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Em crise, lojistas de shoppings de Manaus deixam de segurar empregos

Os impactos econômicos da segunda onda de covid-19 estão sendo muito mais avassaladores para os negócios, especialmente para os grupos com lojas nos shoppings de Manaus. Passados mais de 30 dias de portas fechadas, os lojistas estão literalmente de pires na mão. Com dificuldades de fazer frente aos custos fixos, ante uma receita depreciada pela limitação ao delivery, muitos já demitiram. A ausência de incentivos para crédito, por outro lado, está levando a maioria a negociar prazos e consumir capital de giro para sobreviver. 

Empresário especializado em gestão de franquias, Thiago Pinto, conta que, antes da segunda onda, seu grupo era responsável por 29 lojas de calçados, óticas e cosméticos, com 13 anos de mercado, e distribuídas pelo Amazonas, Pará, Roraima, Maranhão e Distrito Federal. A crise, contudo, levou ao encerramento de cinco operações – todas em Manaus, onde ainda restam 14 lojas. Os fechamentos foram acompanhados por demissões em massa: 40% da força de trabalho foi mandada para casa, o equivalente a 57 colaboradores.

Segundo Thiago Pinto, os demais negócios estão sendo mantidos, na crença de que o retorno às operações possa gerar faturamento para compensar o tempo de paralisação. Caso isso não aconteça até abril, prossegue a fonte, o grupo terá de encerrar mais operações. Embora assinale que a necessidade de caixa é imediata, o empresário diz que não buscou crédito, porque isso aumentaria ainda mais a necessidade de caixa futuro. 

“Isoladamente, as operações do Amazonas ficaram estagnadas, em 2020. O intervalo em que voltaram a funcionar, meio que cobriu o tempo fechado. Já no restante do país, a situação é de queda absurda e, mesmo após a reabertura, as vendas continuaram de 25% a 30% abaixo do que fizemos no mesmo período de 2019. A gente ainda conseguiu suspirar no primeiro fechamento, mas neste atual, infelizmente não. Levando em consideração a situação crítica que atravessamos, vamos ter de encontrar a solução internamente, pois não há espaço para novos endividamentos. Espero que o Estado reabra o mais breve possível, com segurança a toda população”, asseverou.

Previsibilidade e campanhas

O sócio diretor da Foto Nascimento, Antonio Kizem Rodrigues, conta que o grupo – tradicional na cidade e com lojas de rua e em shoppings – foi forçado a dispensar 15% de seus quadros de colaboradores e foi obrigado a “bater” férias para quase 60% dos que ficaram em janeiro. Em linhas gerais, ele conta que o delivery permitiu os negócios continuarem a respirar, ajudando a custear a folha e os impostos, mas as vendas do mês equivaleram a 30% dos resultados de janeiro de 2020.

Na análise de Rodrigues, a pandemia trouxe grandes desafios. Um deles é dar maior previsibilidade das mudanças das fases de fechamento/reabertura, pois a grande maioria dos empresários não sabe se dá férias por sete, 15 ou 30 dias, ou se demite. O sócio diretor da Foto Nascimento ressalta, no entanto, que a demissão é a pior decisão para qualquer empresa, pois custa muito treinar e demitir um colaborador.

“Caso o lockdown seja a única solução, o governo precisa fazer um esforço de ajudar as empresas na questão de adiamento dos impostos e algum auxílio de empréstimos a custos baixos. Toda empresa que fechar é pior para a economia. Deve também continuar aumentando exponencialmente a abertura de leitos, além de fazer campanha focada exclusivamente em orientar a população sobre os cuidados para conter a pandemia. Infelizmente, teremos de aprender a conviver com o vírus, até que todos sejam vacinados”, lamentou.

Indagado sobre o futuro imediato dos negócios, o empresário demonstra mais preocupação sobre a mudança de hábitos de consumo decorrentes da pandemia, e o maior uso de tecnologias no varejo, do que em relação aos impactos econômicos da crise da covid-19 em si. “Não pretendo fechar nenhuma loja, mas durante o ano, conforme a vida vá voltando ao normal, estamos sempre analisando os números de cada uma. Pode ser que, com a mudança de hábito do consumidor, migrando cada vez mais rápido para o online, alguma loja venha a acontecer”, conjecturou.

Sobrevivência ou caos

Sócio proprietário dos restaurantes Mercato Brazil e Expresso 73 (antigo Mercado 153), Weber Eduardo da Costa Val conta que está mantendo os negócios graças à renegociações de boletos com fornecedores, à postergação das parcelas dos empréstimos bancários e o consumo do capital de giro em caixa para pagar colaboradores. Conforme o empresário, o giro das duas unidades – ambas situadas no Manaura Shopping e iniciadas em 2009 e 2013, respectivamente – pelas vendas no modo delivery não são suficientes nem para chegar a 3% do faturamento médio com ambos os restaurantes abertos. 

Indagado sobre o balanço que faz dos negócios no ano passado, o empresário prefere não entrar em detalhes e diz que apenas que “2020 é um período para se esquecer” e que apenas conseguiu sobrevier aos impactos econômicos da primeira onda de covid-19. Diz ainda que, no começo do ano passado, a empresa tinha planos de expansão e estava até começando a contratar, já acreditando no retorno econômico. Mas, a pandemia abortou o projeto.

Weber Eduardo conta que não participou da reunião com o governador, ocorrida nesta semana, mas avalia que a abertura para o segmento em que atua será tímida e gradual, embora ele questione os critérios de análise e argumente que sua empresa, assim como outras, fizeram tudo o que foi pedido em termos de prevenção e os casos não aumentaram durante nove meses de operações. Para o empresário, os verdadeiros culpados pela segunda onda seriam os comícios, as festas clandestinas e o desmonte dos hospitais de campanha, entre outros fatores. 

“Estamos mantendo todos nossos quase 50 colaboradores, mas nosso fôlego não resistirá por muito tempo. Defendemos uma reabertura responsável do comércio, seguindo todos os protocolos e, assim, garantindo o sustento daqueles que dependem do trabalho fora de casa para garantirem seus sustentos. É difícil de responder quanto tempo é possível manter a empresa sobrevivendo da forma como estamos atualmente. Mas, se não houver uma ajuda de custo para as empresas, desde impostos a empréstimos de banco, não haverá muito mais o que fazer, porque não há economia rodando na cidade. Vai ser um caos”, encerrou.

Foto/Destaque: Divulgação

Marco Dassori

É repórter do Jornal do Commercio
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