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Marcos Apolo explica desafios do setor da cultura na pandemia

Marcos Apolo explica desafios do setor da cultura na pandemia

O secretário de Estado de Cultura do Amazonas, Marcos Apolo Muniz, diz que o grande desafio na pós-pandemia será a retomada integral das atividades do setor que envolve hoje uma cadeia produtiva de pelo menos 120 mil pessoas na região.

São milhares de trabalhadores que sobrevivem desse ‘fazer cultural’, como ele bem define. E que sentiram de perto o impacto econômico do isolamento social causado pela propagação do novo coronavírus. Mas que, mesmo assim, não ficaram completamente desamparados durante a fase mais aguda da crise na saúde.

“Desenvolvemos várias atividades para auxiliar artistas locais, como o fundo de mais de R$ 37 milhões destinado à categoria só no Amazonas, uma conquista coroada com a Lei Aldir Blanc”, afirma Muniz.  

Marcos Muniz ressalta, porém, que o artista não ‘quer só comida’ para sobreviver, mas precisa também do aplauso do espectador. E esse feedback é importante para a alma de quem diverte e leva alegria ao público.

Durante a quarentena, foram suspensos eventos culturais no Amazonas de grande ressonância nacional e internacional. E ainda hoje, as autoridades governamentais e de saúde discutem com os bumbás a realização do Festival Folclórico de Parintins, que representa de 70 a 80% da receita arrecadada pelo município do interior. 

O secretário Marcos Apolo Muniz falou com exclusividade ao Jornal do Commercio.

Jornal do Commercio – Podemos dizer que o sr. sempre respirou cultura. E conhece muito bem, de perto, a realidade do setor no Amazonas. Como foi essa relação durante o isolamento social, quando os artistas ficaram impossibilitados de trabalhar?

Marcos Apolo Muniz –  Cresci nesse meio. São quase 40 anos ou mais militando na área. A pandemia foi um grande aprendizado para todos nós. Nossa geração nunca enfrentou uma situação como essa tão adversa. No período, promovemos várias ações para ajudar a classe artística, como distribuição de cestas básicas e espaços para promoção de eventos virtuais. Foram quase 60 toneladas de alimentos que destinamos para os artistas. 

JC – Vimos durante a pandemia várias ações, que foram provavelmente coroadas com o fundo estadual de cultura. Que ganho essas medidas trazem para a classe artística local e quais projetos vão ser beneficiados?

MAM – A Lei Aldir Blanc foi uma grande conquista que resultou de intensos debates. Foram horas e horas de diálogo, envolvendo figuras políticas como a deputada federal Benedita da Silva. Concede auxílio emergencial de 600 reais à classe artística durante três meses, ajuda ainda espaços e movimentos culturais. E a parte dos editais desse auxílio será feita de forma democrática.

Dos R$ 13 bilhões do fundo nacional, R$ 37,981 milhões foram destinados para artistas no Amazonas. E desses, 20% são para editais e o restante para auxílios emergenciais.

JC – Todos serão contemplados?

MAM – Ainda não. Temos hoje uma cadeia produtiva de 120 mil pessoas que sobrevivem das atividades artísticas no Amazonas. Mas o fundo só vai contemplar 16 mil trabalhadores. Nem todas as pessoas se enquadram nos pré-requisitos para receber o auxílio. Mas pretendemos levar o benefício para todas elas. Os municípios ficarão com grande parte do auxílio para espaços culturais e também editais.

JC – Houve muita mobilização e até da iniciativa privada para auxiliar vários segmentos da economia, entre eles a classe artística. Além disso, o que se pode enumerar ainda em termos de ajuda do governo à categoria que foi uma das mais prejudicadas por conta do isolamento social?

MAM – Foi um momento de muita inquietude na classe artística. Antes da pandemia, estávamos para lançar um edital de fomento muito significativo para o setor, mas tivemos que suspender por conta da urgência do isolamento social. Projetos não eram lançados no segmento desde 2013

No período, desenvolvemos medidas como ‘Fica na rede, maninho’, um edital para seleção de conteúdos digitais, pelo qual recebemos 791 projetos e dos quais conseguimos agraciar 290, todos devidamente pagos. Foi um fato inédito com o objetivo de trabalhar de forma emergencial. Abrimos uma agenda cultural que funciona muito bem nas lives. E temos quase 40 mil seguidores só no Instagram. E somos hoje a terceira maior rede social do Estado. Montamos um gabinete de crise que discutiu de domingo a domingo as ações de auxílio a essa cadeia produtiva.

Claro, foi um grande desafio para todos nós. E agora os espaços sociais começam a retomar suas atividades.  Promovemos o cultura sem sair de casa, evento com grande interação com o público, a visita virtual, a cultura em 360 graus, acessados pelo portal cultura.am.gov.br. Quer dizer, a secretaria tem um conjunto de ações que disponibiliza aulas gratuitas de teclado, violão,   todos gratuitos, medidas que estão repercutindo nacionalmente.  São quase 200 iniciativas nesse sentido.

JC – Durante a epidemia, é evidente que as dificuldades atingiram todos os segmentos. O sr. acredita que a classe artística do Amazonas está agora mais tranquila ou é necessário se fazer ainda mais pelos trabalhadores?

MAM– Evidentemente, que sim. Existe ainda muita inquietude por parte da classe artística. O artista não precisa só comer, ele necessita do aplauso para se sentir realmente realizado. É ter sempre essa proximidade com o público, olho no olho. As ações que empreendemos representam apenas os primeiros passos para melhorar o atendimento a toda essa cadeia produtiva. Mas a situação só vai se normalizar mesmo quando a economia estiver operando com 100% de sua capacidade e houver a produção de uma vacina contra o coronavírus. Aí, então, acredito que a cultura entrará de novo nos trilhos.

JC – Durante a pandemia, muitas pessoas abandonaram seus empreendimentos e migraram para outros setores por necessidade de sobrevivência. Aconteceu o mesmo com a classe artística?

MAM – Sim, evidentemente. Tivemos notícias de artistas que passaram para o ramo de alimentos. Outros investiram em lives e, além de atuar, também promoveram projetos de outros colegas. Foram criativos e empreendedores. Teve gente que foi até trabalhar em clínicas, muito diferente de seus ramos de atuação. Mas uma vez artistas, sempre artistas. Hoje alguns já trabalham como microempreendedores individuais.

JC – A questão da profissionalização é, digamos assim, muito importante para proporcionar maior credibilidade à classe artística. Em outras épocas, artistas de renome nacional como Raul Seixas e Tim Maia frustravam o público por faltarem aos shows, deixando de cumprir seus compromissos em alguns casos. E, no Amazonas, como está essa conscientização?

MAM – Sim, o cenário está mudando. O artista é agora um empreendedor, está legalizado e atua com CNPJ, uma exigência da profissionalização e que aumenta a responsabilidade por parte da classe em relação ao público. Não há dúvida, essa conscientização passa a ser uma grande prioridade dos que encaram a profissão com muita responsabilidade.

JC – Como está a articulação para a realização do Festival de Parintins, previsto para acontecer ainda este ano?

MAM – Os bois se posicionaram sobre uma nova data para realização do festival ainda este ano. A festa é importante, pois tem um impacto positivo em torno de 70% a 80% na economia de Parintins. É automático. E essa receita reflete em toda a economia do Estado, gerando emprego e renda para mais de 5 mil pessoas que atuam diretamente no evento, só em Parintins. Estuda-se a possibilidade dos festejos acontecerem em novembro, mas ainda está sob avaliação por parte dois bumbás, do governo e das próprias autoridades sanitárias.

JC – Já existe um prazo para definição sobre a data de realização do festival?

MAM – Até o final de agosto ou início de setembro, teremos uma previsão. Há um sentimento de realização do festival, mas vamos analisar de forma técnica, porque não vale a pena arriscar a vida das pessoas nesse cenário de tantas adversidades na saúde.

JC – Agora, na pós-pandemia, qual será o grande desafio?

MAM – É a questão da retomada econômica, na confiança e a segurança das pessoas em relação às atividades culturais. Por isso, temos atuado em conjunto com a FVS. E essa reabertura será o nosso grande desafio, de colocar de novo atuando essas pessoas envolvidas no fazer cultural, todo mundo trabalhando.

Marcelo Peres

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