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Livros aonde o povo está

Livros aonde o povo está

“Todo artista tem de ir aonde o povo está”, cantou Milton Nascimento em ‘Nos bailes da vida’. Pois foi partindo deste princípio que o livreiro Celestino Neto, depois de anos apenas sonhando, resolveu transformar seu sonho em realidade: lançar pelas ruas de Manaus, e até fora dos limites da cidade, o ‘Alienista sobre rodas’, uma kombi recheada de livros, vinis, CD’s e pequenas peças de colecionismo que se fará presente onde houver um lampejo de cultura, ou de pessoas que sejam apaixonadas pela leitura.

Kombi roda recheada de vinis, livros, CD’s e outras coleções

Celestino entra para a história da cultura amazonense como um dos primeiros donos de sebo na cidade e o mais antigo em atividade nessa nobre missão de levar a literatura a pessoas de todos os níveis sociais, das mais abastadas financeiramente às com o mínimo de dinheiro para adquirir um livro. Já se vão 30 anos vendendo livros aqui, ali e acolá.

“Comecei nos corredores da Ufam, vendendo para os universitários, no final da década de 1980 e início da década seguinte. Naquela época já havia outros vendedores naqueles espaços, mas dava pra todo mundo. Foi ali que verifiquei que podia ganhar algum dinheiro com aquele trabalho e mexendo com algo que eu gostava muito, os livros”, recordou.

No início dos anos de 1990, jovem, cheio de energia e em busca de aventuras, Celestino resolveu ir conhecer o Nordeste. Seguiu para Belém e de lá para Salvador e Fortaleza. Para sobreviver, vendia… livros. Era o que sabia fazer bem.

“Eu sempre gostei de escrever poesias, então descobri uma maneira simples e barata de ganhar dinheiro, principalmente porque estava no Nordeste: escrever cordéis. Eu produzia os livretos com minhas poesias e os vendia nas orlas das praias. Para aumentar a renda, comprava livros em sebos, também ganhava de amigos que fiz por lá, e os revendia”, contou.

Sonhando com a kombi

Diariamente Celestino saía para as praias levando cinco, seis livros, mais os seus cordéis e os vendia. Assim ia se mantendo.

“Mas essa vida não era só flores. Tinha dias que vendia tudo, mas em outros dias não vendia nada, e ficava sem dinheiro, ainda assim foi uma experiência bastante válida. Fiquei seis anos no Nordeste”, disse.

Livreiro botou para circular nas ruas de Manaus ‘Alienista sobre rodas’

De volta a Manaus, Celestino veio disposto a se tornar um livreiro. Ainda arrumou um emprego, onde ficou por três anos, mas depois retomou suas vendas nos corredores da Ufam, e inaugurando aquela que pode ser considerada o início de seu sebo, uma banca da praça Helidoro Balbi (da Polícia), onde conseguia reunir dezenas de títulos e começou a formar uma legião fiel de clientes. A maioria, até hoje, compra livros com ele.

“Essa banca foi realmente o começo de tudo, pois comecei a me estruturar. Muita gente vinha, e vem até hoje, negociar venda de livros e com isso o meu acervo foi crescendo e atendendo a um número cada vez maior de clientes. Era o final da década de 1990 e, além da praça da Polícia, eu agora organizava a banca na Ufam”, revelou.

Em 2000 foi inaugurada a Feira de Artesanatos da Eduardo Ribeiro e Celestino conseguiu uma barraca no espaço. Era um período em que, internet começando em Manaus, os livros ainda vendiam bem. No final daquela década surgiu ‘O Alienista’ quando, em 2009, Celestino fez jus a uma banca cedida pela Secretaria de Cultura, inteiramente de metal, coberta e fechada, na praça Heliodoro Balbi e acabou com a antiga banca, que não passava de uma mesa improvisada.

“Desde sempre eu sonhava com uma kombi, não só para levar e trazer os livros de casa, mas para poder me fazer presente onde houvesse algum evento literário e cultural”, disse.

Celestino Neto, depois de anos apenas sonhando, resolveu transformar seu sonho em realidade

Ajuda dos amigos

Finalmente este ano, mesmo com a baixa venda de livros, não só pela pandemia, mas pela mudança de hábito das pessoas, que cada vez lêem menos livros, Celestino adquiriu a kombi. Este domingo, 13, o veículo fará sua estréia na Eduardo Ribeiro.

“A kombi veio facilitar a minha locomoção e vai substituir a barraca da Feira, onde eu tinha que chegar cedo, armá-la, pagar aluguel, comprar café da manhã, almoço, depois desarmá-la na hora de ir embora. Com a kombi, a logística ficou super reduzida. Ela vai ficar posicionada nas proximidades da Feira”, explicou.     

Mas o veículo ainda precisa de alguns reparos e é nessa hora que se conhece os amigos. Escritores e artistas plásticos se uniram para dar uma alavancada no ‘Alienista sobre rodas’.

“Este domingo o multiartista Marcos Ney irá expor para venda algumas telas de sua autoria e seu livro ‘Sindicato dos pés inchados’. Uma parte da venda ele doará para os reparos que a kombi está precisando. Nos próximos domingos outros artistas já se dispuseram a estar aqui, ajudando no projeto. Quem quiser prestigiar, estaremos na frente do Santander, ao lado do edifício Cidade de Manaus, por toda a manhã”, avisou.

A partir de agora, o ‘Alienista sobre rodas’ irá circular pela cidade e pegará as estradas para chegar aos demais 12 municípios da Região Metropolitana.

“Onde houver alguém que goste de ler, lá estaremos nós com livros, vinis e CD’s levando cultura”, finalizou.

Evaldo Ferreira

é repórter do Jornal do Commercio
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