já eram mais de 50 embarcações que estavam “engarrafadas” no Canal de Suez, transportando alimentos básicos, desde grãos e cereais até os chamados produtos “secos” como cimento, e 24 navios-tanque, entre eles, oito navios transportando gado e um caminhão-pipa. Azevedo destacada ainda que pior seria se os problemas na remoção obrigassem o comboio  a contornar o Cabo da Boa Esperança, no Sul do continente africano. “Seriam 9 mil quilômetros a mais”, finalizou.

Foto/Destaque: Divulgação

Marco Dassori

É repórter do Jornal do Commercio
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