O risco brasileiro diante da presente crise internacional, conforme o argumento básico do influente jornal inglês Financial Times, que publicou na quinta-feira o artigo “Brazil’s financial assets hit by global turmoil”, está relacionado à tomada de financiamentos no exterior no ano passado (US$ 18,8 bilhões), principalmente por bancos para aplicações, parte delas em rentáveis títulos públicos.
Contudo, outra parcela teria sido destinada ao crédito ao consumidor, que opera com elevadíssimas taxas. “É a este crédito que os investidores externos estão indiretamente expostos”, sustenta o periódico.
É preciso observar que reservas elevadas e posição externa credora do setor público, conquistadas pelo Brasil nos últimos anos não asseguram imunidade a possíveis contágios de crises externas, dada a internacionalização produtiva e, sobretudo, a abertura dos mercados e agentes financeiros brasileiros. Asseguram, no entanto, outra coisa: não mais qualquer crise ou problema delimitado a nível internacional afetará dura e imediatamente a economia brasileira, como se assistiu seguidas vezes no último decênio.
Não devemos ter dúvidas de que precisamente nesse momento em que essa nota está sendo redigida, a gravidade (que não deve ser subestimada) e a generalidade (não se trata de uma crise local ou regional) da presente crise internacional já teriam levado o Brasil à situação de iminente recessão de seu setor produtivo.
Estamos longe disso e é com muita cautela que o Banco Central em sua próxima reunião no início de setembro deve tratar do tema de uma mudança no ritmo de redução da taxa Selic. Nesse momento, todo o cuidado é pouco no manejo da taxa de juros para não derrubar as expectativas de empresários, bancos e consumidores.
Preços desalinhados
Mas nada disso significa imunidade brasileira aos gerais efeitos de uma crise grave. Quem sustentou isso, errou. Deve ser levado em conta, no entanto, que certos preços na economia brasileira, particularmente a cotação do dólar, estão fora do lugar e, por isso, tendem a variar acima do que seria de se esperar.
De qualquer forma e para finalizar, não parece razoável tomar o risco do crédito ao consumidor concedido pelas instituições financeiras operantes no Brasil, cujos níveis de inadimplência até o momento estão absolutamente controlados, como ponte que conectaria o Brasil com a crise internacional.
O presente comentário toma o que o influente jornal inglês Financial Times publicouna quinta-feira sobre o Brasil, mas seu alcance pretende ser maior. O FT cita um analista para quem o país “está claramente mais exposto à economia global e aos mercados financeiros globais do que antes”. É também citada a queda de 15% no valor das ações no último mês e a desvalorização do real com a cotação do dólar chegando ao total de R$ 2,00 pela primeira vez em três meses.
O periódico concorda com a tese de que a perda nos valores dos ativos brasileiros se deve primordialmente às ordens de vendas promovidas por investidores globais para cobertura de perdas em outros mercados direta ou indiretamente afetados pela crise que se abriu no mercado imobiliário norte-americano e que ameaça se espalhar para outros segmentos e países.