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Manejo do pirarucu se expande no Amazonas

Cada vez mais o manejo do pirarucu vem dando certo e se expandindo em lagos do interior do Amazonas. O procedimento começou, em 2000, na comunidade de Jarauá, em Alvarães, e atualmente comunidades das cinco UCs (Unidades de Conservação), gerenciadas pela FAS (Fundação Amazônia Sustentável), realizam anualmente a despesca do maior peixe dos rios amazônicos.    

O procedimento começou, em 2000, na comunidade de Jarauá, em Alvarães
Foto: Divulgação

Normalmente o Ibama autoriza a despesca a partir de julho, com validade até o mês de novembro. Nesse período as comunidades se organizam para promover o evento.

Em 2020, apesar da pandemia do coronavírus, a atividade econômica confirmou novamente sua importância. A comercialização do pirarucu manejado em feiras promovidas pela FAS, em Manaus, rendeu mais de R$ 70 mil para os manejadores de 55 famílias de Mamirauá, e somente essa UC, localizada na região do município de Fonte Boa, reúne mais de 1.100 famílias, praticantes do manejo, que chega a ter 25 a 30 mil pirarucus/ano liberados pelo Ibama para captura. 

A legislação federal determina que o tamanho mínimo para um pirarucu ser pescado é 1,5m, mas em algumas áreas de manejo os pescadores já fazem malhadeiras próprias para pegar um peixe acima de 1,6m.

“Temos observado que, pelo monitoramento e censo que fazemos nos lagos, anualmente, o índice de aumento do número de indivíduos é bem significativo”, falou Edson Souza, supervisor de projetos da FAS.

“Interessante é que, desde que se começou a fazer a despesca, os pescadores diziam saber quantos indivíduos existiam em determinado lago, inclusive sabiam o tamanho dos peixes. Pesquisadores foram até lá e, junto com esses pescadores, fizeram contagens retirando indivíduos do lago e descobriram que, realmente, o erro deles era mínimo. Criou-se, então, uma metodologia que une o conhecimento tradicional com o científico, usados sempre antes da despesca para se saber quantos indivíduos podem ser pescados naquele lago”, acrescentou.

Aumento de outras espécies    

O manejo do pirarucu e de outras cadeias produtivas em UCs do Amazonas é incentivado pelo programa ‘Floresta em Pé’, da FAS, por meio de recursos do Fundo Amazônia/BNDES. A comercialização desse pescado na Feira do Pirarucu, em Manaus, tem autorização do Ibama e da Sema (Secretaria de Estado de Meio Ambiente).

Em Fonte Boa, a Amurmam (Associação de Moradores e Usuários da RDS Mamirauá Antônio Martins) é uma das associações que realiza o manejo, com assessoria técnica do IDS (Instituto de Desenvolvimento Sustentável) daquele município.

Além de Mamirauá, a FAS realiza o manejo do pirarucu nas RDS Amanã, Piaguçu-Purus, Cujubim e Uacari.

“Todas as RDS são definidas por setores. Mamirauá, pelo tamanho (11.137 km2), tem mais de 20 setores, mas existem setores com 16 comunidades, outros com sete, então cada setor tem uma área específica de trabalho e de manejo do pirarucu, devido à sazonalidade da cheia e da vazante, então, nem todos estão pescando na mesma época, agora quando chega outubro e novembro, quando os lagos ficam cheios, a pesca está boa para todo mundo, aí acontecem várias despescas ao mesmo tempo”, revelou.

E, curiosamente, o que se observa é que nos lagos onde ocorre o manejo do pirarucu, aumentam outras espécies de peixes, como curimatã, tucunaré, tambaqui, aruanã, entre outras, o que ajuda ainda mais na melhora da renda dessas famílias de manejadores.

“Sou filho do interior e lembro que, há 20 anos, não se via mais quase nada de peixes nos lagos. O manejo mexeu com todo o processo de organização das comunidades. Naquela época as coisas eram muito difíceis, mas tudo mudou para melhor. Casinhas de palha foram substituídas por casas de madeira, cobertas de alumínio, teladas, com televisão e conforto. Tem comunitários com casas na comunidade e na cidade, e com os filhos na escola”, informou.

Perigo dos ilegais

Mas nem tudo são flores no reino das RDS. O crescimento da quantidade de peixes nos lagos preservados, fez surgir a ambição de pessoas que estão fora do sistema, e não querem fazer o certo. Com isso aumentou a invasão de pescadores ilegais, clandestinos, que entram nas áreas de preservação e ameaçam os comunitários.

“Piorou com a pandemia, porque com a fiscalização por parte do Estado, reduzida, não houve quem desse o suporte da segurança às comunidades. Esses pescadores ilegais vão vender o que pescam em Santarém, Belém, e até na Colômbia, onde conseguem bons preços”, contou.

“Felizmente os comunitários estão reservando parte do dinheiro das vendas dos peixes para usar na proteção dos lagos, comprando gasolina para as embarcações e aumentando a permanência nos pontos de vigilância, porque se deixarem, o invasor vai lá e pesca o quanto puder”, lamentou.

Mostrando que a saída para a preservação da fauna amazônica é o manejo, a Feira do Pirarucu da FAS, realizada em Manaus, cresce a cada ano. Ano passado, por causa da pandemia, as vendas foram mais rápidas que as anteriores, realizadas em menor tempo e com maior quantidade de peixes. As duas edições da Feira acontecidas em outubro e novembro de 2020 comercializaram 7,42 toneladas do peixe. Ao todo, 570 pessoas compraram o pirarucu direto do produtor.

Foto/Destaque: Divulgação

Evaldo Ferreira

é repórter do Jornal do Commercio
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