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Manaus é minha terra e minha pátria

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Manaus é uma cidade injustiçada. A metrópole que a tantos acolhe recebe em troca apenas a incompreensão, que pode vir de seus filhos legítimos e também daqueles que aqui encontraram morada. É comum ouvir pessoas reclamando de seu clima impiedoso, das agruras de seu trânsito, da falta de planejamento urbano e de tantos outros males tão comuns em qualquer cidade brasileira, mas que aos olhos dos moradores locais ganham uma reverberação pujante. Daí para a hedionda frase “Isto só acontece em Manaus” é apenas uma questão de ignorância.

Manaus é uma cidade composta em sua maioria por migrantes. Nos faltam dados concretos, mas é impossível que sua população seja composta por mais de 50% de pessoas nascidas nestas plagas. O povo desta cidade tem diversas origens, mas poucos são aqueles que realmente falam que amam Manaus sem deixar trair um quê de oportunismo. Esta é uma pergunta que não cala. Como vir de lugares distantes e gostar realmente de Manaus se quem aqui nasceu dificilmente gosta, de coração, da cidade? É um paradoxo manauara que a metrópole tão hospitaleira seja tão mal recebida nos corações de seus habitantes.

Todo brasileiro deve exercer seu direito de ir e vir, mas a ninguém é permitido falar mal do lugar onde vive, até por respeito às pessoas que ali nasceram e porque não se é obrigado a morar onde não se quer. Muitos vieram viver em Manaus em busca de oportunidade de emprego e de uma vida melhor, coisas que lhes eram negadas em seus locais de origem. É uma pena que aquele que aqui conseguiu realizar seus sonhos fale mal da cidade que o acolheu, embora não se possa cobrar dignidade de quem vive aqui, mas não se sente realizado plenamente. Para o manauara que admite, calado, falarem mal de sua terra, só pode dizer que se trata de crime de lesa-cidadania.

Manaus está localizada no coração da Amazônia, aproximadamente a 320 quilômetros da linha do Equador, possui clima equatorial, quente e úmido, e sua altitude média é de 29 metros acima do nível do mar. Isto significa dizer que o viajante que chegar na cidade vai passar muito calor. Quem veio pra cá desconhecendo essas peculiaridades deveria ter se informado melhor e, assim, optado por tantas outras cidades brasileiras de clima mais ameno. Também não poderia ter imaginado que aqui encontraria somente índio, embora nossos rostos não neguem nossa raça. Realmente somos todos índios, mas tampouco precisamos da bênção da civilização de quem saiu dos grotões e aqui chega como se fosse o colonizador, a quem cabe nos ensinar a viver como verdadeiros homens de bem.

Algumas frases soam até como grotescas. “Manaus é um ovo” soa orgulhosa quando alguém pretende se passar por cosmopolita, acostumado a viver em cidade grande, com milhões de habitantes. Este mesmo cidadão, com certeza, não teria a mesma prepotência, estando a passear pelas ruas de Estocolmo, na Suécia, com seus 761 mil habitantes, ou meia Manaus, para proferir tal sentença. Até porque estaria tão deslumbrado que se envergonharia de suas próprias origens, mesmo que estas fossem da mais alta estirpe de alguma metrópole brasileira abaixo do Trópico de Capricórnio.

Também é emblemá tica a forma como os fi lhos de Manaus tratam sua cidade, principalmente por parte de quem teve a oportunidade de viajar e conhecer outros mundos, e de onde vie ram, invariavelmente, menos manauara e mais cosmopolita. Nossa vocação, ou pelo menos a de quem não tem Manaus no coração, é a de ser eternamente colonizado, com seu complexo de selvagem e sua vergonha de ser tachado de índio. Não é a toa que Manaus tenha um sotaque carioca enquanto todas as cidades do interior amazonense cultivem um linguajar especificamente caboco. O Rio de Janeiro é nossa referência e São Paulo, o nosso orgulho.

Talvez seja a falta de experiência cultural que leve alguns manauaras a praticar menos a insofismável arte de comer farinha com peixe ou de se deliciar com a pupunha, o tucumã e o vinho de bacaba. Temos nossas peculiaridades e devemos apren

Redação

Jornal mais tradicional do Estado do Amazonas, em atividade desde 1904 de forma contínua.
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