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Manoel Garrido vence no ‘Prêmio Casa Vogue Design 2021’

Há pouco mais de dois meses, em 30 de março, o Jornal do Commercio contou a história do marceneiro ribeirinho Manoel Garrido.

Manoel aprendeu o ofício com o pai, que por mais de 20 anos construiu embarcações regionais. Quando estas embarcações foram proibidas, Manoel continuou na profissão, mas transformou a oficina de carpintaria do pai numa marcenaria e passou a produzir lambris, comercializados nas comunidades da região do Tumbira, situada na RDS (Reserva de Desenvolvimento Sustentável) do Rio Negro, além de pequenos móveis e objetos de decoração, como vasos e bowls.

A matéria do dia 30 de março destacava a classificação de Manoel entre os finalistas do ‘Prêmio Casa Vogue Design 2021’, um dos mais prestigiados do país. Pois exatos dois meses depois da publicação da matéria foram anunciados os vencedores, e Manoel foi um deles, na categoria ‘Objetos’.

E vencem o ‘Prêmio Casa Vogue Design’, na categoria ‘Objetos’ – Foto: Divulgação

“Eu já estava até quase sem esperança porque se passou todo esse tempo e eu não tive mais notícia de nada, então fiquei aguardando, mas pra falar a verdade eu não tinha esperança de ganhar no meio de tantos concorrentes. Eu achava quase impossível, até por causa da distância, onde eu vivo e trabalho”, falou.

As peças produzidas por Manoel concorreram com outros 54 finalistas na 5ª edição do ‘Prêmio Casa Vogue Design’, distribuídos em 11 categorias, entre bienais Cozinhas e Closets e Louças e Metais. Os vencedores foram escolhidos por um júri de experts e por meio de Voto Popular na internet. Eles decidiram sobre temas como criatividade, inovação, sustentabilidade, negócios, funcionalidade e estética.

A coleção faz parte do projeto Amazonas Sustentável, correalizado pela FAS (Fundação Amazônia Sustentável) e o Instituto AGT (A Gente Transforma), dos renomados arquitetos Marcelo Rosenbaum e Fernanda Marques, em parceria com a Petrobras.

Madeira de árvores caídas

As peças são feitas com madeiras já caídas na floresta – Foto: Divulgação

Em 2019, quando Marcelo e Fernanda estavam visitando comunidades da RDS do Rio Negro, conversando com algumas pessoas sobre artesanato, estas informaram a respeito do trabalho do marceneiro.

“Eles souberam que eu fazia peças em tornearia, vieram me visitar e gostaram do meu trabalho. Desenharam algumas peças para eu fazer. Fiz quatro, como demonstração. Eles gostaram e encomendaram 55 peças”, disse.

As formas fluídas e a cor vibrante das peças de Manoel são algumas das características que as tornam tão únicas, feitas em madeira de manejo florestal sustentável roxinho, também conhecida como amarante, coataquiçaua, pau-roxo, pau-mulato e roxinho-pororoca.

Para competir no ‘Prêmio Casa Vogue Design’, o marceneiro trabalhou numa coleção formada por cinco vasos e três bowls, de 10 a 27 cm de altura, feitos com madeira retirada diretamente da floresta, de forma sustentável, ou seja, ele não derrubou nenhuma árvore. Pegou a madeira de árvores que estavam caídas na mata.

“Eu estava trabalhando na minha oficina, fazendo mais peças de artesanato, quando minha filha me avisou que eu tinha ganhado, aí eu fui conferir no meu celular e confirmei que realmente as minhas peças haviam sido as vencedoras na categoria em que competiram”, contou.

Por conta da pandemia, Manoel receberá o troféu em casa. A cerimônia de premiação foi feita de forma online, na segunda-feira, 31 de maio, com divulgação pelas redes sociais da Casa Vogue e pelo site www.casavogue.com.br.

As peças vencedoras de Manoel serão comercializadas em São Paulo e o mercado já começou a se expandir para ele.

Venda das peças em alta

“No momento estou fazendo umas peças para o Jirau da Amazônia e acredito que vai em frente porque já vendi umas pra lá e agora, depois do prêmio, acredito que vá vender ainda mais”, destacou.

O Jirau da Amazônia é uma organização criada pela FAS, em parceria com a Associação Zagaia Amazônia, para promover o artesanato e produtos sustentáveis da Amazônia, fomentando e comercializando esse material. O lucro gerado com a venda dos objetos, não só de Manoel, mas de outros artesãos do Tumbira, retorna para a comunidade, representando uma nova e importante fonte de renda para os comunitários.

O projeto Amazonas Sustentável existe desde 2018, com o objetivo de valorização de estudantes e professores de comunidades ribeirinhas situadas em cinco UCs (Unidades de Conservação), no Amazonas. Os eixos temáticos que contemplam o projeto são: educação, com foco na redução do desmatamento e da degradação florestal; conservação da biodiversidade; infraestrutura; comunicação; empreendedorismo e educação no campo. Dentro dessas temáticas, mais de seis mil pessoas já foram beneficiadas e sensibilizadas pelo projeto até agora.

“Não importa o tamanho do sucesso feito pelas minhas peças. Vou continuar morando e trabalhando no Tumbira. É muito difícil eu sair daqui, deixar pra trás a tranquilidade em que vivo. Não tenho vontade nenhuma de sair da comunidade, e o meu trabalho é aqui mesmo, é uma vida que gosto de viver nesse lugarzinho”, avisou.

Foto/Destaque: Divulgação

Evaldo Ferreira

é repórter do Jornal do Commercio
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