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Manoel Garrido se destaca com suas peças em madeira

Marceneiro, artesão ou artista plástico? Depois que cinco de seus vasos e três bowls, construídos com madeira foram classificados entre os finalistas do ‘Prêmio Casa Vogue Design 2021’, um dos mais prestigiados do país, é certo que o ribeirinho Manoel Garrido subiu para outro patamar em sua profissão.

Manoel trabalha com madeiras há mais de 40 anos e herdou a profissão do pai José Garrido Filho, que na infância começou cortando lenha.

“Meu pai era descendente de portugueses. Nasceu no rio Cuieiras, um afluente do Negro. Veio para Manaus, onde iniciou na profissão de carpinteiro nos estaleiros que, na época, construíam embarcações de madeira. Em 1967 se mudou para o Acajatuba e depois aqui para o Tumbira, sempre construindo embarcações”, lembrou Manoel.

Manoel trabalha com madeiras há mais de 40 anos
Foto: Divulgação

Por mais de 20 anos José atuou sem maiores problemas na sua profissão e Manoel, ainda criança, começou a ajudar o pai.

“Meu pai fazia barcos de todos os tamanhos, de canoas a recreios, de itaúba. Lembro do maior que ele construiu, uma lancha que media mais de 30 metros”, contou.

Durante a década de 1980, com as embarcações construídas em metal ganhando o mercado, a encomenda das de madeira foi reduzindo até quase parar no ano 2000. Em 2005 veio o golpe fatal. A SNPH (Superintendência de Navegação, Portos e Hidrovias do Amazonas) proibiu a produção das embarcações de madeira, a não ser que fosse com madeira certificada, bem mais cara do que aquela retirada diretamente nas matas e, por isso, tornando a produção naval inviável. Essa indústria acabou nos interiores do Amazonas.

Idealizador de ferramentas

Sem outra alternativa, Manoel continuou na profissão, mas transformou a oficina de carpintaria do pai numa marcenaria e passou a produzir lambris, comercializados nas comunidades da região do Tumbira, situada na RDS (Reserva de Desenvolvimento Sustentável) do Rio Negro, além de pequenos móveis e objetos de decoração, como os vasos e bowls. Tão bom é o trabalho de Manoel, que chamou a atenção dos vizinhos tanto que, em 2019, quando a arquiteta Fernanda Marques e Marcelo Rosenbaum, estavam visitando comunidades da RDS do Rio Negro, conversando com algumas pessoas sobre artesanato, estas informaram sobre o trabalho do marceneiro.

O artesão transformou a oficina de carpintaria do pai numa marcenaria e criou diversas peças Foto: Divulgação

“Eles souberam que eu fazia peças em tornearia, vieram me visitar e gostaram do meu trabalho. Desenharam algumas peças para eu fazer. Fiz quatro, como demonstração. Eles gostaram e encomendaram 55 peças”, falou.

Para produzir a coleção solicitada por Fernanda e Rosenbaum, Manoel recebeu apoio do Projeto Amazonas Sustentável, correalizado pela FAS (Fundação Amazônia Sustentável), do Instituto AGT (A Gente Transforma), de Rosenbaum, que usa o design para expor a alma brasileira, em parceria com a Petrobras.

Um dos diferenciais da oficina de Manoel é um torno, (máquina-ferramenta que permite dar formas às madeiras), criado a partir do motor de um caminhão, invenção do próprio Manoel. Além de marceneiro, ele também é guia turístico, levando as pessoas a conhecer as trilhas do Tumbira a bordo de um carro também construído por ele.

“É o Caveirão, montado sobre o chassi de um caminhão”, explicou.

“O reconhecimento do trabalho de Manoel é uma inspiração para outros artesãos do Projeto Amazonas Sustentável. O foco principal da iniciativa é utilizar resíduos de madeira dos manejos florestais de pequena escala, que antes não tinham valor comercial, e transformá-los em produtos de origem florestal com valores agregados, em sintonia com os ODS (Objetivos de Desenvolvimento Sustentável), erradicação da pobreza; trabalho decente e crescimento econômico; consumo e produção responsáveis; e ação contra a mudança global do clima”, comemorou Gil Moraes Lima, coordenador de projetos da FAS.

Peças únicas

O destaque da sua produção agora são os vasos e cumbucas feitas de madeira
Foto: Divulgação

As formas fluídas e a cor vibrante das peças de Manoel são algumas das características que as tornam tão únicas, feitas em madeira de manejo florestal sustentável roxinho, também conhecida como amarante, coataquiçaua, pau-roxo, pau-mulato e roxinho-pororoca.

A quinta edição do ‘Prêmio Casa Vogue Design, que reconhece anualmente os principais lançamentos do design nacional, destacou 55 finalistas distribuídos em 11 categorias. Os vencedores serão escolhidos por um júri de experts e a votação popular encerra no dia 30 de março.

O lucro gerado pela venda dos objetos dos demais artesãos do Tumbira, que fazem parte do Projeto Amazonas Sustentável, retorna para o local, representando uma nova e importante fonte de renda para a comunidade.

O projeto existe desde 2018, com o objetivo de valorização de estudantes e professores de comunidades ribeirinhas situadas em cinco UCs (Unidades de Conservação), no Amazonas. Os eixos temáticos que contemplam o projeto são: educação, com foco na redução do desmatamento e da degradação florestal; conservação da biodiversidade; infraestrutura; comunicação; empreendedorismo e educação no campo. Dentro dessas temáticas, mais de seis mil pessoas já foram beneficiadas e sensibilizadas pelo projeto até agora.

Foto/Destaque: Divulgação

Evaldo Ferreira

é repórter do Jornal do Commercio
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