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Mayra Pinheiro diz que nunca foi orientada pelo presidente a defender uso da cloroquina

A médica pediatra Mayra Pinheiro enfrentou quase sete horas de questionamentos na CPI da Pandemia do Senado que investiga ações e as aplicações de recursos destinados para o enfrentamento da maior crise sanitária no Brasil.

Ela divergiu das declarações dos ex-ministros da Saúde Luiz Henrique Mandetta  e Nelson Teich de que o presidente Jair Bolsonaro (sem partido) teria pressionado para o uso da cloroquina no tratamento da Covid-19.

Secretária de Gestão do Trabalho e da Educação do Ministério da Saúde, Mayara admitiu, porém, ser favorável à utilização do remédio e que também recebeu orientações da pasta para a utilização do medicamento contra o novo coronavírus.

Apelidada de ‘Capitão Cloroquina’ nas redes sociais, Mayra disse que a substância pode ser usada na fase de replicação do vírus, no início da doença. Ela confirmou ainda ter encaminhado ofício à Secretaria de Saúde de Manaus indicando a cloroquina entre os medicamentos contra a Covid-19.

“Na época, diziam que a droga poderia funcionar como as medicações antivirais orientadas pelo Ministério da Saúde. No ofício, reforcei que seria inadmissível a não adoção da orientação do ministério”, contou. “Mas em nenhum momento, essa recomendação partiu do presidente da República”, acrescentou.

Sobre a crise no Amazonas, Mayra Pinheiro disse ter encontrado uma situação caótica quando chegou a Manaus, no dia 3 de janeiro. “Nunca viu nada igual em 30 anos de carreira na medicina”, afirmou.

Falando à CPI na qualidade de testemunha e tendo a seu favor um habeas corpus, ela eximiu o governo federal de responsabilidade no colapso no Amazonas. 

“Não tinha controle e gerenciamento de crise. Não havia planejamento estratégico para o enfrentamento da doença. Nas unidades básicas de saúde não tínhamos triagem, os pacientes que chegavam com Covid eram misturados com outros doentes. Não tinha testes para isolar as pessoas com a doença para que não houvesse novos contaminados”, disse.

A secretária falou também aos senadores não entender por que mais de 1,2 mil agentes de saúde tenham sido dispensados de suas atividades na época, quando o Estado passava por uma crise aguda na pandemia. “Isso tudo causou muita estranheza”, ressaltou

Membro da CPI, o senador Eduardo Braga (MDB-AM) contestou as declarações da secretária que não o convenceram.

“Como que uma técnica com este nível de formação, com toda a assessoria do Ministério da Saúde presente em Manaus, vê um quadro desse e não identifica que haveria colapso por falta de oxigênio? Como? Ninguém vai me convencer de que vocês não tinham conhecimento porque o caos estava lá, a olhos vistos. A solução estava ali do lado e não conseguiram resolver”, afirmou o senador, observando também que a médica não tem nenhuma publicação na área de medicamentos e, mesmo assim, se contrapôs aos pareceres científicos internacionais.  

Em resposta ao senador, Mayra Pinheiro disse que o Brasil e todos os países não são obrigados a seguir as orientações da OMS (Organização Mundial da Saúde). Em relação ao oxigênio, ela afirmou não ter sido informada pelas autoridades de saúde locais sobre a crise de desabastecimento.

Ela disse ter  estado em Manaus de 3 a 5 de janeiro e disse acreditar que o ex-ministro Eduardo Pazuello só soube da escassez de oxigênio no dia 8. À CPI, no entanto, o general havia informado que só teve conhecimento na noite do dia 10

Ainda segundo Mayra Pinheiro, não seria possível previamente calcular quanto de oxigênio seria necessário para suprir a população, uma vez que não se tinha ideia da chegada de novos pacientes. 

“É possível fazer isso quando nós estamos em estado de normalidade, habitual. Eu sou intensivista, trabalho com uma UTI que tem dez leitos, eu consigo saber que cada um daqueles leitos tem que ter uma provisão de oxigênio e ar comprimido. Em Manaus, numa situação extraordinária de caos, onde não temos noção de quantos pacientes vão chegar ao hospital, é impossível fazer uma previsão de quanto será usado a mais”, declarou a médica”, declarou.

Nesta quarta-feira (26), a CPI da Pandemia retoma os depoimentos de novos convocados. O presidente da comissão, senador Omar Aziz (PSDB), anunciou que o ex-ministro da Saúde Eduardo Pazuello e o atual, Marcelo Queiroga, devem ser chamados para prestar novamente esclarecimentos aos senadores.

Foto/Destaque: Divulgação

Marcelo Peres

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