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Manauaras usam idiomas estrangeiros para conquistar um lugar no mundo

Manauaras usam idiomas estrangeiros para conquistar um lugar no mundo

Localização? Manaus! Comunicação? Universal! Ganhar a vida com idiomas estrangeiros já é uma realidade para muitos profissionais do mercado local. Seja por trabalho ou por pura diversão, o bom e velho inglês sempre abre portas. No caso das bandas heavy metal, isso nem se discute, já que se trata da língua “materna” deste estilo.

Baixista e backing vocal da banda Hawake, João Almeida, de 36 anos, fala sobre o processo criativo do grupo, que compõe em inglês. “As composições são escritas em inglês, por algum integrante, e depois a banda se reúne e avalia a letra fazendo alterações e corrigindo possíveis erros gramaticais”, explica.

O idioma já fez o grupo atravessar as fronteiras do Brasil. “Em 2015 nos apresentamos na Guiana Inglesa. Fizemos um show em Georgetown, capital daquele país. Hoje temos contatos com admiradores da banda na Guiana e com gente também de Nova Jersey, nos Estados Unidos. O fato de sabermos inglês foi de extrema importância para o crescimento da banda. Assim, conseguimos manter um contato mais próximo com bandas de fora, produtores e também admiradores”, revela João, que conta que tão logo passe a pandemia, pretende fazer novas apresentações com a Hawake em outros países.

Discografia

Antes do primeiro álbum, a Hawake lançou os singles “Living LikeAnimals”, “Crime of Passion” e “Suicidal Genes”. As canções deram notoriedade à banda, que acabou vencendo a etapa regional do Metal Batlle, evento promovido pela revista Roadie Crew. O primeiro disco completo saiu em 2018 e recebeu o nome de “Duality of the Universe”. Atualmente a banda manauara é formada por Rod Splater (vocal), Fábio Botelho (guitarra), João Almeida (baixo e backing vocal), Miguel Pinheiro (teclado e backing vocal) e Gabriel Menezes (bateria).

Contatos internacionais

Dj usa o inglês para expandir seus negócios na música eletrônica e no heavy metal

O DJ Kimo, 43, é fluente no inglês e no espanhol. A facilidade com os idiomas trouxe vários benefícios, principalmente na hora de fazer contatos profissionais com artistas de outros países. “O inglês ajudou bastante na comunicação direta com outros artistas. Isso acabou reduzindo os custos para trazer artista de música eletrônica para Manaus. A gente fazia contato direto com os artistas e eu sempre falando inglês ou espanhol dependendo da nacionalidade do cara”, explica Kimo. “Falando inglês ou espanhol a gente passava por cima da figura do agente, e o artista podia fazer um preço mais acessível para tocar aqui. Por exemplo, em 2004 trouxemos um artista russo chamado Penta. Ele veio para cá graças ao nosso contato em inglês”, revela.

Além de “pilotar” as pickups, Kimo ainda solta a voz na banda de heavy metal Jarakillers, um dos grupos mais icônicos do cenário da música pesada em Manaus. Os dois álbuns já lançados pelo grupo “Macabres Tales of Dark River” e “Still Macabre” possuem músicas inglês e em espanhol. A banda é formada por Kimo (vocal), Carlos Nose (guitarra), Leland Dantas (guitarra), Ary (baixo) e Rodrigo Secheusk (bateria).

“Monstro”

Leonardo é poliglota e seus negócios giram em torno desta habilidade

Quando o assunto é dominar línguas estrangeiras, Leonardo Carvalho Monteiro de Paula se mostra um verdadeiro “PhD” no assunto. Esse manauara de 41 anos fala espanhol, chinês, francês, italiano, inglês, alemão, além do português, sua língua materna. 

Tanta facilidade no domínio de idiomas estrangeiros fez com que Leonardo se tornasse um cidadão do mundo. “Trabalho montando viagens internacionais MICE (Meeting, Incentive, Conference, and Exhibitions). Também monto viagens de cursos internacionais para cabeleireiros, arquitetos e dentistas. As viagens são para qualquer lugar do mundo, e os grupos variam de 12 a 2.000 passageiros”, explica Leonardo. “Nas viagens grandes, fico no operacional, e às vezes nas coordenações, depende da equipe. As vezes faço as traduções dos cursos”, revela.

Orgulho

Além do trabalho com as viagens para o exterior, Léo fala um pouco também dos trabalhos que marcaram a sua trajetória profissional. “Fiz dois trabalhos que me deram muito orgulho. Fui o tradutor e attaché do Ministro dos Esportes Orlando Silva durante os Jogos Pan-Americanos do Rio (em 2007), e tradutor do Ministro Leonardo Picciani durante os Jogos Olímpicos do Rio (em 2016). Durante a Cerimônia de Abertura dos Jogos Pan-Americanos, traduzi a conversa entre o presidente Lula e a princesa Anne (Elizabeth Alice Louise,) do Reino Unido (única filha mulher da Rainha Elizabeth II). Durante os dois eventos, fiz interpretação com diversos líderes de muitos países. Dada a natureza do trabalho, tenho poucas fotos, mas me orgulho de ter servido ao Brasil”, orgulha-se Leonardo.

O manauara revela ainda que a vivência com as línguas estrangeiras vem praticamente de “berço”. “Meu pai se casou com uma diplomata venezuelana, e fomos morar e estudar na Venezuela. Daí aprendi o espanhol. Depois minha madrasta foi transferida para Beijing, na China, e lá estudamos numa escola chinesa. Todas as matérias eram em Mandarim. E como eu era nadador, treinei no centro olímpico Chinês de Beijing, e tive a oportunidade de praticar com os nativos”, esclarece.

O francês, a “língua do amor”, ele aprendeu com uma namorada francesa que conheceu na China. De volta ao Brasil, Leonardo conseguiu uma bolsa para nadar pela Universityof Tennessee Knoxville. Lá teve a oportunidade de aprimorar o inglês. Ele conta que deixou os Estados Unidos depois dos atentados de 11 de setembro de 2001, e se mudou para Berlin, onde o pai e madrasta estavam morando. “Lá aprendi alemão”, conta. Para dominar o italiano ele sequer precisou estudar. “Como tenho primos e tios italianos, aprendi apenas no contato do dia a dia”, pontua.

Por conta do trabalho, Leonardo se tornou um cidadão do mundo. “Acabo viajando bastante e repetidamente para alguns países como Estados Unidos, Alemanha, França e também para o Reino Unido. Todo ano adiciono três ou quatro países novos. Não sei nem quantas vezes já fui aos Estados Unidos. Devo ter ido mais de 50 vezes”, revela este manauara que se tornou um cidadão do mundo.

Uma ideia brilhante 

Mayara fez um post em inglês, ganhando a atenção da rainha do pop, Madonna

Uma mensagem publicada em inglês em uma rede social, aproximou a diretora-geral da OSCIP, Parceiros Brilhantes, Mayara Brilhante, 29, de ninguém menos que a popstar Madonna. 

A história começa com um vídeo que foi publicado pela diva, em que Maria Solange Amorim, 50, mais conhecida como Marina Silva de Manaus, aparece dançando a música “Holiday”. 

“Quando a Madonna postou o vídeo dela eu fiquei muito curiosa. Eu achei engraçado, mas eu vi que ela (Maria) tinha um problema. Fui acompanhando os comentários, a partir disso eu conheci a história dela, que era dependente química. A gente se prontificou a oferecer ajuda pelo projeto. Liguei para uma clínica em São Paulo, contei a história e eles rapidamente se prontificaram em ser um de nossos parceiros. Hoje a gente paga os custos mensais da reabilitação da Maria em uma parceria”, explica.

Antes de iniciar o tratamento, Mayara fez um post em inglês contando sobre a história da Mariana Silva de Manaus e marcou Madonna na publicação. A mensagem foi compartilhada em todas as redes sociais da cantora. Com repercussão, o trabalho da Parceiros Brilhantes passou a ser conhecido internacionalmente. “Hoje temos 80 doadores mensais no projeto”, celebra Mayara, que começou a estudar inglês aos oito anos. Já adulta aprendeu francês. Ela é mestra em mediação cultural e mercado editorial pela Universidade de Liége, na Bélgica.  

Um policial diferente

Cândido Silva começou a se interessar pelo francês ainda no curso de formação da PM

O cabo Cândido Silva, 36, da PMAM (Polícia Militar do Amazonas) começou a se interessar pelo estudo da língua francesa quando ainda estava passando pelo curso de formação da PM. “Lá havia um amigo que era do meu pelotão e que tinha morado na Suíça. E aí por curiosidade comecei a fazer perguntas sobre como eram algumas expressões em francês. Foi quando começou a dar vontade de estudar o idioma, que é muito bonito. Comecei a fazer curso de francês aos sábados”, relembra Cândido, que não só ficou apenas no curso, como ainda decidiu ingressar na universidade para cursar Letras e Literatura Francesa. “Além de policial militar sou professor de francês”, revela.

Cândido conta que chegou a morar oito meses na França para aprimorar os conhecimentos. E, por conta do domínio da língua estrangeira –hoje ele também fala inglês fluente -, passou a fazer parte da Polícia Turística do Amazonas, a Politur. “Sou o único que fala francês na Politur”, conta.

Como Manaus é uma cidade turística, não falta trabalho para Cândido. “Quando tem temporada de cruzeiros, eu sempre uso o francês para falar com os turistas. Às vezes o turista pode ter sido vítima de algum crime”, pontua.

“Na polícia tem lugar para todas as pessoas, por exemplo, têm pessoas que gostam mais do lado operacional. Têm pessoas que gostam de animais e podem trabalhar no canil. No meu caso eu tenho conhecimento de idiomas e encontrei meu lugar na Politur”, finaliza.

A arte de traduzir

José Lucas Magalhães Batalha, 25, é tradutor de textos. Ofício que exerce há seis anos. “Descobri que poderia ganhar dinheiro com isso quando comecei a trabalhar em uma escola de idiomas. Havia muita procura, tanto dos alunos da escola, quanto do público externo. Cabe aqui um parêntese para explicar a diferença entre versão e tradução, termos estes que confundem muito o público que busca esse tipo de serviço. A versão é a mudança de um texto do português para o inglês, já o serviço de tradução consiste, como seu próprio nome expressa, traduzir um texto do inglês para o português”, pontua.

O mercado da tradução, segundo Batalha, não arrefeceu nem nos tempos mais graves da pandemia causada pelo novo coronavírus. “Em Manaus, a procura por esse tipo de serviço, em sua quase totalidade, é feita por universitários que desejam o serviço de versão, do português para o inglês, de artigos acadêmicos ou os famosos abstracts que são requisitados pelos trabalhos de conclusão de concurso, os TCCs”, explica. 

 O tradutor conta que começou a se interessar pelo inglês quando tinha ainda 12 anos por conta da música. “Sempre gostei de músicas em inglês, logo me senti atraído pelo idioma. Estudei a língua inglesa por oito anos em dois cursos que fiz”, revela.

Reportagem de Leanderson Lima

Redação

Jornal mais tradicional do Estado do Amazonas, em atividade desde 1904 de forma contínua.
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