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Livros como um ótimo negócio

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Quem, em plena recessão econômica do país pensaria em investir num negócio que, à primeira vista, não dá dinheiro? Uma livraria, por exemplo. Pois o antropólogo e professor universitário Paulo Queiroz não pensou duas vezes para tornar real um sonho que alimenta há pelo menos oito anos: ter uma livraria. Até o final deste mês Paulo pretende inaugurar a livraria Palavra da Terra, porém, a loja de livros é apenas uma das páginas do livro de ideias que o professor resolveu colocar em prática, tudo envolvendo a literatura. Como Dom Quixote, Paulo enfrenta as adversidades que lhe aparecem, e vai vencendo uma a uma.

Em 2015 ele fundou a Abeppa (Associação Brasileira de Escritores e Poetas PanAmericanos), que reúne 40 integrantes. Agora, além da livraria, vai fundar a Editora homônima e a Aefe (Academia Editorial de Formação de Escritores), mais uma livraria ambulante, que vai circular por toda a cidade a bordo de uma Fiorino.

“Lancei meu primeiro livro, ‘Os fragmentos do céu’, um romance, em 1999. Minha mãe quase me mata porque ela emprestou o dinheiro para pagar a gráfica e depois eu tive que me virar para pagá-la”, lembrou. “Mas vendi todos os 200 livros”, riu.

A iniciativa de Paulo com a Editora Palavra da Terra é uma novidade no Amazonas. “Além de editar livros, vamos assessorar as pessoas que querem lançar um e não sabem por onde começar. Eu tive essa dificuldade com o meu primeiro livro e, com certeza, todos que querem se tornar escritores também têm”, falou.

“Com a assessoria, vamos explicar no que consiste fazer um livro, depois disponibilizaremos todos os demais serviços, tais como: editoração, revisão do texto, diagramação, registro no ISBN, impressão, lançamento, divulgação, venda e distribuição”, adiantou.

“Tive essa ideia porque sou um apaixonado por livros. Amo escrever e quero ajudar as pessoas que querem ser escritores como eu, no começo, não fui ajudado. Com a Abeppa reuni escritores para integrar minha editora. Com a Aefe pretendo formar novos escritores para, futuramente pertencerem à Abeppa e também integrarem a editora”, explicou.

Vergonha e medo
Duas faixas etárias interessam especificamente a Paulo: os adolescentes e a terceira idade. “Os adolescentes estão cheios de ideias e querem colocar tudo pra fora. Eu era assim. São apostas num futuro promissor. Já a terceira idade são aquelas pessoas que têm toda uma história de vida para contar, algumas fantásticas. Conheço várias delas que têm escritos guardados numa gaveta e de lá, certamente, se perderão e, de repente, seria um bom livro”, contou.

“Muitas vezes as pessoas têm vergonha, e até medo, de mostrar o que escrevem. Conheci um mecânico e quando ele viu o símbolo da Palavra da Terra no meu carro, perguntou se eu mexia com aquilo, de escrever livros. Eu disse que sim e ele me chamou num canto pra mostrar as poesias que escrevia, mas tinha vergonha de mostrar porque os colegas iam dizer que ele era ‘viado’. Conheço outras que até a família desdenha, gozando quando dizem que querem ser escritoras, que querem escrever livros. Parece brincadeira, mas isso acontece demais, e não é bom”, disse.

“Com a Aefe, queremos que isso acabe. Na Academia o pretendente a escritor cursará 11 disciplinas, entre elas: Inventividade Textual, Introdução à Língua Portuguesa Básica, Interpretação Pessoal e Criatividade Individual. Ao final do curso, com certeza ele estará apto a escrever seu primeiro livro. O tempo e o talento, se tiver, farão o resto”, ensinou.

Paulo é professor de Antropologia do Direito, Metodologia do Estudo Científico e Literatura Comparada. E é das universidades que começam a chegar os primeiros trabalhos da editora. “Geralmente os mestres e doutores querem ver suas teses e dissertações transformadas em livros. Nós fazemos isso. Agora mesmo estou trabalhando na tese de um professor e já está na vez a de uma doutora”, falou.

A livraria ambulante
Paulo ocupa duas salas localizadas no Shopping Eldorado, no Parque 10. Numa funciona a Abeppa, a editora e a Aefe. “São a nossa sede. Nossos eventos, lógico, são realizados em lugares mais amplos”. Na outra sala funcionará a livraria. “Todos os escritores amazonenses poderão deixar seus livros aqui, em consignação, mas teremos outros livros, de escritores nacionais e internacionais. Haverá uma seção que se chamará ‘Sebito da Palavra’, um sebo, porém, somente com livros seminovos. Mas o nosso grande xodó será a livraria ambulante, com os livros sendo levados para qualquer ponto da cidade numa Fiorino envelopada, os atendentes uniformizados e pagamentos feitos no cartão. Vamos ser profissionais”, garantiu.

Para marcar a abertura oficial da editora, da livraria e da Aefe, a Palavra da Terra lançará o quinto livro de Paulo: o romance ‘A filosofia dos tropeços’. Além do primeiro, de 1999, ele já tem dois outros, de poesias: ‘Ruídos de Silêncio’, em 2002; e ‘Águas Viajantes’, em 2014. “Também lançaremos outro livro meu, ‘Acordes da Alma: a epopeia do poeta Ronaldo Barbosa’, uma homenagem que faço a esse grande poeta e compositor do Caprichoso. São mais de 500 poesias de Ronaldo, cada uma com uma ilustração e uma descrição antropológica feita por mim”, adiantou.

Como escreveu, certa vez, Graciliano Ramos: “Comovo-me em excesso, por natureza e por ofício. Acho medonho alguém viver sem paixões”.

Redação

Jornal mais tradicional do Estado do Amazonas, em atividade desde 1904 de forma contínua.
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