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MANUFATURA EM FOCO

Nada havia no princípio, apenas trevas e dela surgiu uma mulher por si mesma sentada num banco de quartzo branco. À medida que ia surgindo, cobria-se de enfeites. Assim nasceu Yebá Buró, a “Avó do Mundo” ou, também, “Avó da Terra”. Yeabá Buró é a “não criada” e coube a ela estabelecer os rumos do futuro do mundo e dos seres. Criou Umukowi’i, “Maloca do Universo”. Para ajudá-la na continuidade do plano de criação criou os cinco trovões, os “Avôs do Mundo”, que não cumpriram bem sua missão. Então Yebá Buró criou um ser invisível e imaterial, o Umukosurãpanami “Bisneto do Mundo” que atendia pelo nome de Yebá Goam que quer dizer o “Demiurgo da Terra (ou do Mundo)”. Coube a ele a criação do sol, do solo, da luz, dos rios e da futura humanidade.
Esse mito dos Dessanas, povo habitante do alto Rio Negro, como toda Cosmogonia, busca explicar a origem do universo e dos seres para responder uma das perguntas que nos perseguem até hoje: “De onde viemos?”. Talvez, nesse momento, o prioritário a se pensar é numa outra questão importante “para onde vamos?”. Atrevo-me, contudo, a por outra indagação clássica: “Quem somos?”. Hoje a palavra predominante em tudo que há é escassez. Escassez de alimentos, de água, de fé, de moral, de vida, de tempo, de compromisso. Diante do pouco que há, predomina ainda o pensamento de desperdiçar. Dentro da filosofia do Sistema Toyota de Produção, as perdas são vistas de três maneiras: Muda (desperdícios), Muri (sobrecarga ou insuficiência) e Mura (desnivelamento ou inconsistência).
Esses termos e conceitos parecem ser mais bem aplicados dentro duma manufatura, contudo se pararmos para refletir um pouco, eles são amplos e se aplicam também em outros aspectos inclusive no que tange ao meio ambiente.

Os conceitos de Muda, Muri e Mura
A maioria dos economistas modernos segue a linha do pensamento neoclássico e concebe a economia como a “ciência das escolhas”. Desse modo, lida com o comportamento humano tangenciado pela escassez dos recursos tratando da relação fins e meios (escassos) dispostos para concretizá-los. Assim, a proposta dessa ciência é estudar as melhores maneiras de uso racional para benefício do homem.
Na prática parecemos não nos importar muito com essa coisa de uso racional pró-sustentabilidade. Parecemos muito com aquela cigarra da fábula. Preferimos viver tudo agora em detrimento das futuras gerações. Generalizo o discurso porque olho os resultados a nossa volta. Todos temos uma parcela de contribuição para o que estamos fazendo com a “Maloca do Universo” Isso talvez aconteça porque não temos competência para viver no mundo e usufruir dos seus recursos com inteligência. Dentro das empresas se fala muito de competência como o somatório de conhecimento, habilidade e atitude que quando bem empregado permite atingir resultados extraordinários. É nesse sentido que digo que não temos competência, mas podemos desenvolvê-la. Neste artigo iremos falar mais detidamente sobre isso, por hora comecemos a conhecer como os conceitos Muda, Muri e Mura estão presentes também no mau uso dos recursos vitais.
Mura ou desperdício está bem presente no comportamento das pessoas principalmente onde se consegue observar relativa abundância de recursos. Desse modo é muito comum perceber o desperdício de alimentos, de energia elétrica, de combustível fóssil e de água, só para citar alguns. Isso ocorre devido à relativa ilusão de conforto.
Muri ou Insuficiência relaciona-se justamente a um cenário desprovido do excesso. Aqui a escassez impede que se tenha a plenitude da vida. Desse modo encontra-se em diversas fontes da mídia que no mundo há 1,2 bilhões de pessoas sem acesso à água potável esse número tende a aumentar com o aquecimento global. Água é um recurso escasso, apenas 2% dos mananciais são de água doce dos quais cerca de 20% estão no Brasil. Aqui em Manaus uma garrafa com 200 ml de água chega a custar R$ 2,00 enquanto que 1000 ml de gasolina custam por volta de R$ 2,42.
Mura ou desnivelamento é um tipo de perda resultante do desequilíbrio entre excesso e escassez ou em outros termos entre a falta de consciência e a consciência tardia.

Redação

Jornal mais tradicional do Estado do Amazonas, em atividade desde 1904 de forma contínua.
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