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Indústria do AM desaba em faturamento e produção, mas se segura nos empregos

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Por Marco Dassori

Twitter: @marco.dassori

O desempenho da indústria do Amazonas registrou nova piora, em junho. O faturamento despencou pelo terceiro mês seguido, novamente na contramão da média nacional. Em sintonia com o agravamento da crise cadeia global de suprimentos, os indicadores relativos às horas trabalhadas na produção e ao uso da capacidade instalada das fábricas trocaram de sinal e também encolheram. A boa notícia é que o emprego e a massa salarial avançaram de forma mais que significativa. É o que revelam os dados locais dos Indicadores Industriais da CNI (Confederação Nacional da Indústria), compilados em parceria com a Fieam (Federação da Indústria do Estado do Amazonas).

Conforme a base de dados da entidade empresarial, o faturamento real da manufatura do Amazonas desabou 20,9% ante maio, ampliando as perdas do mês anterior (-10,3%). Vale notar que, neste ano, o indicador ficou positivo apenas em março, nesse tipo de comparação. O tombou chegou a 35,8% na variação anual. Com isso, o semestre subiu apenas 2%, a despeito do enfraquecimento da base de comparação pela segunda onda. Em contraste, a média nacional acelerou 0,9%, mas caiu nos demais cenários (-0,1% e -3,7%). 

As horas trabalhadas nas linhas de produção da indústria amazonense voltaram a oscilar e retrocederam 5% diante de maio, em resultado mais que suficiente para eliminar o ganho anterior (+2,5%). No confronto com a marca de 12 meses atrás, o indicador ainda escalou 16,6%, segurando o acumulado do ano em alta de 17,6%. Em todo o país, o setor estagnou na variação mensal (0%), embora tenha crescido nas outras comparações (+3,8% e +2,6%). 

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Foto: José Paulo Lacerda

A UCI (utilização da capacidade instalada) – que trata do percentual de máquinas comprometidas na produção – também perdeu fôlego em junho. Retrocedeu 2,4 pontos percentuais (-2,80%) no mês, ao passar de 85,8% para 83,4%, entre o quinto e o sexto mês deste ano. Em relação a maio de 2021 (78,2% de uso), houve expansão de 5,2 p.p. (+6,65%). A indústria do Amazonas ocupou 81,6% de sua capacidade instalada, em média, no aglutinado dos seis meses iniciais do ano, registrando variação positiva de 6,3 p.p. (+8,37%) em relação ao exercício anterior. O indicador nacional (80,4%) também desacelerou ante maio de 2022 (80,7%) e caiu ainda mais no confronto com o dado de 12 meses atrás (81,8%).

Empregos e salários

Os dados relativos à mão de obra da indústria do Amazonas, por sua vez, mostraram resultados positivos. O saldo de contratações no parque fabril do Estado avançou pelo segundo mês consecutivo, com alta de 4,6% na comparação com maio – contra os 0,7% anteriores. Também foi resultado positivo em meses alternados, em um ano de oscilações. No confronto com o sexto mês de 2021, o dado foi superior em 10,3%, segurando o acumulado no azul (+9,3%). Em âmbito nacional, o setor cresceu em todas as comparações (+0,4%, +2% e +2,4%), mas em ritmo menor.

Outros levantamentos já haviam confirmado que as contratações superaram as demissões na indústria do Amazonas, em junho. Segundo o Novo Caged, o setor emendou seu segundo mês de crescimento, ao criar 1.472 vagas formais em âmbito estadual, gerando variação positiva de 1,28% na comparação com o estoque anterior. O saldo foi puxado pela recuperação da indústria de transformação (+1,30% e +1.365). Na sequência, e a uma boa distância, estão os segmentos de água, esgoto, atividades de gestão de resíduos e descontaminação (+82), de eletricidade e gás (+3) e da indústria extrativa (+22). Com isso, o setor fechou o semestre com alta de 1,09% (+1.257).

A massa salarial real da manufatura amazonense, por sua vez, interrompeu uma sequência de dois meses de retração para escalar 26%, na passagem de maio para junho. Em relação ao patamar de 12 meses atrás, foi registrada uma decolagem de 38%, ajudando a manter o aglutinado de janeiro a junho em alta de 28,2%. Na média brasileira, os incrementos respectivos foram de 2,4%, 2,5% e 1,7%. 

Crise dos insumos

Em texto distribuído pela assessoria de imprensa da CNI, o gerente de Análise Econômica da entidade, Marcelo Azevedo, lembra que a indústria de transformação ainda enfrenta gargalos que dificultam o aumento da produção, embora ressalte que o tem obtido avanços graduais, à medida em que a atividade econômica se recupera. O economista alerta, no entanto, que o segmento tem conseguido contornar ou minimizar as dificuldades relacionadas ao fornecimento de insumos e matérias-primas.

“Observamos alta no faturamento real, além da recuperação do emprego e dos rendimentos. A pesquisa mostra um bom momento para a indústria, apesar das dificuldades trazidas pela falta de insumos e matérias-primas, e o alto custo da aquisição desses mesmos. A estabilidade nas horas trabalhadas e a queda na UCI – que permanece elevada – se devem muito a essa questão. A gente vê que isso afeta a produtividade e produção, mas percebemos também que o setor vem tendo bons resultados a despeito desses problemas, o que se reflete no faturamento e no emprego”, ponderou.

“Efeito sanfona”

Em entrevistas recentes à reportagem do Jornal do Commercio, o presidente da Fieam, e vice-presidente executivo da CNI, Antonio Silva, reforçou que o “efeito sanfona” de variações positivas e negativas nos indicadores da indústria amazonense é reflexo do momento de instabilidade e dos problemas enfrentados pelo segmento produtivo. No entendimento do dirigente, a alta da inflação e dos juros, bem como a redução do poder aquisitivo do consumidor e a inconstância na cadeia global de fornecimento de insumos contribuem para um “cenário volúvel”.

“As indústrias locais estão trabalhando com um alto estoque, em decorrência do desalinhamento entre oferta e demanda e da falta de matéria-prima. Nossa expectativa é que os números permaneçam oscilando neste segundo semestre, apesar da sazonalidade positiva para a atividade e da Copa do Mundo. Devemos ter indicadores voláteis até a normalização das questões econômicas já mencionadas”, finalizou.

Marco Dassori

É repórter do Jornal do Commercio
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