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Maestro Jeremias Dutra é homenageado em documentário

Quem viu o começo da TV Ajuricaba, no início da década de 1970, em Manaus, com certeza lembra do programa local ‘Peneira Ajuricaba’, de calouros. Entre os músicos que acompanhavam os candidatos a cantor, um se destacou pela versatilidade e o conhecimento musical que possuía, Jeremias de Moraes Dutra, o Jerê. No próximo dia 27, no Palacete Provincial, acontece a estreia do documentário ‘Jerê, o maestro itinerante’, que conta a história deste mato-grossense, de Cuiabá, que veio para Manaus em 1968, a trabalho, para ficar dois meses, e está aqui até hoje.

“Jerê veio pra reinauguração da boate Acapulco. Me disse que o plano era ficar dois meses, mas uma vez em Manaus, começou a se inserir no cenário cultural da cidade, depois casou e não foi mais embora”, contou Raphael Moraes, que também é músico, mas dirigiu e roteirizou o documentário.

O itinerante é porque Jerê, antes de vir para a capital amazonense, já havia circulado pelo Brasil e mesmo aqui foi um dos músicos mais atuantes de sua época, tendo integrado diversos conjuntos (como se falava antigamente) como Show 6, Som Livre, Blue Birds, Contatos Imediatos, Cardeais, e Embaixadores. Integrou a big band do maestro Dirson Costa, além de ter acompanhado diversos artistas locais e nacionais, em seus shows, como Kátia Maria e Eduardo Salgado, Altemar Dutra, Rogéria e Alcides Gerardi. Dentre os fatos marcantes de sua carreira consta ter tocado piano no jantar em homenagem ao presidente Costa e Silva, quando de sua visita a Manaus, em 1968.

“O principal legado do Jerê são suas composições. O maestro possui aproximadamente mil obras entre choros, peças para violão e piano e temas de jazz e bossa nova, composições essas praticamente nunca gravadas”, disse Raphael.

Raphael Moraes, “o principal legado do Jerê são suas composições” – Foto: Divulgação

Oito meses de gravação

Além de compositor profícuo, Jerê foi orientador e professor de muitos músicos hoje atuantes no cenário musical amazonense como Rinaldo Buzaglo e Roberto Dibo.

“Foi uma das pessoas que mais me influenciou musicalmente”, falou Rinaldo Buzaglo, músico e professor.

“O Jerê, além de ser um grande músico, sempre procurou dividir o conhecimento com a gente”, completou Roberto Dibo, também músico e professor.

“Fica o exemplo de um profissional da música que sempre produziu muito, seja tocando, ensinando ou compondo”, lembrou Raphael.

A realização do documentário, uma parceria com a Audio Prime Studio e a DVA Filmes, só foi possível graças ao patrocínio conseguido via Edital Prêmio Manaus de Conexões Culturais, da prefeitura, através da Lei Aldir Blanc.

As gravações começaram em dezembro passado e, devido à pandemia, todo mundo gravou de luvas, máscaras e com distanciamento social. Os trabalhos duraram oito meses e entre os entrevistados, Leonardo Martins, Rinaldo Buzaglo, Roberto Dibo, Marcell Motta, Rosivaldo Cordeiro, Beto Blue Birds e, lógico, Jerê. A ideia para filmar ‘Jerê, o maestro itinerante’ surgiu por acaso na cabeça de Raphael. Carioca, ele chegou a Manaus em 2014 e logo procurou conhecer o cenário cultural da cidade, os músicos e os ‘fazedores’ de cultura. Praticamente todos eles perguntavam a Raphael se ele conhecia Jerê. Claro que não conhecia.

Os trabalhos de gravação do documentário duraram oito meses – Foto: Divulgação

“Aí teve uma vez que eu falei: rapaz, eu preciso conhecer esse Jerê. Falei com o Rinaldo Buzaglo e ele me levou na casa do Jerê. Foi amizade à primeira vista. Fiquei encantado com a qualidade musical das composições do maestro, tanto que eu toquei uma peça dele, no violão, no meu recital de formatura da faculdade”, lembrou.

“O Jerê é um daqueles compositores raros hoje em dia. A partir daí mergulhei em saber mais sobre sua história musical que, de tão rica, resultou no documentário”, informou.

Venerado por seus pares

Mais de 50 anos de composições e Jerê não tem um único disco solo gravado. Uma de suas músicas pode ser ouvida num dos discos do grupo de chorões Aldeia do Choro. Num outro disco do grupo, todas as composições são dele. Ele guarda suas obras em casa, manuscritas, e não se nega a cedê-las para o músico que quiser interpretá-las.

“Pretendo, em breve, fazer um trabalho de edição e gravação de algumas dessas músicas, e quem sabe disponibilizá-las de alguma forma para que as pessoas possam ouvi-las e conhecê-las. O Jerê tem tantas composições que este é um trabalho para a vida inteira”, revelou.

Jerê tem a capacidade de transitar por diversos gêneros musicais tocando vários instrumentos como guitarra, baixo, piano, bandolim e violão de sete cordas. Venerado por seus pares e reconhecido pela sua generosidade, o músico/compositor recebeu uma ‘Honra ao Mérito’ do Centro Cultural Aníbal Beça, de quem foi amigo e parceiro, e foi homenageado no 3° Festival Amazonas de Música, em 2012, realizado no Teatro Amazonas, pela sua contribuição como músico e compositor no cenário musical amazonense.

‘Jerê, o maestro itinerante’ será exibido nos dias 27 e 28, sexta-feira e sábado, no Palacete Provincial, às 19h. O documentário tem a duração de 80m, e a classificação indicativa é para maiores de 15 anos. Ingressos gratuitos podem ser solicitados através do https://forms.gle/ffDxWpntynmSZRtVA

Foto/Destaque: Divulgação

Evaldo Ferreira

é repórter do Jornal do Commercio
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